O quê é que há a respeito de Judeus Cristãos ou Cristãos Judaicos?

 

O quê é que há a respeito de Judeus Cristãos ou Cristãos Judaicos?

 

Fritz Voll

 

Resumo

 

 

 

A comunidade judaica está adamantinamente oposta à idéia de que alguém se possa converter à Cristandade e ainda permanecer judeu. Judeus convertendo-se à Cristandade não estão sendo mais considerados parte de vida judaica.

 

 

 

As Igrejas estão prestes pelo princípio de aceitar a auto-definição de outros grupos religiosos. Aqueles que se chamam de Judeus Messiânicos, Cristãos Hebreus ou Judeus para Jesus têm de ser aceitos no seu direito próprio. No entanto, cada grupo não deveria ser considerado sendo representativo da comunidade cristão. Relacionamentos Igreja-Judeus dependem em relações diretas entre as Igrejas e grupos judaicos.

 

 

 

Convertimentos judaicos à Cristandade têm uma história muito longa e diversificada pela comunidade cristã e nem os protegia de anti-semitismo.

 

 

 

Em anos recentes, as Igrejas associadas com o Conselho Mundial de Igrejas se moviam fora da missão e conversão em relações inter-fés, procurando diálogo entre parceiros iguais.

 

 

 

Algumas Igrejas evangelicais ou fundamentais tentam ainda evangelizar judeus ou apóiam grupos que o fazem. A finalidade do diálogo judaico-cristão apresentado nestas páginas é entendimento e aprender mútuos, não converter.

 

 

 

A comunidade judaica considera judeus convertidos como sendo cristãos

 

 

 

Para o Judaísmo, a matéria de conversão está bem clara: um judeu que se junta à Igreja cristã não pode mais ser membro da comunidade judaica. Se um judeu chega a aceitar a divindade de Jesus ou um entendimento trinitário de Deus ou iniciação para a comunidade cristã pelo batismo, coisas essas estão sendo consideradas antitéticas ao Judaísmo. Judeus convertidos argüiram que até judeus seculares ou ateístas estão sendo ainda considerados como membros da comunidade judaica, porque não judeus que diferem de outros judeus religiosos somente na sua fé em Jesus Cristo? Uma posição tal pode ter sido possível no primeiro século da EC (Era Comum), antes que a Igreja era firmemente estabelecida como comunidade gentílica e antijudaica. Depois de dois mil anos de de inimizade intensa entre as duas comunidades e depois de que essas se desenvolveram separadamente como religiões distintas, podem, na melhor das hipóteses, parceiros iguais, na pior, permanecerão contradições uma da outra. Alguns teólogos cristãos expressaram cautelosamente a esperança de que judeus convertidos pudessem um dia chegar a ser ponte entre as duas comunidades. Para judeus, isso é idéia inaceitável. E está questionável o que cristãos iriam ganhar de conversões com gente que claramente iria querer representar ambas as comunidades.

 

A história da missão cristã aos judeus

 

 

 

Em séculos passados, judeus foram muitas vezes forçadamente batizados sob ameaça de tortura e morte. Crianças judaicas foram levadas embora dos seus pais para serem educadas em lares cristãos. Congregações judaicas foram por vezes mandadas para ouvirem a pregadores cristãos nas suas próprias sinagogas. Debates entre cientistas judaicos e cristãos foram arranjados para provar a superioridade da fé cristã sobre aquela do Judaísmo.

 

 

 

O Grande Despertar (cristão) do século dezenove criou muitas associações que eram preocupadas com “missão aos judeus”. A cinética desse movimento estendeu-se para dentro do século vinte e, entre outras coisas, influenciou a obra do Conselho Missionário Internacional (IMC = International Missionary Coucil). Começando em 1927, o IMC formou o Comitê sobre a Aproximação Cristã aos Judeus (IMCCAJ = Internacional Mission Coucil Comiittee on the Approach to the Jews), contraindo associações e sociedades diversas com esse trabalho missionário. Esse Comitê era influencial nos anos pré-guerra, participando nas reuniões que eventualmente levaram à formação do Conselho Mundial de Igrejas (WCC = World Coucil of Churches). O Comitê reconhecia que muitos convertidos continuassem a seguir tradições judaicas e que muitos não se sentissem plenamente aceitos em congregações eclesiais, onde ensino e pregação antijudaicas nunca estavam sendo questionadas. Quis saber “o que fazer com” judeus convertidos. Depois de muito debate, o Comitê se opôs ao estabelecimento duma Igreja separada feita por convertidos. Solicitou as Igrejas a integrarem judeus convertidos para dentro da sua vida congregacional. (Para a história do Comitê veja Allan … no texto inglês!)

 

Como racistas tratam judeus convertidos

 

 

 

Na Europa nas décadas dos anos de 1930 e 40, as políticas raciais anti-semitas dos nazistas foram aplicadas igualmente a judeus, a judeus convertidos a Cristandade e a descendentes de judeus convertidos. Todos foram considerados como sendo judeus, sendo perseguidos conformemente. As Igrejas foram forçadas a demitirem os seus pastores que eram de origem judaica. Enquanto oficialmente as Igrejas fizeram pouco para ajudar os seus membros que eram convertidos judaicos ou descendentes de convertidos judaicos, cristãos individuais e congregações tentavam assisti-los a fugirem de países sob regime nazista. A comunidade judaica considerava os convertidos como sendo cristãos e não lhes oferecia assistência nenhuma durante o Holocausto, nem depois. Em alguns países da Europa ocidental, judeus convertidos encaravam ainda descriminação racial como a enfrentavam os judeus mesmos.

 

De missão a diálogo

 

 

 

O Comitê sobre a Aproximação Cristã aos Judeus continuou operar depois da Segunda Guerra Mundial. Com a fundação do Estado de Israel, o WCC emergente foi pressionado pelas Igrejas no Médio Oriente por suporte político contra ações do estado judaico. A representatividade do movimento missionário apontou ao Conselho Mundial o assunto teológico especial de que a Igreja tem de participar em relação a Israel. Alguns até começaram a dizer que os judeus não devessem ser incluídos na missão cristã. “São os judeus incluídos em ‘todas as nações’? Não. De fato, nos Testamentos Antigo e Novo, a expressão ‘todas as nações’ designa povos não-judaicos, ‘gentílicos’. Israel está sendo distinguido de todas as nações pelo fato de que Deus o elegeu e o chamou de ‘Meu povo’.” (Wilhelm Vischer em 1956, citando a Grande Comissão, Mateus 28,19, citado em Brockway, For Love of the Jews, p. 147, nº 3). Os próprios missionários pavimentaram atualmente o caminho para um entendimento novo do relacionamento cristão-judaico. Em 1961, o IMCCAJ era plenamente integrado no Conselho Mundial de Igrejas junto com o Conselho Missionário Internacional. O IMCCAJ chegou a ser o Comitê sobre a Igreja e o Povo Judaico. Uma aproximação nova pelas Igrejas ao relacionamento cristão com o povo judaico encontrou expressão na recomendação do Comitê Executivo do WCC para abandonar missão a favor de diálogo.

 

Judeus convertidos: Judeus Messiânicos, Cristãos Hebraicos, Judeus para Jesus

 

 

 

Mesmo nos dois primeiros séculos, congregações de cristãos judaicos (p.ex. os nazarenos os ebionitas etc.) encaravam oposição tanto da comunidade judaica como da Igreja gentílica. Não participavam no desenvolvimento do Judaísmo rabínico nem naquele da Igreja cristã. Algumas congregações cristãs na Síria duravam até o século sete, mas desapareceram com o surgimento do Islame. Grupos de judeus convertidos hoje podem participar do fado da rejeição dessa Cristandade judaica primitiva pela comunidade judaica e aceitação embaraçada pelas Igrejas cristãs.

 

 

 

Algumas Igrejas evangelicais e muitas fundamentalistas, não associadas com o WCC, estão ainda cometidas para evangelizar judeus. No lugar de serem automaticamente integrados nas congregações cristãs existentes, judeus convertidos estão sendo suportados se quiserem formar as suas comunidades próprias. A teologia por trás desses movimentos relativamente novos é dispensacionalista e escatológico. (Para a idéia de dispensações veja … no texto inglês.) A esperança escatológica é que Israel como um todo será “salvado” um dia, isso sendo interpretado como significar que o Judaísmo aceitará Jesus como Messias. Dispensacionalmente, está sendo crido que a conversão de Israel está começando com movimentos como os “Judeus Messiânicos” (Romanos 11,25-26). Em Israel, tais grupos encaram rejeição oficial. Evangelisticos associados com eles estão sendo acusados de tomar vantagem daqueles judeus que cresceram em ambientes ateístas ou têm pouco conhecimento do Judaísmo. Reciprocamente, de Romanos 9-11, a Igreja Católica Romana e e muitas das Igrejas associadas com o Conselho Mundial de Igrejas reconhecem que a aliança de Deus com Israel como um todo não foi ab-rogada; o Judaísmo (isto é o todo de Israel) está sendo visto como criança igual à Cristandade. (Veja H. Henrix, The covenant foi nunca revogado [A aliança nunca foi re-vogada]).

 

Onde é que estamos?

 

 

 

Igrejas membros do Conselho Mundial de Igrejas se beneficiavam das aprendizagens das consultações do WCC com representantes da comunidade judaica. Muitas delas aprovam a declaração do Comitê Executivo do WCC intitulado Ecumenical Considerations on Jewish-Christian Dialogue [Considerações Ecumênicas sobre o Diálogo Judaico-Cristão]. Aqui, evangelismo e conversão estão sendo abandonados a favor de diálogo e testemunho mútuo. Enquanto diálogo possa levar as duas comunidades mais perto uma à outra para cooperação em metas comuns, tende também para aprofundar o conhecimento e cometimentos de fé dos participantes. Com muitos judeus, cristãos compartilham a esperança para um mundo melhor dentro do regime de Deus, querem operar juntos aqui e agora para justiça, paz e a preservação da criação. Em diálogo, judeus e cristãos procuram relacionamento amigável que os vá ajudar a aprenderem uns dos outros e a corrigir as imagens distorcidas que surgiram durante a longa história da sua animosidade.

 

 

 

Literatura relacionada: veja no texto e no fim do texto inglês!

 

 

 


 

Texto inglês

 

Tradução: Pedro von Werden SJ – Rua Padre Remeter, 108 – Bairro Baú - 78008-150 Cuiabá-MT – BRASIL – pv-werden(at)uol.com.br