Guia para o diálogo Católico-Judaico no Brasil -

Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico-judaico. 30 de junho de 1986

Guia para o diálogo Católico-Judaico no Brasil

 

Estudos da CNBB – 46 p3

 

 

 

ÍNDICE

 

Guia para o diálogo Católico-Judaico no Brasil

 

APRESENTAÇÃO

 

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

2. BASES DO JUDAÍSMO

 

 

 

Povo

 

Terra

 


 

Correntes ideológicas

 

 

 

3. FESTAS E TRADIÇÕES JUDAICAS

 

4. CRISTIANISMO E JUDAÍSMO

 

5. HISTÓRIA DAS RELAÇÕES DA IGREIA COM O JUDAÍSMO

 

 

 

A. Da convivência à polêmica

 

B. Da polêmica ao proselitismo

 

C. A oficialização do cristianismo

 

D. Preconceitos e movimentos antijudaicos

 

E. Transição aos tempos modernos

 

F. Pronunciamentos da Igreja antes do Holocausto

 

G. Do Holocausto a Seelisberg

 

H. Do Vaticano II até os nossos dias

 

 

 

6. COMUNIDADE JUDAICA NO BRASIL

 

7. QUESTOES PRÁTICAS

 

 

 

A. Catequese

 

Raízes e herança judaica

 

O respeito pelas Escrituras

 

Tradição oral – Toráh oral

 

Judaísmo no tempo de Jesus

 

B. Convivência

 

Item A – A luta contra o preconceito

 

Item B – Conhecendo o judaísmo

 

Item CFontes de estudos sobre a Mishnáh e o Talmud

 

Item DSofrimento

 

C. Casamentos mistos

 

 

 

8. OBJETIVOS E MEIOS PARA PROMOVER O DIÁLOGO

 

 

 

Instituições

 

Internacionais:

 

Ocasiões de contatos para conhecimento

 

Objetivos para a sociedade

 

Formação nos cursos de Teologia e Catequese

 

 

 

9. DOCUMENTOS OFICIAIS

 

 

 

Vaticano

 

1. Declaração "Nostra Aetate" do Concílio Vaticano II sobre as relações

 

da Igreja com as Religiões não-cristãs

 

A Religião Judaica, n. 4

 

2. Orientações e sugestões para a aplicação da Declaração conciliar sobre as

 

relações da Igreja com as Religiões não-cristãs ("Nostra Aetate" n. 4)

 

a) O Diálogo

 

b) A Liturgia

 

c) Ensino e educação

 

d) Ação social em comum

 

Conclusão

 

3. Notas para uma correta apresentação dos judeus e do judaísmo na pregação e na

 

catequese da Igreja Católica

 

Considerações preliminares

 

I. Ensino religioso e judaísmo

 

II. Relações entre Antigo e Novo Testamento

 

III. Raízes judaicas do cristianismo

 

IV. Os judeus no Novo Testamento

 

V. A liturgia

 

VI. Judaísmo e cristianismo na história

 

VII. Conclusão

 

CELAM

 

Encontro Católico-judeu em Bogotá, 19 a 21 de agosto de 1985

 

Conclusões

 

1. Princípios básicos

 

2. Urgências

 

3. Realidade de nossas desconfianças

 

a) Da parte cristã

 

b) Da parte judaica

 

4. O diálogo

 

a) Níveis

 

b) Áreas

 

● Educação

 

● Área religiosa

 

● Área social

 

● Família

 

5. Atividades

 

6. Documentos básicos

 

BRASIL

 

1. Orientações para os católicos no relacionamento com os judeus no Brasil

 

2. Declaração da I Conferência Pan-americana de Relações Católico-judaicas,

 

I. Histórico

 

II. Resoluções

 

 

 

10. BIBLIOGRAFIA BÁSICA

 

 

 

A – História do Povo Judeu

 

B – Judaísmo

 

C – Anti-semitismo e Holocausto

 

D – Judeus no Brasil

 

E – Diálogo cristão-judaico

 

 

 

11. GLOSSÁRIO

 

 

 


 

 

 

Temos a satisfação de oferecer ao público brasileiro o primeiro Guia de

 

orientação para o diálogo católico-judaico no Brasil. Na qualidade de responsável

 

pelo Setor de Ecumenismo e Diálogo Religioso na Comissão Episcopal da Pastoral da CNBB,

 

sentimo-nos grato e esperançoso diante de tal iniciativa que vem corresponder a uma

 

necessidade no campo das relações inter-religiosas.

 

Esta publicação é o resultado do trabalho conjunto dos membros da Comissão Nacional

 

do Diálogo Religioso Católico-judaico que durante vários meses assumiu os diversos

 

tópicos apresentados neste Guia. Cada capítulo mantém as características específicas de

 

conteúdo e de estilo do respectivo autor ou redator, sem que houvesse a preocupação de

 

reunir todas as contribuições sob uma única forma de redação. Não pode por isso o

 

leitor estranhar certas diversidades e particularidades que se observam no tratamento dado a

 

cada um dos temas. Todas as contribuições conservam o mesmo espírito que inspira o

 

verdadeiro diálogo entre católicos e judeus, e passaram, antes de sua redação, pelo

 

crivo das análises e das críticas de todos os membros da Comissão.

 

Colaboraram, da parte católica: Frei Leonardo Martin, Padre Humberto Porto, Padre

 

Ilário Mazzarolo, Padre Joaquim Salvador, Padre Mário Colombo e as Irmãs Isabel Sampaio

 

Wilken e Judite Paulina Mayer. Da parte judaica: Rabino Henry I. Sobel, Rabino Michael

 

Leipziger e Sr. Hugo Schlesinger. Externamos nosso agradecimento, em nome da Igreja do

 

Brasil, a estes dedicados e desinteressados promotores do diálogo católico-judaico.

 

A preocupação desta publicação foi fornecer condensadamente os subsídios básicos

 

para o conhecimento do judaísmo e das questões ligadas ao diálogo da Igreja com os

 

judeus. Não se trata de uma obra exaustiva, nem tem a pretensão de abordar questões

 

teológicas que podem suscitar discussões entre os especialistas. O Guia oferece os

 

elementos fundamentais para o trabalho a ser desenvolvido nas comunidades, deixando margem a

 

ulteriores aprofundamentos, conforme as sugestões bibliográficas que são apresentadas no

 

final.

 

Esperamos que esta publicação, lançada no 20° aniversário de "Nostra

 

Aetate" do Concílio Ecumênico Vaticano II, contribua para o desenvolvimento das

 

relações fraternas entre católicos e judeus em nossa pátria.

 

Brasília-DF, 30 de junho de 1986.

 

Sinésio Bohn

 

Bispo Responsável da CNBB pelo Ecumenismo e Diálogo Religioso

 

 


 

 

Estudos da CNBB – 46

 

1. INTRODUÇÃO

 

No dia 27 de fevereiro de 1981, por iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do

 

Brasil, formou-se pela primeira vez uma Comissão Nacional de Diálogo Religioso

 

Católico-judaico. A Comissão se reúne mensalmente em São Paulo, com cinco porta-vozes

 

ativos de cada lado.

 

Em 1982, a pedido da CNBB, elaboramos um esboço contendo "Orientações para a

 

Igreja Católica no Brasil em seu Relacionamento com os Judeus". Foi com base nesse

 

esboço que a Comissão elaborou um documento final que, aprovado, foi publicado no

 

Comunicado Mensal da CNBB, em outubro de 1983. Entre outros pontos, as Orientações

 

destacam a necessidade de um "diálogo inspirado por sadio desejo de conhecimento

 

recíproco e mutua compreensão.

 

Para facilitar esta mútua compreensão, a Linha 5 da CNBB, de Ecumenismo e Diálogo

 

Religioso, julgou oportuno que nossa Comissão desenvolvesse um Guia com o propósito de

 

implementar as orientações e sugestões acima mencionadas, e ajudar os católicos no

 

Brasil a conhecerem melhor os anseios históricos, religiosos e nacionais do povo judeu.

 

Este Guia, juntamente com dois outros – Guia ecumênico (recentemente revisado) e o

 

Guia ecumênico popular (Estudos da CNBB n.° 21 e n.° 28) – constituem os

 

primeiros de uma série planejada para reforçar o diálogo da Igreja com os não-cristãos.

 

A importância deste Guia é óbvia. O judaísmo, como berço do cristianismo, é

 

geralmente desconhecido. Há muitos preconceitos a respeito. E aos olhos de muitos

 

cristãos, o judeu é alvo de proselitismo. Pior ainda, mesmo depois do lamentável e

 

horrível Holocausto sofrido pelo povo judeu neste século, continuam movimentos e atitudes

 

anti-semitas no mundo inteiro.

 

Nosso texto, longe de pretender ser todo-abrangente, aborda a história do diálogo

 

inter-religioso, os fundamentos teológicos da fé judaica, as correntes ideológicas no

 

judaísmo contemporâneo, a catequese católica em relação aos judeus, os meios de

 

promover a aproximação, o assunto dos casamentos mistos, questões sociais de interesse

 

mútuo e o momento histórico que atualmente o país está vivendo. Foi também incluída

 

uma bibliografia, como incentivo para estudos mais aprofundados.

 

Vinte anos atrás, os bispos da Igreja Católica Romana, reunidos no Concílio Ecumênico

 

Vaticano II, repudiaram a acusação de deicídio contra os judeus e condenaram formalmente

 

o anti-semitismo. Sua declaração histórica, "Nostra Aetate", n. 4, afirmava:

 

"A Igreja (...) deplora os ódios, as perseguições, as manifestações anti-semitas

 

dirigidas contra os judeus em qualquer época e por qualquer pessoa". Um registro

 

valioso dos passos que levaram à promulgação deste documento está contido em Os

 

protocolos do Concílio Vaticano II: sobre os judeus da autoria do Padre Humberto Porto.

 

Desde o Concílio Ecumênico Vaticano II, as barreiras de desconfiança mútua foram

 

gradativamente se dissolvendo. De 1965 até hoje, estabeleceram-se mais contatos positivos

 

do que em todos os 1900 anos anteriores. O papa João Paulo II, em recente encontro com uma

 

delegação judaica, declarou: "Estou convencido – e fico feliz por afirmar isto –

 

de que as relações entre judeus e católicos melhoraram radicalmente nestes últimos anos.

 

Onde havia ignorância, e portanto preconceito, hoje há crescente estima e respeito

 

recíproco".

 

Somos todos herdeiros do Vaticano II. O Concílio alterou irreversivelmente a maneira

 

pela qual nos enxergamos uns aos outros. Publicamos este Guia em comemoração ao 20°

 

aniversário de "Nostra Aetate", conscientes dos resultados positivos alcançados

 

nestas duas décadas e determinados a prosseguir a caminhada rumo a um futuro de

 

fraternidade, harmonia e paz.

 

Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico-judaico

 

2. BASES DO JUDAÍSMO

 

Povo

 

Os termos "hebreu", "israelita" e "judeu" têm sido usados

 

historicamente como sinônimos. A Bíblia se refere a Abraão como `Ivri (hebreu),

 

porque ele migrou do outro lado (da margem leste) do rio Eufrates, e "`ivri"

 

significa literalmente "do outro lado". Israel, também chamado Jacob, era o neto

 

de Abraão. Seus descendentes passaram a ser conhecidos como "filhos de Israel",

 

ou "israelitas". A palavra "judeu" deriva de Judá, a maior das Doze

 

Tribos que habitavam a região. E assim, o povo é chamado até hoje de "judeu";

 

sua fé – judaísmo; seu idioma – hebreu ou hebraico; e sua terra – Israel.

 

Esse povo, Israel, teve início como uma família, a família de Abraão, o Hebreu, que

 

viveu aproximadamente 3800 anos atrás. O credo monoteísta adotado por Abraão e a

 

"Aliança com Deus" firmada por ele e reafirmada pelos seus descendentes, marcaram

 

essa família como adeptos de uma nova fé.

 

À medida que a família foi crescendo em número e novos membros foram se juntando a

 

ela, aceitando a Toráh, a Lei de Deus, como sua Constituição Divina, e tomando

 

posse da terra que lhes havia sido prometida pelo Soberano do Universo, essa "família

 

global" adquiriu as características de uma nação: um povo falando a mesma língua,

 

habitando uma região geográfica específica, compartilhando memórias comuns e um destino

 

comum.

 

Como base em sua origem, os judeus em toda parte consideram-se, até hoje, como membros

 

de uma grande família. A condição de membro provém da mãe, ou seja, toda criança

 

nascida de mãe judia pertence automaticamente à família. Porém, a família judaica nunca

 

se restringiu à hereditariedade biológica. Ela sempre foi aberta a todos. Qualquer

 

indivíduo que deseja aderir à fé desta família pode ser "adotado" por ela.

 

Convertendo-se ao judaísmo, ele se torna um "filho de Israel", compartilhando

 

plenamente a herança e os privilégios da família, bem como seus fardos e tribulações.

 

Ao aceitar os deveres religiosos do presente e assumir um compromisso espiritual para o

 

futuro, o convertido se vincula também ao passado coletivo da família judaica.

 

Apesar da particularidade do povo judeu, o universalismo permeia toda a fé judaica,

 

refletindo-se em suas formulações teológicas ("Pois minha casa chamar-se-á Casa de

 

Orações para todos os povos", Isaías 56,7; "O Senhor torne esta mulher

 

que entra em tua casa [Rute, a moabita] semelhante a Raquel e a Léa, que fundaram a Casa de

 

Israel", Rute 4,11; "Para que se conheçam na terra os seus caminhos e em

 

todas as nações a sua salvação", Salmos 72,17). Embora, devido às

 

contingências históricas, este universalismo nem sempre possa ter sido sublinhado, a

 

família judaica continua tendo um caráter universal, que se evidencia na própria

 

diversidade étnica e cultural dos seus adeptos. Existem judeus de toda espécie, brancos e

 

negros, orientais e ocidentais, falando uma infinidade de idiomas diferentes.

 

Mesmo assim, os judeus se consideram verdadeiros irmãos, unidos por fortes laços de

 

afinidade, talvez mais místicos do que racionais. Os historiadores e sociólogos nunca

 

conseguiram encaixar os judeus em nenhuma das categorias convencionais. Os judeus obviamente

 

não constituem uma raça, pois raça é uma designação biológica; eles não são apenas

 

adeptos de uma religião, embora certamente o sejam; eles não são apenas uma nação,

 

embora também o sejam. O problema é geralmente resolvido através do termo

 

"povo".

 

Mesmo sendo um povo pequeno, os judeus nunca se afastaram da civilização. Pelo

 

contrário, a história judaica está interligada com a de todas as nações e impérios do

 

mundo. E apesar de serem tantas vezes desprezados, rejeitados, oprimidos e perseguidos ao

 

longo dos séculos, os judeus e o judaísmo desencadearam grandes transformações e

 

avanços revolucionários nas religiões ocidentais, na Ciência e na Filosofia.

 

Para que um povo numericamente insignificante tenha persistido tanto tempo no cenário da

 

história universal, sobrevivendo a tantas tentativas de aniquilamento, deve haver algo de

 

diferente ou especial. O judeu acredita que este "algo especial" é a Aliança

 

entre Israel e Deus. De acordo com a Bíblia, "Deus escolheu o povo judeu dentre todos

 

os povos da terra". O judeu aceita este status com humildade e gratidão,

 

consciente de que tal distinção traz consigo uma enorme responsabilidade. Se os judeus

 

foram escolhidos, é também porque escolheram servir a Deus. E o serviço a Deus assume

 

diversas formas: estudar a Torá, observar fielmente os mandamentos, lutar pelos

 

direitos humanos e por uma sociedade mais justa.

 

Os judeus acham que a missão divina da qual foram incumbidos constitui a própria razão

 

da nossa existência. E tal missão não é fazer com que os outros povos se tornem judeus,

 

mas sim fazer com que todos os povos do mundo, independentemente de suas respectivas

 

crenças, reconheçam a soberania de Deus e aceitem os valores humanos que nos foram

 

revelados por ele. "O dever do judeu", disse Eliel Wiesel, "não é fazer

 

deste mundo um mundo mais judaico. O dever do judeu é fazer deste mundo um mundo mais

 

humano".

 

Somente nestes termos os judeus podem encontrar uma explicação plausível para a

 

sobrevivência do povo judeu diante de tantos obstáculos e ameaças à sua própria

 

existência. E é nestes termos que conseguem descobrir o sentido mais profundo da história

 

do povo de Israel : seu sofrimento, sua dispersão, suas realizações, sua força moral e

 

seu retorno a Sion.

 

Terra

 

O vínculo entre o povo judeu e a terra de Israel nasceu na época de Abraão, quando

 

Deus prometeu o território de Canaã ao Patriarca e seus descendentes, conforme relata o

 

Livro do Gênese.

 

O êxodo dos israelitas do Egito, após um longo período de escravidão e opressão, e

 

sua jornada até a Terra Prometida constituem o cumprimento histórico da Promessa Divina.

 

Somente no solo de Israel, no local escolhido por Deus (o monte Moriá em Jerusalém),

 

poderia ser construído o Santuário permanente do povo judeu; somente no solo de Israel os

 

judeus poderiam realizar plenamente seu potencial como povo; somente no solo de Israel

 

poderia se concretizar a promessa de Deus – desde que os filhos de Israel se mostrassem

 

dignos das bênçãos divinas, obedecendo fielmente aos mandamentos e mantendo-se leais ao

 

Pacto com Deus. Atendendo ao chamado divino, tornando-se um "Povo Santo", sua

 

terra seria então uma "Terra Santa".

 

Após estabelecerem-se pela primeira vez na terra de Canaã há 3200 anos, os israelitas

 

foram repetidamente subjugados por invasores. No século VI antes da Era Comum, os

 

babilônios destruíram o Primeiro Templo e exilaram a maior parte dos judeus. No ano 70 da

 

Era Comum, quando os israelitas já haviam voltado e reconstruído seu Santuário, o Segundo

 

Templo foi destruído pelos romanos, e novamente os judeus foram dispersos pelo mundo afora.

 

Foi então que começou a Diáspora.

 

Entretanto, onde quer que estivessem, os judeus nunca abandonaram a esperança de

 

regressar à sua terra e restabelecer sua independência como nação. Não passava um dia

 

sem que a Terra Santa estivesse presente em seus pensamentos, em seus sonhos, em suas

 

orações. Através dos séculos, a terra foi conquistada sucessivamente pelos bizantinos,

 

pelos árabes, pelos cruzados, pelos turcos e, finalmente, pelo exército britânico durante

 

a Primeira Guerra Mundial.

 

Ao longo de todo esse tempo, alguns judeus às vezes voltavam individualmente à Terra

 

Santa. Porém, uma campanha organizada visando um retorno em massa e o restabelecimento do

 

Estado Judeu só começou a tomar forma no fim do século XIX. A essa campanha deu-se o nome

 

de Sionismo: um movimento pela libertação nacional e pela cristalização da identidade

 

nacional de um povo obrigado durante tantos séculos, a migrar de país em país.

 

Embora nem todos os judeus tenham participado ativamente desse movimento, todo judeu

 

sempre esteve voltado para o ideal de Sion. Neste sentido, todo judeu sempre foi, e continua

 

sendo, um sionista. Porque o anseio de retomar a Sion e reconstruir Jerusalém está

 

inextricavelmente incorporado à fé judaica. Não se trata apenas de um desejo

 

nacionalista, mas sim de um sentimento profundamente religioso, que traz consigo a

 

perspectiva de uma futura era messiânica, uma era de paz para Israel e para toda a

 

humanidade.

 

Bem, se o retorno à Terra Santa é parte essencial de todas as nossas rezas e rituais,

 

se no dia mais sagrado do calendário judaico, Yom Kipur, o Dia do Perdão,

 

terminamos nossas preces clamando "No ano vindouro em Jerusalém!" – não é de

 

se estranhar o impacto emocional causado pela reconstrução do Estado de Israel e o

 

restabelecimento de sua capital única e indivisível em Jerusalém. Mesmo para os judeus da

 

Diáspora, que estão plenamente integrados na vida de suas respectivas pátrias e são

 

totalmente leais a elas, a identificação espiritual com a causa de Israel é uma realidade

 

constante e inabalável.

 

Israel é hoje uma nação dentro das mais nobres tradições democráticas. Uma nação

 

que apresenta a marca inconfundível dos valores judaicos e da cultura judaica, garantindo

 

ao mesmo tempo plena liberdade e igualdade de direitos a todos os seus cidadãos

 

muçulmanos, cristãos, ou de qualquer outro credo. Uma nação na qual se refugiaram quase

 

um milhão de judeus europeus, sobreviventes do Holocausto nazista, e mais de meio milhão

 

de judeus vindos de países árabes, onde a vida se tornou intolerável para eles: Egito,

 

Síria, Iraque, Argélia, Marrocos e Tunísia. Ainda hoje existem países onde as minorias

 

judaicas sofrem discriminações e são proibidas de emigrar. Só nos resta esperar que

 

todas as comunidades oprimidas conquistem em breve sua liberdade, comunidades judaicas e

 

não-judaicas.

 

Que outra nação no mundo contemporâneo fala o mesmo idioma, professa a mesma fé e

 

habita a mesma região de 3000 anos atrás? Não é difícil entender o apego emocional dos

 

judeus à terra de Israel. É uma terra que lhes pertence não só por direito, mas, acima

 

de tudo, porque constitui a concretização de uma profecia bíblica que é o esteio da

 

história, da lei e da fé judaica.

 

 

Nenhum ensaio sobre o povo judeu seria completo sem algumas considerações sobre Deus,

 

sobre o conceito judaico de Deus.

 

"Escuta, ó Israel, o Eterno é nosso Deus, o Eterno é Único" (Deuteronômio

 

6,4). Com estas palavras, nós, judeus, declaramos nossa fé na existência de um Deus

 

Único e Indivisível, Criador do universo e de tudo. que nele existe. Numa ruptura radical

 

com o politeísmo e a idolatria de sua época, Abraão, o Hebreu, foi o primeiro a expressar

 

efetivamente esse credo monoteísta, tornando-se assim o Patriarca da fé judaica.

 

Não que Abraão tenha sido o primeiro ser humano a conscientizar-se dessa verdade

 

espiritual. Segundo os pesquisadores, outros indivíduos antes dele já haviam manifestado

 

uma crença semelhante. Porém, Abraão é considerado o fundador do monoteísmo porque, ao

 

contrário dos anteriores – cujo monoteísmo foi um grande oásis num deserto espiritual,

 

que se ressecou e desapareceu com sua morte –, Abraão dedicou o resto dos seus dias à

 

propagação dessa fé. Ele a transmitiu ao seu filho Isaac; e Isaac por sua vez a

 

transmitiu ao seu filho Jacó (Israel); e este aos seus doze filhos, chefes das Doze Tribos;

 

e daí em diante o monoteísmo ingressou na corrente da história de Israel e de toda a

 

humanidade.

 

A aceitação da existência de Deus é uma questão de fé. Deus é infinito e o homem

 

é finito. Declaramos com fervor nossa fé num Ser Supremo, qualitativa e quantitativamente

 

Único, porque sentimos sua presença na ordem do universo, no milagre da própria vida. Os

 

avanços tecnológicos do homem e sua crescente capacidade de dominar o mundo físico, longe

 

de gerarem em nós alguma dúvida quanto ao papel divino, aumentam ainda mais a nossa fé.

 

Porque, no fundo, todas estas conquistas humanas são provas das múltiplas bênçãos

 

dispensadas pelo Criador às suas criaturas. E não importa o quanto possa ser explicado

 

cientificamente, chega um ponto em que nos deparamos com o mistério. Nas palavras de

 

Abraham Joshua Heschel: "Este Mistério é Deus: impenetrável e indefinível".

 

Nas premissas fundamentais da teologia judaica – isto é, que Deus existe, que ele

 

criou o mundo, que ele se revelou aos filhos de Israel e a toda a humanidade no monte Sinai

 

– embora pertençam a uma esfera espiritual e seus mecanismos sejam desconhecidos, não

 

há nada que possa ser qualificado de irracional. Na formulação do judaísmo, razão e fé

 

não são antagônicas, mas sim, complementam-se mutuamente. Uma preenche as limitações da

 

outra.

 

Segundo a concepção judaica, Deus não tem atributos físicos. As expressões bíblicas

 

"a face de Deus", "a mão de Deus", "o olhar de Deus" são

 

termos usados simbolicamente para traduzir numa linguagem assimilável pelo homem, aquilo

 

que está além da nossa compreensão ("antropomorfismo"). São os atributos

 

espirituais de Deus – sua justiça, sua bondade, sua misericórdia, sua compaixão, seu

 

amor – que o caracterizam como Soberano do Universo, e nos estimulam a seguir uma conduta

 

ética e moral digna daquele a cuja imagem fomos criados.

 

A fé judaica não termina com a Criação. É aí que ela começa. Ela reconhece que

 

Deus continua a desempenhar um papel no universo que ele criou, orientando o comportamento

 

de suas criaturas.

 

No cerne da doutrina judaica está a Revelação de Deus e a promulgação dos seus

 

mandamentos no monte Sinai, após o êxodo dos israelitas do cativeiro no Egito. As leis de

 

Deus estão expressas na Torá, escrita por Moisés sob inspiração divina. Além do

 

Pentateuco (os cinco Livros de Moisés), a vontade de Deus se manifestou também através da

 

Lei oral revelada a Moisés e comunicada verbalmente por ele aos líderes religiosos do povo

 

de Israel. Esta "Torá oral" que esclarece e interpreta os mandamentos

 

contidos na "Torá escrita", foi transmitida de geração em geração até

 

o século II da Era Comum, quando foi compilada e codificada, sendo mais tarde incorporada

 

no Talmud. Num sentido mais amplo, o termo "Torá" inclui também os

 

livros dos Profetas, os Provérbios, os Salmos, o conjunto das Escrituras Sagradas e a vasta

 

literatura rabínica.

 

Embora a Torá se dirija principalmente aos filhos de Israel, ela contém

 

diretrizes para todos os homens, de todos os credos. As leis rituais, relacionadas com a

 

prática religiosa, constituem apenas uma parcela dos seus preceitos. Os mandamentos da Torá,

 

suas regras e estatutos, abrangem todos os aspectos da vida e do comportamento humano,

 

especialmente a ética e a moralidade. São leis "vivas" constantemente

 

reinterpretadas e atualizadas em função do mundo contemporâneo.

 

A Toráh é a constituição do povo judeu. É o alicerce da fé judaica. É o que

 

torna o judeu verdadeiramente judeu.

 

Israel: Povo, Terra e Fé. Uma filosofia existencial de vida, que exige a perfeição

 

ética de cada um de nós.

 

Correntes ideológicas

 

O judaísmo ortodoxo baseia-se na imutabilidade da Halakáh, a lei

 

judaica. Uma lei que é divina em origem e conteúdo. O judaísmo reformista

 

fundamenta-se na mudança. Seu próprio nome implica um judaísmo em desenvolvimento,

 

progressivo e dinâmico. Mais um processo do que um programa, mais uma abordagem do que um

 

credo ou dogma. É a transformação da forma visando o objetivo maior de preservar o

 

conteúdo. O judaísmo conservador procura ser um meio-termo entre os dois. Vivendo

 

com o passado, mas não no passado. Halakáh como ponto de partida, com a

 

abertura necessária que possibilita sua aplicação no mundo contemporâneo.

 

No fundo, trata-se apenas de enfoques diferentes. Nada mais. Não devemos nunca esquecer

 

que existe um único judaísmo, com diversas interpretações.

 

No Brasil, os movimentos reformista e conservador caem dentro de uma mesma categoria mais

 

abrangente, denominada "liberal" ou "progressista". Quando falamos em

 

judaísmo progressista, não estamos nos referindo a um novo tipo de judaísmo, mas sim a

 

uma interpretação que reconhece e ressalta o caráter dinâmico da religião judaica. A

 

corrente progressista dá uma ênfase maior àquela característica que é inerente ao

 

judaísmo em geral: o princípio da progressão gradativa nos conceitos e nas formas da

 

religião judaica. Mesmo assim, o judaísmo liberal tem suas raízes no passado e reconhece

 

plenamente a validade e a dignidade da milenar tradição judaica.

 

Na verdade, a tradição judaica sempre foi interpretativa e progressista. Houve apenas

 

um período entre os séculos XV e XVIII, quando se tentou "congelar" o judaísmo.

 

A lei judaica foi então codificada no Shulehan Aruk, tornando-se

 

rígida. Ser judeu era seguir aquilo que estava escrito nos livros.

 

Quando teve início a emancipação judaica, no século XIX, e os judeus começaram a

 

sair do gueto, essa tradição inflexível deixou de satisfazê-los. Foi então que um grupo

 

de judeus, inicialmente liderados por leigos, resolveu que estava na hora de

 

"descongelar" a tradição. Este foi o princípio do movimento reformista.

 

Essa idéia de adaptar o judaísmo às necessidades contemporâneas não era nada de novo

 

para o povo judeu. Controvérsias entre escolas "conservadoras" e

 

"inovadores" já existiam desde os primórdios da nossa história. E, em todos os

 

casos, o princípio predominante era sempre a liberdade de interpretação. Na verdade,

 

nenhuma forma de judaísmo, em nossos dias, segue exatamente as leis conforme constam na Torá.

 

Os ortodoxos interpretam o judaísmo de um modo; os liberais interpretam de outro.

 

O movimento progressista reafirma o direito e o dever de acelerar o processo de

 

transformação sempre que ela se fizer necessária. Se determinados costumes e práticas

 

deixaram de ser significativos, eles não têm mais razão de ser, e agarrar-se a eles

 

mecanicamente é pôr em perigo a própria sobrevivência do judaísmo.

 

Os liberais insistem em que as alterações na Lei sejam feitas por aquela geração que

 

sente necessidade delas, ao invés de esperar décadas ou séculos até que ocorra alguma

 

modificação perceptível. As gerações de hoje podem e devem manter o judaísmo vivo,

 

atualizando-o e adaptando-o às necessidades espirituais dos nossos dias. É perfeitamente

 

possível ser judeu autenticamente religioso no Brasil, por exemplo, sem ser forçado a se

 

enquadrar em moldes religiosos antiquados.

 

Os movimentos liberais – no Brasil em particular e na Diáspora em geral –

 

proporcionam a milhares de judeus a possibilidade de preservar sua condição religiosa

 

judaica sem ter que observar rigorosamente as minúcias da prática ortodoxa. Neste sentido,

 

as correntes liberais tentam fazer uma contribuição vital à sobrevivência do judaísmo.

 

Muitas das inovações introduzidas na sinagoga pelo movimento reformista europeu e

 

norte-americano foram aos poucos sendo adotadas pelas congregações liberais no Brasil: o

 

uso de instrumentos musicais e coros para acompanhar o serviço religioso; e recitação de

 

várias orações em vez do hebraico original; e a prédica semanal.

 

É importante observar que todas estas inovações são no campo do ritual e da liturgia.

 

Nos pontos fundamentais do judaísmo, entretanto, existe muito pouca divergência real entre

 

ortodoxos e liberais. Todos os judeus religiosos, sejam eles ortodoxos ou liberais, aceitam

 

os conceitos tradicionais sobre Deus, o papel do homem no esquema divino, o papel do Povo de

 

Israel na História, a importância e centralidade da sinagoga na vida judaica. Todos os

 

judeus religiosos compartilham os mesmos valores éticos, todos têm o mesmo Shabat e

 

os mesmos feriados.

 

O judaísmo liberal não é uma desculpa para sair do judaísmo, é um esforço para

 

entrar. O judeu que não se prende à Halakáh, à lei judaica, tem que lutar

 

para definir sua própria condição judaica. A ortodoxia pode ser fácil quando o

 

indivíduo obedece cegamente às regras do judaísmo sem questionar. O judeu liberal, por

 

outro lado, tem que optar entre várias alternativas, e muitas vezes tais opções não são

 

nada fáceis! Um judeu progressista esclarecido e consciente não santifica o passado

 

simplesmente por ser o passado; ele tenta tomar a tradição significativa no mundo de hoje.

 

Dentro de cada área da observância judaica, ele tem a responsabilidade de analisar as

 

exigências da tradição judaica e exercer sua autonomia, aceitando ou rejeitando com base

 

nos seus próprios conhecimentos e no seu compromisso individual.

 

Por exemplo, os fundadores do movimento reformista consideravam desnecessário seguir Kashrut,

 

as leis alimentares bíblicas, porque – segundo eles – essas normas haviam sido

 

estabelecidas em outra época, sob influência totalmente estranha ao contexto social e

 

espiritual do período da Reforma. Hoje, entretanto, um número crescente de judeus liberais

 

no Brasil está observando a Kashrut por razões de identificação judaica.

 

Trata-se, porém, de uma escolha pessoal e não de uma imposição legal.

 

Quanto à Shabat, a maioria dos judeus progressistas não obedece as prescrições

 

legais referentes ao dia do descanso. Para eles, observar o Shabat significa

 

torná-lo um dia especial, diferente dos outros dias da semana: acendendo velas, recitando a

 

bênção sobre o vinho (Qidush), servindo o pão especial (Haláh),

 

reunindo a família para uma refeição festiva, assistindo aos serviços religiosos

 

sexta-feira à noite e/ou sábado de manhã.

 

Em resumo: o judaísmo liberal não é uma espécie diferente de judaísmo. É judaísmo:

 

histórico, clássico, tradicional – porém determinado a se manter sempre contemporâneo,

 

determinado a inspirar o povo judeu a cumprir sua missão como "uma luz para as

 

nações", um modelo de comportamento ético, um parceiro de Deus na construção de um

 

mundo melhor. Aquilo que em hebraico chama-se tiqqún `olám, o aperfeiçoamento da

 

obra da criação.

 

Os antigos profetas de Israel jamais esconderam o fato de que se preocupavam menos com

 

cerimônias e rituais, e muito mais com a proteção aos fracos, aos pobres, aos

 

desamparados, aos oprimidos. Para eles, a maior prova de fé era a ação. E este é o

 

enfoque do judaísmo, seja ele liberal ou ortodoxo: contribuir judaicamente para a criação

 

de uma sociedade mais digna, mais justa, mais humana.

 

3. FESTAS E TRADIÇÕES JUDAICAS

 

Existe um quadro litúrgico de festas que determina a vida religiosa oficial do

 

judaísmo.

 

O nome genérico das grandes festas religiosas judaicas é hag, que

 

etimologicamente é sinônimo do árabe hagg que designa a peregrinação a Meca.

 

Percorrendo o Pentateuco constatamos a existência de umas cinco listas de festas anuais de

 

cronologia variada, passíveis de serem reconstituídas em sua evolução, graças às

 

características preservadas.

 

Em geral, todas as festas são agrícolas, provavelmente herdadas do cananeu, e refletem

 

a situação de Israel na terra de Canaã. O mais antigo calendário se encontra no Código

 

da Aliança (Ex 23,14-17). O javista da aliança sinaítica (Ex 34,18-23) coincide grosso

 

modo com o anterior e fornece a mesma série de três festas de peregrinação, mas denomina

 

a segunda de festa das Semanas (Hag Shabuôt). O calendário

 

deuteronômico é mais detalhado (Dt 16,1-17), dando prioridade à do Êxodo, em que se

 

imola o cordeiro. No calendário do Código de Santidade (Lv 23), há indícios claros da

 

maneira babilônica de contar os meses e uma enumeração mais ampla das festas.

 

No judaísmo, os dias sagrados iniciam-se com o Rosh Ha-Shaná, que é também o

 

começo do ano judaico.

 

Rosh Ha-Shanáh – Como "cabeça do ano", é a festa celebrada nos dias

 

1° e 2° de Tishri: dias em que, segundo a tradição, o mundo foi criado. Os outros

 

nomes de Rosh Ha-Shanáh são: Yom Hazikaron (dia da lembrança), Yom

 

Teruáh (dia do toque do shofar), Yom ha-din (dia do julgamento). Festa

 

essencialmente religiosa. Celebra-se exclusivamente na sinagoga. Como para as outras magnas

 

datas, as orações estão compiladas no mahazor (livro de orações).

 

Representa um dos dois dias santos mais sagrados da fé judaica e dá início aos Dez Dias

 

de Penitência quando "a humanidade se submete a julgamento perante o trono

 

celestial". Durante esse período, afirma a tradição, Deus perscruta os corações

 

dos homens e examina os motivos de seus atos. É também o período em que os judeus se

 

julgam a si mesmos, comparando seu procedimento durante o ano findo com as resoluções

 

tomadas e as esperanças que haviam acalentado. No moderno Israel, celebra-se o Rosh

 

Ha-Shaná durante um único dia: os ortodoxos continuam a observar dois dias igualmente

 

santificados, conforme o costume mantido desde o primeiro século. A exemplo de quase todos

 

os demais dias santos do judaísmo, as observâncias do Rosh Ha-Shaná incluem certa

 

mistura de solenidade e festividade. O Ano Novo é uma época para reunião do clã, quando

 

tanto os jovens como os anciãos voltam ao lar. O esplendor do seu ritual cria laços

 

emocionais com o judaísmo até nas crianças pequenas demais para compreenderem e

 

apreciarem plenamente a ética da fé; nos anos seguintes a mente reforça esses laços do

 

espírito e do coração. O símbolo mais importante das práticas do Rosh Ha-Shanáh

 

é o shofar, ou chifre de carneiro, que se faz soar durante o culto no Ano Novo e em

 

cada um dos dez dias de penitência. Em tempos idos, o shofar era instrumento de

 

comunicação. Das colinas da Judéia era possível alcançar todo o país em poucos

 

momentos por meio de apelos de shofar correndo do cume de um monte para outro. Nos

 

ofícios do Rosh Ha-Shanáh o shofar é o chamado para a adoração. Conclama

 

os fiéis a se arrependerem de suas faltas do ano decorrido; a voltarem a Deus com o

 

espírito contrito e humilde, e a distinguirem entre o trivial e o importante na vida, de

 

modo que os doze meses seguintes possam ser mais ricos de serviços a Deus e aos outros.

 

Yom Kipur – Dia do Perdão. Festa máxima dos judeus. Data de jejum absoluto. É

 

o dia do perdão e da purificação: esquecimento dos erros e extirpação das impurezas da

 

alma. Não se trata unicamente do perdão divino, invocado mediante a confissão das faltas

 

e as práticas de abstinência, mas também do perdão humano, que exige o desprendimento da

 

vaidade e contribui para a elevação moral. Rancores e ressentimento são expulsos da alma.

 

À chegada de Yom Kipur, cada judeu deve estender a seu inimigo uma mão de

 

reconciliação, deve esquecer as ofensas recebidas e desculpar-se por aquelas feitas aos

 

outros. Livre de todas as suas impurezas físicas e morais, deve comparecer o indivíduo

 

diante do tribunal de Deus. Desde a refeição que a precede, servida antes do pôr-do-sol,

 

até o fim da festa, o judeu se abstém de qualquer alimento ou bebida. Este jejum é

 

interpretado não somente como evasão do terreno, mas como prova de força de vontade sobre

 

os apetites materiais, que tantas vezes conduzem ao erro. Por último, o jejum faz sentir na

 

própria carne os padecimentos dos que por falta de meios sofrem de fome e sede.

 

Peçah – É a festa judaica da Páscoa. Celebra-se a lembrança da

 

libertação dos israelitas da escravidão do Egito, que ocorreu no dia 14 do mês hebraico Niçán,

 

aproximadamente em 1280 a.C. Desde então a Peçahfoi para o israelita o

 

aniversário da libertação do jugo da escravidão, a qual devia guiá-lo à libertação

 

do espírito, à fé, à virtude e para uma vida nobre e sagrada.

 

Peçah é também considerada festa da primavera, coincidindo a sua data

 

com a primavera em Israel. Peçah prolonga-se por 8 dias, sendo os seus

 

primeiros e últimos dias considerados yamim tobim, ou seja, "dias

 

festivos".

 

Shabu`ôt – É considerada uma das festas máximas do judaísmo,

 

pois comemora a data em que Deus, por intermédio de Moisés, deu ao povo libertado do Egito

 

os Dez Mandamentos. Da voz que lhes falava no monte Sinai, saíram as palavras mais sábias

 

que a humanidade jamais ouviu; esses mandamentos foram o elo que manteve a união dos judeus

 

pelos séculos afora. Em todo o mundo, o Decálogo tem encontrado ressonância e se imposto

 

como fundamento moral. Os judeus festejam Shabu`ôt com justo orgulho,

 

porque foram os mensageiros e depositários dos sábios ensinamentos nele contidos. As

 

palavras "Asher, behar banu mi-col ha-`amim ve-natonah lanu et Toratô"

 

"Que nos escolheu entre todos os povos e nos deu ela, Sua Toráh", a

 

bênção da Toráh no Templo, são uma recordação renovada anualmente da sua

 

missão: salvaguardar, através dos séculos, esse tesouro de ética e sabedoria, que foi

 

confiado a seu povo. Shabu`ôt chama-se também Hag

 

Habbikkurím – Festa das Primícias. Esse amálgama do divino (ter recebido a Torá)

 

e a terra (a festa da colheita), reflete o sentimento da alma judaica: agradecer a Deus pela

 

lei recebida e pela colheita dos frutos da terra. Na antigüidade, quando se terminava a

 

colheita de cereais, separavam-se as primícias que eram levadas ao Templo e oferecidas a

 

Deus em sinal de agradecimento. Numerosos grupos de agricultores de todas as partes do país

 

marchavam em longas procissões para Jerusalém, acompanhados, em todo o trajeto, por

 

alegres sons de flautas. Em cestas decoradas com fitas e flores, cada um conduzia sua

 

oferenda, primícias de trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e mel, produtos que

 

davam renome ao solo de Israel. Na Cidade Santa eram acolhidos com cantos de boas-vindas e

 

penetravam no Templo, onde entregavam seus cestos ao sacerdote, findando a cerimônia ao som

 

de hinos e toques das harpas. Com o restabelecimento do Estado de Israel, Shabu`ôt

 

readquiriu seu caráter de festa campestre; hoje, como ontem, a vida lá gira em redor do

 

cultivo da terra; o judeu voltou à sua inerente predileção pelos trabalhos agrícolas.

 

Sukkôt – É a festa das tendas. Celebra-se, habitando durante 8 dias, em

 

cabanas em que os israelitas viveram desde a saída do Egito até a conquista da Palestina.

 

Chamou-se também de Hag ha-açíf (festa da Colheita) ou simplesmente Hag.

 

Primeiramente Sukkôt era uma festa agrícola rural. Sukkôt marcava o final

 

da colheita das frutas. Era também a festa da peregrinação. É um acontecimento alegre e

 

feliz, cheio de símbolos ricos e coloridos; e especialmente atraente para as crianças, às

 

quais obviamente se destina. Ergue-se uma tenda ou cabana (sukkáh) perto da casa. Em

 

geral, é uma estrutura improvisada, de tábuas de madeira, com teto de folhas e ramos. O

 

teto não deve ser compacto, pois os que se acham dentro da sukkáh devem poder ver o

 

céu o tempo todo. A construção de uma tenda é prescrita na Bíblia, como eterna

 

lembrança das habitações precárias utilizadas pelos israelitas em seus quarenta anos de

 

peregrinação através do deserto. O interior da sukkáh é alegremente decorado com

 

frutas da estação outonal, e mobiliado com mesa e cadeiras. Durante a semana de Sukkôt

 

a refeição é servida na sukkáh.

 

A principal oração judaica é o Shemá` (hebr. Ouve!) considerada como a

 

expressão clássica do monoteísmo e a proclamação de fé dos israelitas. Todos os

 

israelitas devem recitá-lo, conforme se acha prescrito no ritual, todos os dias, pela

 

manhã e à noite. As primeiras palavras que a criança deve aprender a pronunciar são: Shemá`

 

Yisraêl (Escuta, Israel). "As palavras do Shemá` Yisraêl, diz o Talmud,

 

não são dirigidas aos ouvidos, mas ao coração".

 

Para os judeus, a lei oral não podia ser escrita e o ensino era ministrado somente por

 

transmissão oral, por "repetição". Daí a designação da Mishnáh como

 

"segunda Lei", coincidindo com a tradução grega e latina dos vocábulos deuterosis.

 

Mishnáh deriva do verbo shanó (= estudar), e ao mesmo tempo do numeral shnaïm

 

(= dois). Como parte constitutiva do Talmud, é a Mishnáh o conjunto das

 

decisões, doutrinas e leis religiosas que tem como base a Torá e que, por sua vez,

 

serve como base para a Guemará. Assim como a Bíblia é o objeto da Mishnáh,

 

essa é o objeto para a interpretação talmúdica – a Guemará. A Mishnáh

 

divide-se em seis partes: Zera`im (grão) trata do homem e da terra; Mo`êd

 

(festas); Nashím (família); Neziqim (relação entre os homens); Qodashim

 

(cerimônias religiosas) e Teharôt (leis e proibições). A Mishnáh

 

constitui a base do Talmud. É um informe das sentenças proferidas por uma linha de

 

analistas e juizes. Abrange um período de quase 400 anos. Rabi Judá, o Príncipe, abastado

 

sábio da Palestina, compilou a Mishnáh.

 

Todos os judeus incorporam-se à comunidade mediante o rito da circuncisão que é

 

o símbolo, a prova e a condição para entrar na aliança que o Eterno estabeleceu com o

 

primeiro patriarca Abraão. Assim está comprometido com um pacto indissolúvel com seu

 

Deus, com a virtude e o dever. O ato da Miláh é cercado por ambiente de extremo

 

respeito ao qual assistem somente os homens presentes à festa. A criança é introduzida na

 

sala de cerimônia pelo kvater (padrinho) sob as exclamações "Baruk

 

ha-bá" (Bendito seja quem chegou). É então passado de mão em mão até o pai, o

 

Sandaq (síndico) em cujas mãos se realiza a operação. Terminada a mesma, recita o

 

pai a oração de graças por ter cumprido essa mitsváh e a criança e os pais são

 

então saudados por toda uma série de bênçãos características, que é realmente enorme

 

e que a tradição judaica acumulou por séculos. A cerimônia termina com o ato de molhar

 

os lábios do bebê com vinho ou cerveja, após o que é servida a Se`udat mitsváh,

 

o banquete do Mandamento Cumprido. O nome do menino é dado na cerimônia.

 

A admissão oficial e consciente no povo judeu se faz mediante o rito da bar mitzváh.

 

O jovem judeu ao atingir a idade de 13 anos converte-se em bar mitzváh, isto é,

 

sujeito ao mandamento. Isso quer dizer que deve praticar os mandamentos divinos, tomando-se

 

responsável pelos seus atos. Até então cabia ao pai ou tutor toda a responsabilidade dos

 

atos bons ou maus praticados pelo seu filho. A partir deste momento a responsabilidade é

 

exclusivamente do jovem que agora passa a integrar a comunidade, como um adulto no sentido

 

do cumprimento das Mitzvot (mandamentos). Estes 613 mandamentos fundamentais

 

representam a estrutura de toda a moral judaica, estabelecendo normas de conduta em todos os

 

momentos de vida do homem, quer nas suas relações com os seus semelhantes, quer nas suas

 

relações com o Todo-poderoso. Ao lado desta responsabilidade moral adquire o Bar-Mitzváh

 

o privilégio do Minyan, isto é, ser um membro do grupo de dez homens, número este

 

que a lei judaica exige como o mínimo para a realização de qualquer ato religioso de

 

caráter público. Como membro do Minyan, o Bar-Mitzváh está, então,

 

sujeito a todos os deveres e obrigações dos seus integrantes adultos. Deve-se assinalar,

 

entretanto, que a solenidade do Bar-Mitzváh marca apenas o momento inicial da

 

maturidade física e psíquica do indivíduo e não o momento em que esta se completa. A

 

partir desta idade, o jovem começa a tomar consciência dos problemas que o cercam e aos

 

seus semelhantes, marcando, pois, a sua inclusão como membro da sociedade, tomando-se apto

 

para lutar pelos seus interesses e necessidades. O costume do Bar-Mitzváh data do

 

século XVI. A Torá (Antigo Testamento) não o menciona. O Talmud apenas faz

 

alusão ao fato de os jovens, a partir dos treze anos, começarem a transformar-se em homens

 

adultos, não estabelecendo porém, normas nem a idade exata para o acontecimento. A

 

primeira referência escrita sobre a sua celebração encontra-se no Código Religioso, de

 

Ética, Moral e Conduta humanas chamado Shulehan `Arúk compilado em

 

meados do século XVI por Yosef Karo. Segundo este Código, o primeiro sábado que segue ao

 

13° aniversário do jovem é o dia de seu Bar-Mitzváh. Durante os meses que

 

antecedem esta data importante, o jovem aprende as noções fundamentais da História e das

 

tradições judaicas, as orações e costumes do povo, estudando os princípios que regem a

 

fé judaica. No sábado da comemoração o jovem recita um capítulo da Torá (Parasháh)

 

e um capítulo dos Profetas (Haftaráh), com a melodia tradicional apropriada para

 

estes capítulos. Esta melodia baseia-se numa escala de notas musicais padronizadas para a

 

leitura em público dos capítulos da Torá e do livro dos Profetas. A cerimônia

 

religiosa é seguida de uma reunião festiva que é oferecida pela família do Bar-Mitzváh

 

aos parentes e pessoas mais chegados à família.

 

4. CRISTIANISMO E JUDAÍSMO

 

Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão, veio "segundo a carne" do povo

 

de Israel (Rm 9,5) e transmitiu à sua comunidade, a Igreja, as crenças e as tradições

 

religiosas de seu povo. Por isso, Judaísmo e Igreja têm uma herança espiritual comum.

 

A figura de Jesus tem sido, infelizmente, um empecilho no relacionamento entre cristãos

 

e judeus, uma justificativa para exclusão mútua, uma fonte de atrito e ressentimento. É

 

de fundamental importância para o diálogo cató1ico-judaico que Jesus seja reconhecido

 

como um elo essencial entre os dois credos.

 

Jesus era judeu, nascido de mãe judia. Mais ainda, ele se considerava um judeu fiel às

 

suas origens. Seus ensinamentos derivam das leis e das tradições judaicas com as quais ele

 

se criou, e que ele jamais negou. Jesus era chamado de "Rabino" e freqüentava o

 

Templo de Jerusalém, junto com seus discípulos.

 

A grande maioria dos católicos não tem consciência destes fatos, pois as divergências

 

posteriores entre Igreja e Sinagoga resultaram num processo de obliteração das origens

 

judaicas do cristianismo.

 

A imagem negativa dos fariseus encontrada em muitos textos cristãos produziu entre os

 

católicos uma visão gravemente distorcida do judaísmo. O debate de Jesus com os fariseus

 

é um sinal de que ele os levava a sério. A eles Jesus dirigiu suas críticas contra o

 

"establishment" religioso. Foi com eles que Jesus aprendeu a "regra de

 

ouro", e deles vem a crença na ressurreição.

 

Portanto, os conflitos e controvérsias relatados no Novo Testamento devem ser vistos

 

como discussões entre irmãos, e não como disputas entre inimigos. Ao serem mal

 

interpretadas, as críticas de Jesus aos fariseus tornaram-se armas nas polêmicas

 

antijudaicas, e sua intenção original foi deturpada.

 

A Igreja de Cristo está enraizada na vida e no pensamento do Povo de Israel. Ela se

 

sustenta nos ensinamentos judaicos dos patriarcas e profetas, reis e sacerdotes, escribas e

 

rabinos. Jesus é o elo através do qual toda a cristandade passa a ser incluída como

 

descendente de Abraão, e portanto co-herdeira, juntamente com os judeus, do seu grandioso

 

legado espiritual.

 

O problema da crucificação sempre foi um dos assuntos mais explorados em argumentação

 

contra os judeus. Trechos do evangelho foram sempre citados, para reforçar uma acusação

 

que hoje em dia é reconhecida como inválida e falsa.

 

Tentou-se durante os séculos usar o Novo Testamento, e especialmente os evangelhos, para

 

encontrar frases avulsas, nas quais se baseou o mito do "deicídio".

 

Vejamos aqui alguns pontos importantes que derrubam este conceito antijudaico, que

 

durante séculos serviu para acusar os judeus.

 

Os argumentos válidos, baseados numa objetiva análise de textos evangélicos, de que os

 

judeus não mataram Jesus, são em resumo os seguintes:

 

l) não se pode afirmar que os judeus tenham crucificado Jesus, porque tal gênero de

 

morte não é previsto por nenhuma lei judaica antiga; doutro lado, os evangelhos

 

especificam claramente que foram os romanos que procederam à execução;

 

2) não é verdade que os judeus pediram a crucificação, isto é, não foi a

 

totalidade, nem a maior parte (os evangelhos dizem o contrário); foi uma população

 

subornada pelos magistrados; enfim, uma pequena fração em relação ao número de

 

peregrinos da Palestina e da Diáspora; não era, pois, um grupo qualificado para exprimir

 

os sentimentos e a vontade da população; mais ainda: os discípulos de Emaús atribuem

 

expressamente aos chefes religiosos a responsabilidade dessa morte;

 

3) pelo contrário, a quase unanimidade da população acolheu e saudou Jesus em triunfo

 

quando da sua entrada em Jerusalém; à morte do Senhor, diz Lucas que "multa turba

 

populi et mulierum" estava com Jesus e batia no peito; o mesmo observa o evangelista

 

por ocasião da crucificação. Note-se, ao invés, que os discípulos estavam longe;

 

4) "Jesus foi morto aos gritos do povo judaico!" Repete-se desde há muitos

 

séculos. Basta consultar os textos evangélicos, para se constatar a instabilidade da

 

afirmação;

 

5) analisemos a expressão "seus inimigos, os judeus". Ora, os inimigos só

 

poderiam ser judeus, pois Jesus também o era segundo a carne, nascido na Judéia, onde

 

vivia e pregava. Deve-se dizer, a rigor: "seus inimigos, os fariseus e alguns

 

judeus". De Lincoln também se deve dizer: "seus inimigos, os escravistas", e

 

não: "seus inimigos, os americanos" . "Os judeus", é expressão

 

característica do IV Evangelho: indica especialmente os que se opunham a Jesus. Quando foi

 

composto o Evangelho de são João, já estavam bem definidas e separadas a Sinagoga e a

 

Igreja, e o vocábulo judeu, menos que designação étnica, indica valor teológico com uma

 

base histórica: Jo 2,18-20; 5,16-18; 6,41; 7,1-11; 9,22; 10,24-33; 11,8; etc. O IV

 

Evangelho usa cerca de 70 vezes a designação "os judeus".

 

6) É notável que são Paulo, comentador eloqüente da Paixão, não acuse seus

 

compatriotas. Por caridade? Então, por que não lhe seguir o exemplo? Por verdade? Por que

 

não aceitar o que diz? Para ele, os judeus são povo eleito ainda, mesmo depois da morte de

 

Jesus; não rejeitou seu povo.

 

Jesus lê e explica as Escrituras, a Lei de Moisés, os Profetas e os Salmos(Lc

 

4,16; 24,44)

 

Judeus e cristãos têm em comum o TaNaK (ToráNebiím

 

Ketubim), parte da Bíblia comumente chamada de Antigo Testamento. Seu

 

valor é próprio e perpétuo e contém a Revelação do Deus de Abraão, de Isaac e de

 

Jacó que é o Deus de Jesus Cristo, dos Apóstolos e da Igreja.

 

A Igreja primitiva só tinha esta Escritura Sagrada. O Novo Testamento veio em seguida.

 

Por isso, o Antigo Testamento não pode ser considerado em oposição ao Novo Testamento.

 

A Bíblia toda é Revelação que convida ao Amor a Deus e ao próximo.

 

"Ouve ó Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor" (Dt 6,4;

 

Mc 12,29)

 

A proclamação da unicidade de Deus é a fé originária de Israel. Jesus, em seus

 

diálogos teológicos no evangelho, a indica como o primeiro de todos os mandamentos. O povo

 

judeu vive desta verdade, a testemunha e a proclama todo dia com a sua existência.

 

"No princípio Deus criou os céus e a terra" (Gn 1,1)

 

O Deus único também é o Criador de todas as coisas. É um Deus Pai que provê às

 

necessidades de seus filhos. Jesus fala do Pai celeste que veste a erva do campo e sabe do

 

que necessitamos (Mt 6,30s). Esta fé que distingue entre Criador e criatura proibindo toda

 

divinização do mundo, dos seres viventes e das pessoas, liberta o homem da inquietude e do

 

medo e estimula para uma fraternidade universal no respeito recíproco.

 

"Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e

 

a mulher" (Gn 1,27)

 

Segundo o ensinamento judaico, quem fere o homem diminui a imagem de Deus. A dignidade

 

humana, proclamada por Jesus e pela Igreja, é baseada nas primeiras páginas das Escrituras

 

de Israel: o homem é imagem de Deus. Consequentemente, Jesus proclama o segundo maior

 

mandamento citando Levítico 19,18: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo" (Mc

 

12,31).

 

A Aliança entre Deus e o homem

 

A Aliança é a categoria fundamental do povo de Israel para mostrar a sua ligação com

 

Deus. É derivada das palavras divinas: "Tu és o meu povo, Eu serei teu Deus". A

 

Aliança é graça e dever. Os profetas sempre convidaram a não quebrar a Aliança e a

 

renová-la. A salvação apresenta-se como uma Aliança por meio da qual Deus entra numa

 

relação definitiva com seu povo e com toda a humanidade. Nesta linha, Jesus fala da sua

 

morte como sinal de uma nova Aliança. O seu sangue é "o sangue da Aliança que é

 

derramado por muitos" (Mc 14,24).

 

A prática dos mandamentos

 

O que preocupa Israel é uma vida vivida segundo os mandamentos de Deus. São os

 

mandamentos que regulam o dia-a-dia do judeu frente a Deus. A prática dos mandamentos é o

 

ato pelo qual o judeu coopera com Deus na construção do mundo.

 

Jesus confirma o valor dos mandamentos e deixa a sua interpretação da Lei de Moisés.

 

Judeus e cristãos aceitam a centralidade dos "Dez Mandamentos" que estabelecem as

 

normas para a consciência de todos os homens.

 

A esperança messiânica

 

Típica da fé de Israel, a esperança messiânica está presente em todos os momentos da

 

experiência religiosa do judaísmo. Os profetas anunciavam de vários modos os tempos

 

messiânicos e a vinda do Messias que os cristãos vêem realizada em Jesus de Nazaré.

 

Judeus e cristãos continuam unidos no esforço de concretização da plenitude dos

 

tempos messiânicos, ambos esperando, cada um a seu modo, a realização das promessas

 

divinas.

 

A oração

 

O judaísmo reza, suplica e louva a Deus. É no interior da tradição judaica que Jesus

 

aprende a rezar. Sua oração como conteúdo e como prática é judia. Bíblia e Sidur

 

(= livro de oração comunitária) contêm o tesouro da oração do judaísmo compartilhado

 

pela Igreja no uso dos Salmos e das bênçãos. O conteúdo do "Pai-nosso"

 

expressa os pedidos constantemente presentes nas orações judaicas: a santificação do

 

Nome divino, o pão de cada dia, a vinda do Reino messiânico, o cumprimento da vontade de

 

Deus, o perdão dos pecados, a proteção de Deus nas tentações. Totalmente enraizados na

 

tradição judaica são também os dois mais famosos cânticos do Novo Testamento: o

 

Benedictus e o Magnificat.

 

Frente ao Deus vivo, judeus e cristãos assumem a mesma postura: procuram o retorno a

 

Deus, obedecem â Palavra revelada, vivem no respeito, no amor e no louvor a Deus.

 

"Estando próxima a Páscoa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém"

 

(Jo 2,13)

 

Ao patrimônio religioso de Israel pertencem todos os acontecimentos por meio dos quais a

 

obra salvífica de Deus se tomou história sagrada. Estes acontecimentos, ligados entre si,

 

constituem a proclamação e a celebração da história do relacionamento de Deus com

 

Israel e a humanidade, dando origem às festas anuais do judaísmo, às manifestações

 

religiosas cotidianas e às celebrações das etapas principais da vida de um judeu. Os

 

evangelistas nos apresentam a vida de Jesus marcada por esta vivência religiosa:

 

"Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino foi-lhe dado o nome

 

de Jesus" (Lc 2,21); "Jesus entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu

 

costume, e levantou-se para ler" (Lc 4,l6).

 

Assim, com seu nome judeu, circunciso, observante do dia do sábado e das festas de

 

Israel, assíduo leitor das Sagradas Escrituras, Jesus nos convida a conhecer e respeitar

 

aquela religião na qual foi educado e que o tornou mestre de muitos povos. Convida-nos

 

também a destruir o muro da incompreensão entre Sinagoga e Igreja pela herança comum que

 

nos une e pela tarefa de iluminar os povos que Deus confiou aos judeus e aos cristãos, como

 

afirmou João Paulo II: "Quem encontra Jesus encontra o judaísmo".

 

5. HISTÓRIA DAS RELAÇÕES DA IGREIA COM O JUDAÍSMO

 

A. Da convivência à polêmica

 

Desde o alvorecer de nossa era até quase o final do século II, o cristianismo só se

 

manifestava nas estruturas de pensamento e de expressão da tradição judaica. No período

 

pré-helenístico não conhecia outra fonte de inspiração. Antes que as peculiaridades de

 

crença e de rito o destacassem do bojo da religião ancestral, aparentava uma seita judaica

 

análoga a muitas outras. O primeiro passo histórico na direção da autonomia foi a

 

pregação de Estêvão, chefe do grupo helenista. Com a dispersão do grupo pela Palestina

 

e regiões vizinhas, desencadeia-se o processo missionário da Igreja, que vai atingir a

 

bacia inteira do Mediterrâneo.

 

Mas daquele consórcio inicial resultou uma experiência única e original, a

 

experiência amalgamadora do judeu-cristianismo, com seus diferentes níveis de

 

estruturação e influência, que deram lugar à formação de várias modalidades concretas

 

do fenômeno.

 

Podemos assinalar os traços principais do meio cultural onde se desenvolveu o

 

judeu-cristianismo, ramificação da Igreja primitiva, que se caracterizava pela

 

vinculação à lei ritual.

 

Três deles merecem aqui menção especial pelo seu significado característico: os

 

métodos de exegese veterotestamentária, as representações apocalípticas e a

 

organização do culto.

 

1. Os métodos de exegese veterotestamentária utilizados pelo judeu-cristianismo, foram

 

extraídos do judaísmo corrente na época, notadamente o palestinense. Prova disso são os targumim

 

judeu-cristãos, os midrashim cristãos e os comentários do Gênese.

 

O primeiro tipo de exegese revela um período bem arcaico do cristianismo. Mais do que a

 

simples traduções, recorre-se a verdadeiras modificações do texto, fusões, acréscimos

 

e supressões, evidenciando a presença de um método totalmente desconhecido nos meios

 

helenísticos.

 

Aparece o segundo tipo de exegese nas obras cristãs mais antigas. Eram paráfrases do

 

Antigo Testamento de cor nitidamente judaica.

 

Ocupam os comentários do Gênese parte considerável das obras exegéticas do

 

judeu-cristianismo, o que comprova igualmente a importância atribuída na época a

 

especulação judaica.

 

2. Em boa parte, a apocalíptica judeu-cristã valeu-se, nas suas representações, de

 

elementos em voga no judaísmo. Nesta tarefa, serviram-lhe de meio de expressão os dados

 

cosmológicos. Certos traços, como, por exemplo, os relativos aos anjos e aos demônios,

 

passaram até para a tradição cristã.

 

3. De todos os pontos, o da organização do culto foi praticamente o que mais sulcou a

 

vida da Igreja cristã.

 

As raízes da primeira liturgia cristã residiam nos costumes cultuais israelitas de

 

estilo essênio, denotando porém o fundo primitivo da liturgia.

 

O livro dos Atos dos Apóstolos e os evangelhos deixam transparecer o fato de que a

 

comunidade dos discípulos de Jesus aparecia como um partido religioso dentro da comunidade

 

judaica. Era a seita ou o partido dos nazarenos (At 24,5; 24,14; 28,22), a saber, uma

 

espécie de sinagoga à parte, como as havia então, ou um especial agrupamento doutrinal.

 

Reunia-se no templo (At 2,46). Guardava, ao menos na forma exterior, o uso dos

 

sacrifícios judaicos (Mt 5,23). Pagava o tributo do templo (Mt l7,24-27). Submetia-se à

 

jurisprudência sinagogal (Mc 13,9; Mt 10,17). Sustinha fundamentalmente a lei de Moisés

 

(Mt 5,17-19). Numa palavra, foram os primeiros cristãos plena e inteiramente membros do

 

povo de Israel.

 

Só entrou decisivamente o cristianismo em processo de desprendimento do meio hebreu,

 

quando começou a se espraiar no mundo helenístico, para além das fronteiras

 

palestinenses. Pouco a pouco, a partir de então, o judeu-cristianismo cedeu lugar ao

 

cristianismo da gentilidade. Como era de se esperar, não tardou que daí irrompesse séria

 

tensão no seio das comunidades existentes.

 

Existia no judaísmo uma ancestral tradição de fé na eminente intervenção de Deus.

 

Esperava-se a qualquer momento a irrupção do poder divino e a instauração do seu reino

 

sobre a terra. É quando se findaria definitivamente o tempo das dominações estrangeiras.

 

Motivos políticos e religiosos mesclavam-se inextricavelmente nesta acendrada

 

esperança. No tempo dos Pompeus, já haviam as Odes de Salomão atiçado a chama,

 

prenunciando a vinda de um rei messiânico. Os dirigentes do povo faziam questão de

 

alentá-la de todas as maneiras na alma popular. Se nos pormenores as opiniões variam, por

 

falta de um corpo doutrinário sobre o Messias, num ponto essencial todos se encontravam,

 

qual seja, o de que os opressores estrangeiros seriam totalmente expulsos e o Deus único

 

reinaria sobre Israel.

 

Com o desenvolvimento e a difusão do cristianismo, refluía fatalmente para o centro das

 

preocupações o problema das suas relações com o judaísmo.

 

Desde os inícios da evangelização grega, admitiam os judeu-cristãos nas suas

 

comunidades convertidos pagãos, sem os obrigarem ao rito da circuncisão. Este fato era

 

interpretado pelo judaísmo como sendo uma verdadeira traição às tradições religiosas.

 

Tal protesto judeu encontrou eco em alguns cristãos, vindos das seitas farisaicas, que

 

propugnavam intransigentemente a tese da circuncisão para os gentios. Acendeu-se então o

 

debate, a que o Concílio de Jerusalém, realizado por volta do ano 49, pôs um ponto final.

 

Pedro, em nome do Colégio Apostólico, e Tiago, representando o Conselho dos Anciãos,

 

deliberaram em favor da não-obrigatoriedade do mencionado rito, adstringindo os convertidos

 

do paganismo tão-somente aos preceitos noáquicos: abstenção de carnes sufocadas, de

 

carnes imoladas aos ídolos e de fornicação. Paulo via vitoriosa a sua tese. A decisão

 

apostólica representou um passo de capital importância rumo à cisão judeu-cristã.

 

Por outro lado, observamos que o nacionalismo judeu atingiu o paroxismo. Dois elementos

 

particularmente entravam como ingrediente no zelotismo da época: o apego fanático às

 

observâncias legais e a exasperação da expectativa escatológica. Ao mesmo tempo em que o

 

farisaísmo batalhava pacificamente pela reforma moral ajustada aos termos da Torá,

 

aplicava-se, por vez, o zelotismo em incitar o povo à revolução política armada.

 

Entretanto, de ambos os lados arvorava-se a bandeira da libertação do domínio romano,

 

qualificado como o inimigo de Deus, com o fito de implantar uma teocracia

 

político-religiosa.

 

Ora, para a comunidade judia trabalhada pelo messianismo nacionalista, a recusa da

 

circuncisão não podia deixar de ganhar interpretação acentuadamente negativa.

 

Tachavam-na de traição política. Este fato causava gravames para a vida dos cristãos de

 

origem semita. A pecha de traidores que se lhes imputava expunha-os a uma situação social

 

totalmente insegura e vexatória. Atestam o livro dos Atos e as epístolas paulinas, de

 

maneira às vezes patética, a oposição declarada e crescente de grupos judeu-cristãos

 

aos discípulos de Jesus. Esta oposição, por volta do ano 58, lançou Paulo na prisão, em

 

Jerusalém, e compeliu-o ao martírio em 67. Unânimes admitem hoje também os historiadores

 

que a perseguição movida contra Pedro se vinculava ao mesmo clima de exaltação

 

nacionalista.

 

O ponto culminante da crise se deu por ocasião da catástrofe da guerra judaica de 66 a

 

70. Por não se empenharem na sublevação e na luta, foram os judeu-cristãos alvo da mais

 

acesa animosidade. Premidos de todos os lados, viram-se forçados a se retirarem de

 

Jerusalém para a Jordânia oriental, espalhando-se pela zona fronteiriça síria. À frente

 

deles encontrava-se Simeão, primo de Jesus, que sucedera a Tiago na sede de Jerusalém.

 

Consuma-se a ruptura. Dessolidariza-se a Igreja do destino nacional de Israel. Deixa a

 

Cidade Santa de ser o centro da cristandade nascente, que rompe sociologicamente com o meio

 

judaico.

 

Em 70, Tito invade Jerusalém, massacra a população e arrasa o templo. Perde o

 

judaísmo, a par de sua autonomia administrativa, o seu centro de culto, o templo, coração

 

da vida religiosa de Israel e símbolo da unicidade de Deus. Após a invasão, converte-se o

 

tributo do templo em contribuição para Júpiter Capitolino em Roma.

 

Com o término da guerra, esteve a reorganização do judaísmo a cargo dos doutores

 

fariseus. Ao tempo em que esta tradição se desdobrava para guardar ciosamente o legado do

 

passado, ia também passando por um certo endurecimento que se constatava na atitude entre

 

cristãos e judeus. Reorganizado, mostrou-se o judaísmo mais intolerante. No ano 85,

 

ordenou o rabi Gamaliel II que se introduzisse na oração oficial (Amidá) uma

 

maldição reservada aos nazarenos e outros hereges, tornando com isso incômoda e

 

descontínua a freqüência dos cristãos à sinagoga. Alude o evangelho de João em dois

 

lugares (Jo 9,22; 12,40) à excomunhão infligida aos discípulos de Cristo. Notamos que, a

 

partir de então, a controvérsia entre judeus e cristãos revestiu o talhe de uma

 

confrontação direta entre o evangelho e a tradição farisaica.

 

Tentaram ainda os cristãos retornar a Jerusalém. Mas esta Igreja dizimada já não

 

exibia condições de se impor como Igreja-mãe para todos os cristãos da gentilidade. A

 

direção transitou de Jerusalém para Roma. Daí para a frente, Igreja e Sinagoga trilham

 

caminhos divergentes.

 

B. Da polêmica ao proselitismo

 

Até o século V o judaísmo manteve alto nível de atividade missionária, dando provas

 

de excepcional vitalidade interior. O debate judeu-cristão, que se instalou durante todo

 

esse período, não era nada acadêmico, e sim acirrada polêmica, fruto de intensa

 

concorrência proselitista entre as duas comunidades. Este fenômeno desencadeou, de ambos

 

os lados, inflamadas manifestações de hostilidade.

 

O judaísmo farisaico, em sua marcha através do mundo greco-romano, tornou-se uma

 

religião missionária de primeira plana. Já nos tempos de Cristo despendia grandes

 

esforços nesta tarefa, mostrando-se capaz de "percorrer mares e terras para fazer um

 

prosélito" (Mt 23,l5). Agora que, apesar da divergência de alguns rabis quanto à

 

oportunidade de novas conversões, se acentuava o dever missionário de Israel, ele passa a

 

absorver praticamente todas as atividades da propaganda judaica.

 

Prosélito é o gentio que foi conquistado para o judaísmo e se deixou circuncidar. A

 

distinção entre "prosélitos propriamente ditos" (prosélitos da justiça) e

 

"semiprosélitos" (prosélitos da porta) foi introduzida bem posteriormente pelos

 

rabis. Testemunhos judaicos, cristãos e pagãos atestam, à uma, a realidade e a eficácia

 

do proselitismo. Embora a legislação imperial não concedesse ao judeu o direito de fazer

 

propaganda da sua religião, – proibindo inclusive a circuncisão – parece que a

 

autoridade habitualmente ignorava o fato. A interdição geral da circuncisão não incluía

 

os judeus de nascimento. Severas penalidades eram aplicadas apenas aos não-judeus.

 

O cristianismo exerceu forte concorrência sobre o proselitismo judaico.

 

O sucesso do apostolado cristão no meio pagão da Diáspora representava uma realidade.

 

Os chefes judeus logo se sentiram vivamente preocupados com o fato. O rabi Eliezer ben

 

Hircanos não trepidou em levantar uma enorme e genérica suspeição sobre a sinceridade

 

das conversões. Na revolta de Bar Kochba, descobriram-se espiões convertidos instalados

 

nas academias judaicas.

 

O caráter nacional da religião judaica recomendava-a à simpatia dos pagãos. Mesmo com

 

o desarraigamento de sua terra, este aspecto não foi obliterado de todo. Mas em suas

 

aspirações universalistas o judaísmo ficava aquém do cristianismo.

 

Perante o mundo pagão a Igreja se definia como a gentilidade redimida. Abolira a

 

circuncisão. Abrandara os rigores da observância ritual. Pregava um Salvador morto e

 

ressuscitado, próximo do tipo traçado pelas religiões mistéricas do paganismo. Em geral,

 

lograva o pagão familiarizar-se mais facilmente com o sistema religioso cristão. Juliano,

 

o Apóstata, em seu desprezo pelo judaísmo, chegava a achar absurda a pretensão dos

 

judeus, este "pequeno povo bárbaro", de querer impor ao mundo seu Deus nacional

 

como o único Deus verdadeiro. Artesãos de incontáveis infortúnios na vida do povo judeu,

 

os pagãos foram logo alvos de ódio e de desprezo. O judaísmo começou por voltar contra

 

eles a sua animosidade. Logo, porém, sentindo-se frustrado em seu ímpeto missionário, fez

 

convergir estes sentimentos para os cristãos, seus concorrentes, bem mais aparelhados para

 

a conquista espiritual do mundo greco-romano. A rivalidade missionária veio adensar ainda

 

mais o clima de relações já carregado de tensões entre as duas comunidades judaica e

 

cristã.

 

O esforço proselitista atingiu profundamente as relações entre judeus e cristãos. Com

 

a sua ativação de ambas as partes, acelerou-se o processo de segregação mútua, fazendo

 

rápidos progressos.

 

Insere-se aqui o papel exercido por Paulo de Tarso.

 

Desdobrando amplamente o seu pensamento, Paulo disseca o tema da rejeição de Israel,

 

aduzindo que da parte de Deus não há infidelidade à Palavra, nem injustiça ou mudança

 

imprevisível de conduta sem motivação razoável, mas simplesmente mistério de eleição;

 

e sendo provisória, ela faz parte do plano de Deus para permitir o ingresso dos gentios.

 

Segundo os comentadores cristãos, não se pode ler estas páginas e continuar-se

 

anti-semita. Por não se haverem lido ou por se haverem delas esquecido, muitos cristãos

 

restaram sendo escandalosamente anti-semitas. A primeira e autêntica posição teológica

 

da Igreja ante o judaísmo foi a doutrina paulina de separação e benevolência. Paulo

 

lançou as bases do projeto fundamental da teologia cristã do judaísmo. Mas, ao correr dos

 

séculos, os aspectos negativos receberam maior ênfase, e a tradição de fraternal

 

benevolência veio a eclipsar-se, cedendo lugar a uma sistematização teológica do

 

antijudaísmo cristão.

 

O sulco escavado entre as duas comunidades aprofundou-se ao ritmo da polêmica

 

teológica. Os cristãos de progênie hebraica haviam herdado uma cultura e uma mentalidade

 

bem diversas dos cristãos de origem gentia, e tachavam-nos de excessivamente pagãos. Estes

 

últimos consideravam os de estirpe judaica demasiadamente hebreus. As divergências iam

 

cristalizar-se sobretudo na esfera teológica. As sucessivas formulações do pensamento

 

cristão ajudaram a dar corpo à figura estereotipada do judeu, atravessada feito enigma e

 

desafio no caminho da crescente cristianização da sociedade sacral. No intento de

 

assegurar-se vida independente do judaísmo, buscou o cristianismo o esteio intelectual de

 

uma autodefinição estrutural. O antijudaísmo teológico da tradição cristã entrou como

 

um dos ingredientes de capital importância para que se efetuasse, com as devidas

 

transposições equacionadas, a sua autonomia de berço. Na realidade, porém, nada há nas

 

instituições fundamentais, permanentes, constitutivas da Igreja que não seja judaico na

 

sua fonte. A certa altura do debate judeu-cristão, os escritores eclesiásticos se

 

defrontaram com um terrível dilema: precisavam, por um lado, manter contato com o judaísmo

 

bíblico para conter o extremismo dos gnósticos, e, por outro, opor-se à "tentação

 

judaica" que consistia, em suma, na idéia de viver segundo a letra da Escritura. A

 

saída encontrada, já a conhecemos: a interpretação do Antigo Testamento por inteiro como

 

um relato simbólico da vinda de Cristo. E no próprio Antigo Testamento foram-se buscar as

 

provas da "infidelidade judaica". Os teólogos cristãos relacionaram o caráter

 

carnal desta infidelidade com a própria Toráh, lida e vivida literalisticamente.

 

Dois dados de fé logo repontam em meio à reflexão teológica, comandando o rumo dos

 

pensamentos e das atitudes. São eles: a certeza da salvação de Israel no final dos tempos

 

e a providencial sobrevivência religiosa do judaísmo. Os escritores eclesiásticos

 

justapõem essas duas afirmativas, condensando-as numa fórmula bastante densa e

 

significativa, a saber: a Igreja encontrará sua plenitude na salvação derradeira do povo

 

judeu.

 

C. A oficialização do cristianismo

 

A transição do império pagão para império cristão só acarretou desastrosas

 

conseqüências para a vida dos judeus. A repressão antijudaica deixou as esferas nebulosas

 

da discussão teológica e encarnou-se em concretas e práticas disposições jurídicas. A

 

princípio, o edito de Tolerância englobava também os judeus. Podia o judaísmo continuar

 

a ser "religio licita" em todo o império. Mas com o evolver dos acontecimentos

 

logo se viu a antiga nação, que ao longo de dois milênios se tinha defendido contra todas

 

as monarquias do mundo pagão, agrilhoada subitamente pelo anel de ferro do império

 

cristão.

 

Dois anos apenas haviam decorrido desde as célebres conferências de Licínio e

 

Constantino em Milão, motivadoras da liberdade total de culto, e já começavam a repontar

 

as primeiras restrições governamentais. Não tardaria que o judaísmo de "religio

 

licita" passasse, nos considerandos da lei, a ser considerado "nefaria

 

secta". As medidas opositivas vieram sob a forma de cânones eclesiásticos. Esta,

 

aliás, é a característica especial que revestiram. A sua originalidade propriamente

 

residia, não no conteúdo temático, mas no fato de haverem transbordado dos quadros legais

 

da sociedade civil e penetrado na área específica da legislação canônica da Igreja. O

 

espírito e muitas vezes até a letra da codificação imperial no tocante aos judeus

 

refletiam o espírito e a letra dos preceitos do direito eclesiástico.

 

O primeiro Concílio ecumênico de Nicéia (325), convocado e presidido por Constantino,

 

quebrou mais um elo que estreitava as duas comunidades, cristã e judaica, ao fixar a

 

celebração da Páscoa em data independente da tradição judaica.

 

Com a morte desse imperador (337) achou-se o judaísmo mais cerceado em seus direitos e

 

garantias.

 

As primeiras legislações de Constantino e Teodósio I, compiladas no "Codex

 

Theodosianus", cuja composição final data de 438, demonstraram certa insegurança na

 

sua parte atinente aos judeus. A delimitação do culto e das atividades deles propriamente

 

nada representava de original. Três concílios da Igreja ocuparam-se sucessivamente do

 

problema judeu: o de Elvira (306), o de Antioquia (341) e o de Laodicéia (343-381). Os

 

cânones por eles promulgados podem até ser tachados de benignos. Em matéria de

 

legislação antijudaica nada superou o "Codex Justinianus" que pervadiu todos os

 

setores da vida pública e particular dos judeus, incursionando até pela área teológica

 

com a supressão da Mishnáh e a obrigatoriedade do uso da Bíblia grega LXX nas

 

sinagogas.

 

D. Preconceitos e movimentos antijudaicos

 

No Ocidente instaurou-se na Idade Média uma situação de cristandade caracterizada pela

 

simbiose entre a Igreja e a sociedade temporal. Por conseqüência, aqueles que não

 

pertencessem visivelmente à Igreja, como eram os judeus, viam-se afastados do convívio

 

social e confinados nos guetos.

 

O longo período que se segue caracteriza-se antes de tudo pela formação da

 

"Repubblica christiana" que tentou introduzir sistematicamente no direito e nas

 

instituições os princípios evangélicos. Inaugura-o o século VII, que só conhecia na

 

Europa dois verdadeiros Estados: o Império bizantino e o Reino franco. Entre eles mediava

 

um único traço de união: Roma. A feudalização do poder que desembocou no "Santo

 

Império Romano", senhorial e teocrático, envolve o império e a Igreja.

 

Inocêncio III (1198-1216) marcou o ápice do poder espiritual e temporal da Igreja. A

 

realeza medieval, por sua vez, conhece o seu apogeu no Ocidente com Luís IX (1226-1270).

 

Viveram os judeus dias amargos e infelizes em meio ao equilíbrio desses dois poderes

 

universais. As renovadas suspeitas de cumplicidade com o Islã agravaram assustadoramente os

 

sentimentos antijudaicos e culminaram na terrível borrasca que desabou na alta Idade Média

 

sobre as comunidades judaicas. Abre-se, porém, o cenário da história com um excepcional intermezzo

 

de tolerância e de paz construtiva: a era dos imperadores carolíngios e saxônicos.

 

O Império Fatimida não tivera condições de conter a invasão turca, vindo da Ásia

 

Central. Em 1071 Jerusalém caiu nas mãos dos turcomanos, o que provocou imediata reação

 

no Ocidente. Os cristãos resolveram organizar as Cruzadas para reconquista dos lugares

 

santos, mas elas deram o ensejo a intensas perseguições contra judeus, porque estes eram

 

considerados em pé de igualdade com os muçulmanos.

 

O próprio movimento das Cruzadas que se estendeu até 1270 viria, por sua vez, operar no

 

mundo de então uma reviravolta socioeconômica que, ao invés de ajudar, só iria

 

desfavorecer a sorte dos judeus. Em dois planos principalmente foram eles mais duramente

 

atingidos: no jurídico, com a teoria germânica da servidão judaica (Kammerknechtshaft);

 

e no econômico, pelo envolvimento total dos judeus no jogo da usura.

 

Na Idade Média forjaram-se numerosos mitos antijudaicos os quais resultaram em

 

preconceitos, ações e movimentos populares. Enumeraram-se entre eles os seguintes: o

 

sacrifício ritual de crianças cristãs; a acusação do deicídio, a profanação da

 

hóstia consagrada; a contaminação de poços e mananciais, que deu origem à peste negra;

 

a lenda do judeu errante; e o mito racial. Todas estas acusações carecem de fundamento e

 

nunca foram historicamente comprovadas. O papa Inocêncio IV (1243-1254) rebateu todas estas

 

falsas acusações. Distinga-se sempre, a bem da verdade completa, a atitude da Igreja

 

oficial e a da sociedade cristã da época, com diferentes níveis de responsabilidade.

 

A Inquisição que visava julgar e punir os hereges atingiu também os judeus, e

 

particularmente os cristãos-novos. Na realidade histórica ela representou uma página

 

sombria no relacionamento da Igreja com os judeus, agravando a discriminação e o

 

separatismo religioso.

 

E. Transição aos tempos modernos

 

Irrompendo na penúltima década do século XVIII, veio a Revolução Francesa subverter

 

por completo a situação da sociedade, ferindo gravemente o princípio de autoridade e

 

levando as três camadas sociais, nobreza, clero e povo, a se entrebaterem.

 

O Antigo Regime revelara-se precário e inconsistente. Extremara-se o absolutismo dos

 

príncipes. Jansenistas e galicanos ajudavam a solapar a autoridade religiosa.

 

A ocasião imediata que se encarregou de acender o estopim foi a frágil situação

 

econômica da França em 1789.

 

O povo constituiu-se em assembléia constituinte, e passou a interpretar o papel

 

principal de protagonista dos acontecimentos.

 

Vieram logo em seguida diversas restrições impostas ao clero católico, considerado

 

classe privilegiada. Proclamam-se as novas liberdades. Em agosto de 1789, toma-se a medida

 

fundamental com a "Déclaration des droits de l’homme". Entre os direitos

 

contemplados figura o da liberdade religiosa.

 

Para euforia principalmente dos não-cristãos, proclamava-se a emancipação política

 

de todas as religiões, não porque se recomeçasse a valorizá-los realmente, mas por

 

simples gratuidade.

 

A "Declaração" promulgada representou uma das três grandes atitudes

 

significativas, ao lado dos decretos de tolerância do Imperador José II e da

 

"Declaration of Rights" dos Estados Unidos, em favor da liberdade e da igualdade

 

de direitos civis dos judeus. Interessa-nos reconhecer aqui que o seu fruto foi uma

 

realidade, correspondente a uma aspiração perfeitamente justa.

 

Napoleão propôs, que cada terceiro judeu ou judia fosse obrigado a se casar com um

 

cristão. Outras medidas locais e regionais despontaram visando acabar com o separatismo

 

judeu pelo amalgamamento com as populações não-judias. Em boa parte da Alemanha, a

 

emancipação dos judeus constituiu um subproduto das conquistas napoleônicas. Mas, de uma

 

forma geral, fora tão forte a sua vinculação ao expansionismo da filosofia liberal que,

 

onde a influência dessas idéias não alcançou chegar, paralelamente não obtiveram

 

também os judeus a liberação dos seus direitos de igualdade.

 

O poder das idéias liberais intensificou-se tão-somente no Ocidente. Não contavam as

 

classes médias não-judaicas da Rússia, Polônia e Romênia, com poderio quase nenhum.

 

Haviam-se enredado profundamente no atraso feudal e nos preconceitos raciais. Não

 

conseguiam, por isso, lutar em prol da igualdade de direitos dos judeus.

 

Por mais que quisessem, não viam jeito os arautos do liberalismo de preencher

 

literalmente o abismo que se cavava entre judeus e não-judeus. O triunfo da reação, no

 

continente europeu, sob a Santa Aliança, tirara dos judeus muitos de seus direitos

 

recém-adquiridos. O documento do batismo tornou-se novamente o passaporte obrigatório da

 

civilização européia até que adviesse a "Primavera dos Povos" de 1848 imprimir

 

novo impulso ao movimento de emancipação dos judeus.

 

Nos fins do século dezenove, autônomas na origem, várias correntes se conjugaram para

 

encorpar a violência anti-semítica. Ao nacionalismo, para o qual o judeu é um

 

estrangeiro, aliou-se o socialismo que tem o judeu como símbolo dos Rothschild e da

 

riqueza.

 

Finalmente, na confluência de vários fatores econômicos, políticos e ideológicos,

 

desembocamos na mais terrível deflagração do anti-semitismo com o nacional-socialismo

 

nazista.

 

F. Pronunciamentos da Igreja antes do Holocausto

 

Nos idos de 1928, pronunciou-se o Santo Ofício de Roma, com firmeza, contra o

 

anti-semitismo, nos seguintes termos:

 

"Uma vez que reprova toda espécie de ódio e animosidade entre os povos, a Sé

 

Apostólica condena soberanamente o ódio contra o povo outrora escolhido por Deus, ódio

 

esse hoje comumente designado com o nome de anti-semitismo".

 

Um ano antes da deflagração da Segunda Guerra Mundial, quase em tom profético, em

 

discurso dirigido a visitantes belgas, defendeu o papa Pio XI (1922-1939) a absoluta

 

inadmissibilidade do movimento anti-semita, interditando a participação nele de qualquer

 

católico.

 

Comentando a expressão "Sacrificium Patriarchae nostrae Abrahae", diz

 

textualmente o Chefe da Igreja haver total incompatibilidade entre o anti-semitismo e a

 

realidade sublime contida naquelas palavras. Em seguida, qualifica o movimento anti-semita

 

de "antipático", merecendo por isso a reprovação de todos os cristãos. E

 

completa ilustrando a própria idéia com a proposição do "reconhecimento, a quem

 

quer que seja, do direito de se defender e de usar dos meios de proteção que lhe sejam

 

necessários, para sua tutela pessoal contra as ameaças aos seus legítimos

 

interesses". "O anti-semitismo é inadmissível", remata o papa, porque

 

"espiritualmente somos semitas".

 

Foi este pronunciamento a solene confirmação da atitude assumida em 1937, pelo mesmo

 

Pontífice na encíclica "Mit brennender Sorge", em que se contrapõe frontalmente

 

às teorias racistas de Hitler.

 

Outras posições, na mesma linha foram, adotadas pela Igreja nos anos subseqüentes.

 

A 13 de abril de 1938, em carta ao cardeal Baudrillart, estabeleceu a Congregação de

 

Estudos a obrigação para todas as Universidades Católicas de incluir nos seus programas

 

curriculares a refutação das teses do racismo, condensadas em 8 proposições remetidas

 

às dioceses do mundo.

 

Devem-se mencionar também entre muitas outras iniciativas, a Carta Pastoral do

 

episcopado alemão, publicada em agosto do mesmo ano, e a longa declaração do cardeal Van

 

Roy, arcebispo de Malines, que recebeu carta de apoio e aprovação do arcebispo de Paris, o

 

cardeal Verdier.

 

Pio XII (1939-1958) repisou a condenação do racismo, em suas alocuções e mensagens.

 

Na Radiomensagem Natalícia de 1942 reprovou explicitamente o direito racista.

 

G. Do Holocausto a Seelisberg

 

Calcula-se que durante a Segunda Guerra Mundial morreram cinqüenta milhões de pessoas.

 

Entre as diferentes minorias perseguidas encontravam-se os judeus, que, trazidos em vagões

 

de carga de toda a Europa, foram eliminados em campos de concentração, verdadeiras

 

fábricas de aniquilamento. Seis milhões de judeus, representando um terço do povo judeu

 

no mundo, foram assim assassinados pelos nazistas.

 

As estatísticas citadas não deixam transparecer a tragédia de vidas humanas, dos

 

sofrimentos e das dores que caracterizaram os anos de 1939-45. Muitos diários foram

 

mantidos e publicados depois da guerra, muitas atrocidades, difíceis de se acreditar que

 

tenham acontecido, foram perpetradas com a participação de centenas e milhares de

 

cúmplices. Muitos dos carrascos nunca foram julgados pelos seus crimes.

 

Além das tragédias que nunca foram relatadas, dos danos psíquicos que jamais serão

 

curados, o povo judeu viu desaparecer os seus centros de cultura, suas academias de estudos,

 

seus líderes religiosos e suas fontes de vida intelectual no Leste Europeu, deixando a

 

Europa como um verdadeiro "vale dos ossos secos", como descreveu Ezequiel, o

 

profeta.

 

Após a guerra, apesar das dificuldades impostas pelos ingleses, que não permitiam a

 

entrada de mais judeus no "Lar Nacional Judeu" por eles administrado, numerosos

 

judeus chegaram à terra de Israel. Em 1947, as Nações Unidas decidiram a partilha da

 

Palestina numa histórica sessão do Conselho de Segurança, presidida na ocasião pelo

 

brasileiro Ministro Osvaldo Aranha. Em 5 de maio de 1948 foi declarada a independência do

 

Estado de Israel, que logo teve que enfrentar uma guerra com todos os seus vizinhos.

 

São esses os fatos mais importantes na história judaica do período de 1939-48. Mas o

 

que nos cabe relatar não são apenas os fatos, mas também a repercussão por eles causada.

 

O primeiro choque se deu num país considerado dos países mais civilizados do mundo, a

 

Alemanha, que pôs em prática em pleno século XX, com requintes de crueldade, um plano de

 

extermínio de um povo de forma tão metódica e precisa. Os sonhos acalentados no século

 

XIX de que, por meio da ciência e do progresso tecnológico, se pudesse chegar a um mundo

 

mais perfeito sem empecilhos para a felicidade, ruíram por terra. A confiança depositada

 

no futuro foi seriamente abalada diante da disciplina de um estado totalitário que fez

 

calar as consciências de milhões de pessoas.

 

A Igreja se pergunta hoje como foi possível um acontecimento tão brutal e desumano.

 

Muitos líderes religiosos, diante das dimensões que tomou o aniquilamento em massa,

 

perguntaram: "Onde estava Deus?"

 

Não entraremos aqui na controvérsia do que poderia ter sido feito para salvar mais

 

vidas, quando se soube do que estava acontecendo nos campos de concentração com suas

 

câmaras de gás e de torturas. O fato é que o mundo silenciou.

 

Após as terríveis experiências nazistas, surgiu a necessidade de pôr termo ao ódio

 

anti-semita. Cristãos esclarecidos dedicaram-se ao estudo do mistério de Israel e da sua

 

paixão através dos tempos.

 

Uma série de posicionamentos bem variados aflorou entre os russos e os americanos, que

 

já estavam em plena guerra fria em 1947; em um raro momento de concordância, ambos votaram

 

para que os judeus tivessem o seu Estado. O cristianismo se posicionou por meio do Vaticano

 

e do Conselho Mundial de Igrejas, condenando o anti-semitismo.

 

Para acompanhar o desenvolvimento da posição que se cristalizou dentro da Igreja nos

 

anos após a guerra, dois homens tiveram papel marcante na condenação do anti-semitismo

 

pela Igreja. Um é judeu – Jules Isaac, nascido na França; outro é católico – cardeal

 

Agostinho Bea, nascido na Alemanha.

 

Jules Isaac (1877-1963), nascido em Rennes, desde cedo se interessou por

 

história, escreveu livros didáticos para os colegiais, ocupou cargos no Ministério da

 

Educação da França, chegando a ser inspetor-chefe do ensino de História do país. Sua

 

área de pesquisa fora a das causas da Primeira Guerra Mundial. Interessou-se também pela

 

origem das superstições e preconceitos populares. Durante a Segunda Guerra Mundial

 

testemunhou a invasão alemã e conseguiu sobreviver, mas perdeu toda a sua família

 

assassinada pelos nazistas. Foi o fundador do grupo chamado "Amitié

 

Judeo-chretienne", que se tornaria o modelo de muitas organizações desse tipo. Jules

 

Isaac tomou parte ativa no encontro de Seelisberg, fornecendo bases históricas que

 

levariam à revisão da atitude da Igreja para com o judaísmo. Baseados nos estudos

 

bíblicos deste século chegou-se a uma primeira formulação em 1947, em Paris, do programa

 

de retificação do ensino cristão a respeito do anti-semitismo. São os chamados 10

 

Pontos de Seelisberg, fruto de um colóquio judeu-cristão.

 

l. Deve ser relembrado que um só e mesmo Deus nos fala no Antigo e no Novo Testamento.

 

2. Não se pode esquecer que Jesus nasceu de mãe judia, pertencia à família de Davi e

 

ao povo de Israel, e que seu amor eterno abrange o seu povo e o mundo inteiro.

 

3. Recorde-se ainda que os primeiros discípulos, os Apóstolos, e os primeiros mártires

 

eram judeus.

 

4. Tenha-se presente que o principal mandamento do cristianismo, o amor de Deus e do

 

próximo, anunciado no Antigo Testamento e confirmado por Jesus, obriga igualmente,

 

cristãos e judeus, em todas as relações humanas.

 

5. Deve-se evitar diminuir o judaísmo bíblico e pós-bíblico para exaltar o

 

cristianismo.

 

6. Não se deve empregar a palavra "judeu" para designar exclusivamente os

 

inimigos de Jesus, e as palavras "inimigos de Jesus" para designar o povo judeu em

 

seu conjunto.

 

7. Não se deve apresentar a Paixão de Jesus, como se todos os judeus, ou somente os

 

judeus, tivessem incorrido na odiosidade da crucificação. Não foram todos os judeus que

 

pediram a morte de Jesus, nem foram somente judeus que se responsabilizaram por ela. A Cruz,

 

que salva a humanidade, revela que Cristo morreu pelos pecados de todos. Pais e mestres

 

cristãos deveriam ser alertados a respeito de sua grande responsabilidade na maneira de

 

narrar os padecimentos de Jesus. Se o fazem de uma forma superficial, correm o risco de

 

fomentar aversões no coração das crianças ou dos ouvintes. Numa mente simples, movida de

 

um ardente amor compassivo pelo Salvador crucificado, o horror natural dos perseguidores de

 

Jesus pode facilmente tornar-se, por motivos psicológicos, ódio indiscriminado pelo judeu

 

de todos os tempos, inclusive de nossos dias.

 

8. Não se devem evocar as condenações bíblicas e o grito da multidão enraivecida:

 

"Que seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" (Mt 27,25) sem relembrar

 

que esse grito não anulou as palavras de nosso Senhor, de conseqüências incomparavelmente

 

maiores: "Pai, perdoa-lhes; eles não sabem o que fazem" (Lc 23,24).

 

9. É preciso evitar qualquer tentativa de mostrar os judeus como um povo reprovado,

 

amaldiçoado e votado a um sofrimento perpétuo.

 

10. Deve ser mencionado que os primeiros membros da Igreja eram judeus.

 

Os que se reuniram em Seelisberg não podiam ainda imaginar que, com o correr dos anos, o

 

Vaticano tomaria uma posição oficial frente ao anti-semitismo. Baseada nos eventos da

 

Segunda Guerra Mundial, nos estudos históricos, bíblicos e teológicos, a Igreja

 

preparou-se para um pronunciamento oficial.

 

É entre os arquitetos de tal pronunciamento que se destaca a atuação de um jesuíta,

 

nascido na Alemanha. O fato de ser ele alemão representa, além do seu mérito como

 

estudioso, a oportunidade de evitarmos neste capítulo o erro para o qual nos alerta o ponto

 

7 de Seelisberg, o de não imputarmos a todos os alemães a culpa do genocídio perpetrado

 

pelos nazistas.

 

Augustin Bea (1881-1968), alemão nascido em Baden, que um dia iria tornar-se o

 

reitor do Pontifício Instituto Bíblico e depois cardeal de Roma. Foi editor do periódico Bíblica

 

(1930-1950), além de pertencer a uma dezena de organismos internacionais. Biblista de

 

renome, ele dominava 9 idiomas, entre os quais o hebraico e o português.

 

Após a guerra, baseando-se em seus estudos bíblicos e teológicos desafiou a imagem

 

convencional do judeu e do judaísmo e lutou para que fosse corrigida a interpretação que

 

coloca a culpa da crucificação sobre os judeus.

 

Este seria o homem que, em contato com os papas que seguiram o papa Pio XII no Vaticano,

 

seria escolhido mais tarde como presidente do Secretariado para a Unidade dos Cristãos. Seu

 

papel no diálogo inter-religioso foi um dos mais marcantes.

 

H. Do Vaticano II até os nossos dias

 

Na década de 60 intensificaram-se visivelmente entre os cristãos os estudos bíblicos

 

especializados do Antigo e do Novo Testamento, que levaram a encarar com renovado respeito a

 

venerável tradição judaica, onde o cristianismo deita suas raízes históricas. Numa vida

 

cristã ensinada e vivida em suas perspectivas bíblicas, deve Israel logicamente ocupar um

 

lugar de relevo. No passado, muitos cristãos se ativeram insistentemente a preconceitos

 

ideológicos e políticos por se encontrarem bem distanciados das fontes da revelação

 

escriturística. O contato mais assíduo, metódico e científico, com as Escrituras não

 

pode deixar de surtir efeitos benéficos para o relacionamento cristão-judaico.

 

A Igreja Católica, na constituição dogmática "Dei Verbum" do Concílio

 

Vaticano II, asseverou que "não é através da Sagrada Escritura apenas que a Igreja

 

deriva sua certeza a respeito de tudo que foi revelado" (n. 9). "Mas como a

 

Sagrada Escritura deve ser também lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que foi

 

escrita, para apreender com exatidão o sentido dos textos sagrados, deve-se atender, com

 

não menor diligência, ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, levadas em conta a

 

tradição viva da Igreja toda e a analogia da fé".

 

A mútua colaboração no domínio dos estudos bíblicos e rabínicos produziu bons

 

frutos nos pontos comuns e nos divergentes.

 

Primeiramente, vem oferecendo esclarecimentos oportunos e preciosos sobre inúmeras

 

questões doutrinais e científicas do patrimônio espiritual comum.

 

Em segundo lugar, leva a determinar com maior clareza as respectivas opiniões com todos

 

os seus matizes peculiares, as semelhanças e as diferenças, o conteúdo de verdade e o

 

revestimento exterior da linguagem, todos os ângulos, enfim, de uma confrontação corajosa

 

e honesta.

 

A experiência efetivada em vários lugares e ocasiões é de molde a comprovar a

 

validade do método e a encorajar ambas as partes na sua continuidade, através de trabalho

 

consciencioso e perseverante.

 

Num campo de vida interna da Igreja Católica depressa se evidenciou a mudança de

 

mentalidade; o da liturgia. Reformulou a autoridade papal o teor de determinadas preces em

 

uso nos atos de culto da Igreja Católica. Entre essas reformulações figura a que eliminou

 

o odioso apelativo de "pérfidos" dado outrora aos judeus. Na solene ação

 

litúrgica da Sexta-feira Santa, comportava o ritual em voga, após as leituras e a homilia,

 

uma série de "orações comunitárias", chamadas também pela rubrica de 1955 de

 

"orações dos fiéis". Uma delas diz respeito aos judeus. A fórmula primeira

 

fazia alusão à assim chamada perfídia judaica, numa manifesta prova de intolerância. O

 

papa João XXIII (1958-1963) compreendeu a infelicidade da expressão e eliminou-a. No

 

pontificado de Paulo VI, a prece recebeu a seguinte forma:

 

"O Deus, que fizestes vossas promessas a Abraão e seus descendentes, escutai as

 

preces da vossa Igreja. Que o povo da antiga aliança mereça alcançar a plenitude da vossa

 

redenção".

 

Coube ao papa João XXIII enfrentar decisivamente a questão do relacionamento com o

 

judaísmo, movido por especial interesse, fruto de sua inquebrantável convicção pessoal.

 

Quando em 1959, anunciou a celebração do Concílio, teve a imediata intuição de que o

 

labor de purificação da Igreja deveria comportar uma séria e ousada revisão das

 

relações com os judeus.

 

Em vários países, já se diligenciavam esforços, no ensino cristão, com o fito de

 

restaurar a verdadeira imagem do povo judeu. As autoridades eclesiásticas haviam denunciado

 

o anti-semitismo. Fundavam-se ou reorganizavam-se associações de amizade cristão-judaica.

 

Mas o movimento marchava ainda de modo irregular.

 

A tarefa de redigir um pronunciamento da assembléia conciliar foi confiada ao

 

"Secretariado pela União dos Cristãos", dirigido pelo cardeal Bea.

 

Este purpurado desenvolveu extraordinária atividade no período conciliar, presidindo os

 

trabalhos de redação de cinco esquemas, apresentando quatro relatórios, sendo três deles

 

sobre o problema judeu, e fazendo dezoito intervenções, durante as sessões, sempre com

 

profundeza doutrinal, constante preocupação ecumênica e profundo realismo humano. Muito

 

lhe deve a Igreja na preparação do documento sobre as relações com os não-cristãos. Em

 

1961, apresentou um projeto de sete páginas contendo as idéias principais da atual

 

declaração conciliar. Revisto inúmeras vezes, foi o texto concluído em 1962, e devia ser

 

proposto em junho do mesmo ano à Comissão Central, mas inquietantes rumores de agitação

 

arrebentaram nos países árabes. O texto foi retirado de discussão. Começa a sua

 

acidentada história. Foi dos que mais sofreu reações e pressões exteriores. Vista de

 

fora, escalona-se a trajetória desse documento por uma série de episódios, em que as

 

paixões políticas, as coações e os temores, pesaram tanto que, em determinados momentos,

 

ameaçaram até eclipsar o próprio objeto da declaração. Alguns governos do Oriente

 

Médio receavam, sem fundamento, significasse o documento conciliar da Igreja o

 

reconhecimento político do Estado de Israel.

 

A 19 de novembro de 1963, o cardeal Bea apresentou o texto no decurso da duodécima

 

sessão conciliar. Na ocasião, sublinhou tratar-se essencialmente de questão no plano

 

religioso e de se dirigir aos católicos de forma explícita com a finalidade de lhes

 

ensinar a atitude que, à imitação de Cristo, devem adotar relativamente aos judeus. A

 

discussão geral abrangeu todo o período conciliar que vai da 69ª à 72ª congregação.

 

Sucederam-se os oradores e os debates. Chegou-se ao fim da segunda sessão com a questão

 

ainda aberta. Durante a inter-sessão, redobrou o Secretariado as suas atividades. Reuniu o

 

parecer dos Padres num volume de 72 páginas e se ocupou em dissipar os equívocos de

 

natureza política que haviam surgido de todos os lados. A 4 de junho de 1963, falece o papa

 

João XXIII. Duas iniciativas de seu sucessor, o papa Paulo VI, contribuíram para situar o

 

problema no plano decisivo: a fundação do "Secretariado para as Religiões

 

Não-cristãs" e a sua Encíclica "Ecclesiam Suam" (6 de agosto de 1964)

 

sobre o tema: "Por que caminhos deve a Igreja Católica hoje cumprir o seu

 

mandato".

 

Feitas as emendas e correções, o novo texto proposto à assembléia conciliar enfatiza

 

o caráter religioso da questão, bem como a missão de paz e fraternidade própria da

 

Igreja. O debate suscitado, durante a terceira sessão do Concílio, obrigou a que se

 

refundisse pela terceira vez o texto, imprimindo-lhe ainda mais uma orientação positiva.

 

Novamente, na fase de inter-sessão, se acenderam as campanhas de opinião pública e as

 

pressões políticas, advindas principalmente do mundo árabe. Sob o prisma teológico,

 

entram em cena os ortodoxos censurando a colocação do deicídio, por causa de toda a

 

problemática infindável a ele ligada.

 

Reelaborado pelo Secretariado, foi finalmente entregue à discussão do período da

 

quarta sessão. O número 4 que se ocupa das relações específicas da Igreja com o

 

Judaísmo, prendeu a atenção de todos, sendo alvo de numerosas observações.

 

Chegamos assim à etapa final de votação e aprovação do texto, após um longo, penoso

 

e, por vezes, dramático trabalho de elaboração. Em sessão pública de 28 de outubro de

 

1965 foi solenemente promulgado.

 

A partir de então apareceram 3 documentos oficiais que se inspiraram no novo clima

 

criado por "Nostra Aetate" e marcaram as etapas de sua aplicação prática no

 

meio cristão:

 

l. Orientações e sugestões para aplicação do documento promulgado pela Comissão

 

para as Relações Religiosas com o Judaísmo, em 1975.

 

2. A Unicidade de Deus e o testemunho cristão, publicado em 1975 pela Federação

 

Luterana Mundial.

 

3. Considerações ecumênicas sobre o diálogo entre judeus e cristãos,

 

publicado pelo Conselho Mundial das Igrejas em 1982.

 

Surgiram paralelamente dezenas de pronunciamentos e declarações, em várias partes do

 

mundo, com o propósito de valorizar o diálogo.

 

A Comissão do Vaticano para as Relações Religiosas com o Judaísmo foi criada em 1974

 

pelo papa Paulo VI, visando a estabelecer relações com os representantes da comunidade

 

judaica mundial e ao mesmo tempo sensibilizar os católicos a respeito deste novo campo

 

pastoral.

 

Em 1982, o papa João Paulo II presidiu uma reunião desta Comissão, contando com 15

 

países, e concluindo com a fórmula "o diálogo é um autêntico serviço de

 

Igreja".

 

Com data de 24 de junho de 1985, a Comissão para as Relações Religiosas com o

 

Judaísmo, do Vaticano, emitiu um documento intitulado Notas para uma correta

 

apresentação dos judeus e do judaísmo na pregação e na catequese da Igreja Católica.

 

Preliminarmente, justifica a publicação aduzindo palavras do papa João Paulo II

 

(6-3-1982), que retomam a linha da "Nostra Aetate", e as diretrizes para a sua

 

aplicação, no tocante à tarefa do ensino e da educação do cristão nesse sentido. Na

 

primeira parte, reúne em oito itens as razões e as formas do ensino religioso do

 

judaísmo. Estabelece, na segunda parte, os princípios de correlação entre o Antigo e o

 

Novo Testamento. Em seguida, numa terceira parte, mostra quais são as raízes judaicas do

 

cristianismo. Analisa, depois, na quarta parte, a presença dos judeus no Novo Testamento.

 

Aborda brevemente, numa quinta parte, questões relacionadas com a liturgia. Conclui, na

 

sexta parte, com uma apresentação do quadro do judaísmo e do cristianismo na história.

 

Ao rematar todas as considerações, o documento acentua que: "o ensino religioso, a

 

catequese e a pregação devem levar não só à objetividade, à justiça e à tolerância,

 

mas também à compreensão e ao diálogo".

 

O diálogo entre os grupos de fraternidade existentes no mundo é coordenado pelo

 

Conselho Internacional de Cristãos e Judeus (ICCJ), que já organizou uma série de

 

encontros desde 1965, em diversos países do mundo. Seu objetivo consiste em mudar as

 

atitudes unilaterais ou recíprocas, que sejam prejudiciais às relações mútuas.

 

No Brasil, desde 1962, desenvolveu-se um trabalho de relacionamento fraterno entre judeus

 

e cristãos, através do Conselho de Fraternidade Cristão-judaica, que continua a realizar

 

diversas atividades culturais e religiosas, com o objetivo de um conhecimento mútuo e

 

difusão dos laços comuns entre as religiões judaica e cristã.

 

Em 1981, foi criada, por iniciativa da CNBB, a Comissão Nacional do Diálogo com os

 

Judeus, contando com a participação de cinco membros nomeados pela CNBB e cinco judeus

 

convidados pela mesma entidade. Sua finalidade é articular em nível nacional o diálogo

 

oficial da Igreja Católica no Brasil com a comunidade judaica no país.

 

6. COMUNIDADE JUDAICA NO BRASIL

 

Quando Pedro Álvares Cabral zarpou de Portugal, em 1500, trazia consigo Gaspar da Gama,

 

navegador. Judeu de origem polonesa, foi obrigado a converter-se ao cristianismo, durante a

 

Inquisição. Levado para Portugal em 1498, por Vasco da Gama, ganhou a confiança do

 

governante português.

 

Foi Gaspar da Gama que alertou os judeus, convertidos ao cristianismo, sobre a

 

importância que o novo território poderia ter em sua vida. Foi assim que um grupo de

 

cristãos-novos, como eram chamados os conversos, encabeçados por Fernão de Noronha,

 

obteve uma concessão do governo português para a colonização e exploração da nova

 

terra. O mais antigo documento relativo a essa concessão, data de 1502. O contrato definia

 

que os arrendatários se encarregariam de mandar, anualmente, seis barcos para o Brasil,

 

descobririam 300 léguas de novas terras, construiriam e manteriam fortificações nos

 

territórios recém-descobertos. Em troca, era-lhes concedido o monopólio do país, isto

 

é, o corte e a exportação de pau-brasil e de todas as demais mercadorias lucrativas.

 

Em 1503, o próprio Fernão de Noronha participou da primeira expedição, descobrindo,

 

nesse mesmo ano, uma ilha próxima à costa setentrional do Brasil, que chamou de São

 

João, mas que se tornou conhecida sob o nome de Ilha de Fernão de Noronha (atualmente

 

Território de Fernando de Noronha). Colonizou, também, 50 léguas de terras na costa do

 

Brasil.

 

Em reconhecimento pelos serviços prestados no passado e os que se esperavam no futuro,

 

em consideração à descoberta da ilha e pela colonização das terras, D. Manuel, em

 

decreto de 16 de janeiro de 1504, nomeou Fernão de Noronha "Cavaleiro da Coroa" e

 

donatário da ilha por toda a vida, sendo o seu filho mais velho o herdeiro do direito da

 

Capitania. Assim, ele foi o primeiro donatário do Brasil, apesar de que somente em 1532 foi

 

implantado o sistema de Capitanias Hereditárias.

 

Com a implantação desse sistema a migração de cristãos-novos cresceu, pois os

 

arrendatários não conseguiam colonos e foram obrigados a utilizar o único elemento de que

 

dispunham. Mas não restam dúvidas de que foi somente a partir das perseguições iniciadas

 

contra os conversos que a imigração aumentou significativamente.

 

Apesar da Inquisição ter atuado em Portugal desde 1447, quando D. Manuel forçou todos

 

os judeus a se submeterem ao batismo, as restrições não os impediam de imigrar para a

 

colônia. E aqui, cada vez mais, exerciam função preponderante, devido ao seu

 

relacionamento com os indígenas e à exploração comercial do país.

 

Duarte Coelho, governador de Pernambuco, contratou judeus para montarem os engenhos

 

açucareiros. A falta de colonos e as dificuldades enfrentadas pelos portugueses, na

 

colonização e exploração do novo território, forçavam o governo central à tolerância

 

maior para com cristãos-novos. Sua situação tornou-se mais difícil a partir de 1526,

 

quando se estabeleceu em Portugal o Tribunal do Santo Ofício.

 

Vozes da colônia levantaram-se contra a instalação do Santo Ofício no Brasil. Tomé

 

de Souza declarou que não seria possível mantê-lo sem o auxílio de um forte exército,

 

pois os cristãos-novos estavam estabelecidos tão firmemente, que uma perseguição

 

antijudaica poderia, inclusive, provocar distúrbios com a população local.

 

Símbolo de integração dos cristão-novos com a população local foi o casamento de

 

João Ramalho, herói da colonização, com a índia Bartira, filha do poderoso cacique

 

Tibiriçá. Seu relacionamento com os aborígines facilitou, e muito, o estabelecimento de

 

portugueses na região de Santos e de São Paulo. Martim Afonso de Sousa, governador dessa

 

Capitania, conferiu-lhe o título de governador militar de Piratininga. Foi João Ramalho

 

quem impediu o ataque dos índios contra a frota de Martim Afonso, em 1532. João Ramalho

 

nunca se declarou judeu, mas sempre se negou a praticar o cristianismo.

 

Durante o domínio holandês, a vida dos judeus ou cristãos-novos trouxe muitas

 

transformações, entre as quais a liberdade religiosa. A criação da Companhia das Índias

 

Ocidentais foi o início da penetração holandesa no país, através da Bahia, em 1624. Os

 

holandeses adotaram imediatamente uma política de tolerância religiosa e proteção aos

 

residentes da cidade. Com certeza havia judeus vindos na expedição holandesa, apesar de

 

não se saber ao certo o número. Mas os holandeses foram expulsos da Bahia, em 1625. Em

 

1630 voltam a se instalar no Recife.

 

Em 1637 a Companhia das Índias Ocidentais nomeou Maurício de Nassau governador do

 

Brasil Holandês, em Pernambuco. Foi o período de maior prosperidade da comunidade judaica

 

no Brasil, estimulando a vinda de judeus da Holanda.

 

Os judeus exerciam várias profissões. O engenheiro Baltazar d’Afonseca construiu uma

 

ponte para unir a ilha Maurício ao Recife (1640). Porém, a ocupação mais importante dos

 

judeus, sem dúvida nenhuma, era o comércio de ultramar, de importância vital para a

 

colônia. Nos meados do século XVII, há várias resoluções do Governo para que se paguem

 

letras de câmbio a comerciantes judeus por mercadorias remetidas ao Supremo Conselho da

 

Colônia.

 

A imigração de judeus vindos da Holanda marcou a primeira estruturação da comunidade

 

judaica no Brasil. Foram esses imigrantes que organizaram a comunidade do Recife segundo o

 

modelo de Amsterdã, sob o nome de Tzur Israel de 1640 a 1654. Havia uma escola,

 

chamada Etz Hayim – Árvore da Vida, um cemitério e uma sociedade beneficente.

 

Para manter a disciplina foi decretado que poderia haver apenas uma comunidade em cada local

 

e que cada nova congregação deveria receber a aprovação do Recife.

 

Com a saída dos holandeses, em 1654, a vida judaica se desestruturou, as relações

 

comerciais definharam e muitos judeus abandonaram o país, emigrando para outras colônias

 

da Holanda, como Suriname e Curaçau. E recomeçaram as perseguições aos judeus e aos

 

cristãos-novos.

 

Antes mesmo da expulsão dos holandeses, muitos judeus haviam abandonado a região,

 

transferindo-se para o Rio de Janeiro e São Paulo. A atuação da Inquisição mostrou-se

 

negativa para o próprio governo. O confisco dos engenhos açucareiros provocou o

 

estancamento da economia.

 

Com tantas perseguições, os judeus e os cristãos-novos se perderam como grupo

 

distante, porém sua tradição ficou marcada em vários segmentos e valores do povo

 

brasileiro, como as lutas pelo liberalismo. Um de seus maiores expoentes foi Joaquim da

 

Silva Xavier, o Tiradentes, que lutou para conseguir libertar o Brasil do jugo português.

 

Hipólito José da Costa Pereira Fagundes de Mendonça, brasileiro de origem cristã-nova,

 

foi funcionário português, porém teve que abandonar o Brasil devido a suas idéias

 

liberais (1774-1823).

 

As lutas pela independência se estendem por todo o Brasil. A primeira loja maçônica

 

(supõe-se que os fundadores também tinham origem cristã-nova) fundou-se em 1807, na

 

Bahia. Suas atividades, suas idéias tiveram influência em todas as lutas revolucionárias

 

dentro do Brasil, inclusive na revolução de 1820. Logo após a proclamação da

 

Independência, D. Pedro I redigiu a nova Constituição que dava total liberdade de culto.

 

Constituiu-se, então, a primeira congregação religiosa judaica no Brasil, em Belém, em

 

1822.

 

As primeiras comunidades judaicas do Brasil moderno estabeleceram-se no norte do país,

 

durante o governo de Pedro II. Até 1812, a imigração era proibida e, alguns anos mais

 

tarde, o arrendamento de terras a não-católicos também. Posteriormente, com o implemento

 

da colonização em grande escala, o governo brasileiro favoreceu a vinda de italianos,

 

alemães e espanhóis. Com eles, vieram também vários judeus, originários, principalmente

 

da Alemanha, Hungria e países do oeste europeu.

 

As primeiras manifestações de uma vida social judaica criaram-se a partir da vida dos

 

judeus sefaraditas, de Marrocos, que se estabeleceram em Belém, Bahia, Manaus e outros

 

lugares ao norte. Após longa luta para integrarem-se economicamente, esses grupos

 

prosperaram e criaram comunidades bem organizadas, de prestígio e com vários membros

 

atuando dentro da vida política brasileira.

 

As duas comunidades – a da região amazônica e a do Rio de Janeiro – não mantinham

 

entre si quaisquer relações de grupo e apresentavam, aliás, características diferentes.

 

A coletividade amazônica era mais estável. Os judeus marroquinos vinham pelo extremo

 

norte do Brasil com a intenção de ali se radicarem, tendo, em conseqüência, alargado com

 

o tempo o seu campo de atividades, especialmente no setor de navegação e exploração de

 

seringais, afora a sua participação nas atividades públicas e no exercício de cargos

 

oficiais.

 

Já no sul, os judeus, originários do oeste europeu, vinham com o objetivo de tentar uma

 

vida normal. Muitos dedicando-se, no Rio de Janeiro e em Estados vizinhos, às ocupações

 

comerciais.

 

Do Rio de Janeiro e de Belém, os judeus se espalharam por todo o país, principalmente

 

em São Paulo e em Minas Gerais, onde muitas famílias brasileiras, como os Moretzon,

 

Isacson, Prado, Schneider, Figueiredo, são de origem judaica.

 

Na última década do século XIX e durante a primeira do século XX, a imigração

 

judaica cresceu de vulto, multiplicando-se os países de procedência e também as regiões

 

em que os imigrantes passavam a fixar-se no Brasil. Enquanto, até então, os imigrantes

 

judeus provinham quase exclusivamente do norte da África e do Ocidente europeu, já agora

 

passaram a chegar também levas de judeus do Mediterrâneo oriental – Grécia, Turquia,

 

Síria, Líbano e Palestina – bem como da Rússia e países vizinhos. Localizavam-se de

 

preferência na zona sudeste do país – Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais – mas

 

também se disseminando, em pequenos núcleos, por muitos outros Estados, tanto do sul como

 

do nordeste.

 

O quadro das principais concentrações israelitas do Brasil, no ano de 1910 – às

 

vésperas do início da vida judaica organizada no país – pode ser apresentado nestes

 

termos sucintos: no extremo norte – o agrupamento da Amazônia, datando de 1822, isolado e

 

conservador, de origem norte-africana ; no extremo sul – o conjunto de colônias judaicas

 

do Rio Grande do Sul, com imigrantes de origem russa; e no sudeste – o eixo Rio de

 

Janeiro-São Paulo, com numerosos núcleos satélites, resultantes de uma imigração

 

cosmopolita.

 

A imigração judaica ao Brasil, nos anos de 1900 a 1920, é calculada ao redor de 200

 

pessoas. Após a Primeira Guerra Mundial, o número de imigrantes judeus aumentou muito, e

 

calcula-se que, entre 1920 e 1930, entraram no país cerca de 30 mil judeus. A maior parte

 

dessa corrente migratória provinha da Bessarábia, .Romênia e Polônia e era conseqüente

 

à desorganização econômica vigente naqueles países.

 

Durante a Primeira Guerra Mundial surgiram as primeiras instituições judaicas

 

ashquenazitas e sionistas. Em Porto Alegre, foi fundado o jornal em idish, Di Menshheit,

 

provavelmente o primeiro no gênero, no país. Em 1916, no Rio de Janeiro, fundou-se a

 

Sociedade de Assistência das Senhoras Israelitas, cujo objetivo é a beneficência. Mais

 

tarde, outras similares foram fundadas em todo o país.

 

No ano de 1933, a vida judaica penetrou em nova fase, devido ao regime restritivo à

 

imigração, instituído em 1931. Sobreveio no mesmo ano de 1933 o movimento nazista, cujo

 

espectro acabou atingindo as plagas do Brasil.

 

Freada a liberdade de reunião, a vida social judaica ficou por vários anos reduzida a

 

atividades religiosas e beneficentes, cabendo mencionar a este respeito o valioso concurso

 

trazido pelos imigrantes judeu-alemães, que começaram a afluir ao Brasil depois de 1933,

 

os quais, com muita eficiência, organizaram suas próprias instituições.

 

Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, os ideais democráticos voltaram a dominar o

 

país, dando azo a que se reanimasse a vida coletiva dos judeus do Brasil. As sinagogas

 

foram surgindo conforme o aumento da imigração. Após o Holocausto, as ondas migratórias

 

cresceram e o número de instituições judaicas multiplicou-se.

 

Na década de 80 havia cerca de 170.000 judeus no Brasil, sendo 70.000 em São Paulo,

 

cerca de 60.000 no Rio de Janeiro e o restante distribuído em diversas cidades do

 

território nacional.

 

Existem comunidades judaicas desde o extremo norte até o extremo sul. As da Amazônia e

 

Pará, embora em pequeno número, guardam tradição secular. Recife, Salvador, Curitiba,

 

Belo Horizonte contam com centros comunitários bem desenvolvidos. Existem comunidades

 

menores em Niterói, Nilópolis, Petrópolis, Campos, Juiz de Fora, Santos, Campinas,

 

Sorocaba, Franca, Ponta Grossa, Passo Fundo, Pelotas, Santa Maria, Cruz Alta, Santana do

 

Livramento e Uruguaiana. Nas cidades de Fortaleza e Maceió vivem apenas algumas famílias.

 

O incremento demográfico dos judeus no país não é devido somente à imigração. Nos

 

últimos decênios restringe-se mais ao crescimento interno, concorrendo para tanto a

 

convivência comunitária.

 

A coletividade judaica do Brasil é hoje, numericamente, a segunda na América Latina,

 

cuja maior comunidade, 350.000, vive na Argentina.

 

As primeiras sinagogas no Brasil funcionaram, inicialmente, para os serviços religiosos

 

diários, em salas alugadas, até que se tornava possível a construção de uma sede

 

própria. Nas comunidades maiores, por ocasião da celebração das datas mais importantes,

 

tais como Rosh Ha-Shaná e Yom Kipur, alugavam-se especialmente salões

 

espaçosos para acolher todos os fiéis. Convém salientar que, embora ligados a sua fé e a

 

suas tradições, nem todos os judeus professam a religião. Muitos dos primeiros imigrantes

 

aqui chegados, mesmo os que provinham de regiões onde em regra se recebia uma educação

 

religiosa intensiva, só compareciam à sinagoga em ocasiões extremamente solenes, como

 

seja para recitar as orações em memória dos mortos – o Izkor ou o Kadish.

 

Marcando o início da vida associativa, fundou-se no Rio de Janeiro, em 1910, a primeira

 

sinagoga congregando elementos ashkenazim, denominada Centro Israelita do Rio de Janeiro.

 

Posteriormente, na Praça 11 de Junho, onde estavam concentrados os judeus da referida

 

origem, surgiram, sucessivamente, as sinagogas Beth Jacob, Beth Israel, Mahzikei Hadas, Adas

 

Israel e Ezras Israel. A comunidade sefaradita já possuía sua sinagoga desde 1846. Nas

 

comunidades do interior do Brasil, desde o Norte até o Sul, o início da vida associativa

 

se processava do mesmo modo. Ainda hoje, apesar de no Rio de Janeiro e em São Paulo já se

 

terem construído grandes sinagogas em vários bairros, funcionam "minyanim"

 

em locais alugados, e nas grandes datas, que congregam maior número de fiéis, celebram se

 

orações em sinagogas provisoriamente montadas. Também no interior ocorre o mesmo fato.

 

O culto nas sinagogas do Brasil segue, na sua maioria, o rito ortodoxo. Verificam-se,

 

todavia, certas nuanças diferenciais entre os sefaradim e ashkenazim. Com a

 

chegada dos judeus alemães foram instaladas, primeiro no Rio de Janeiro, depois em São

 

Paulo, e ultimamente em Porto Alegre, as sinagogas de corrente-liberal.

 

A aproximação mútua entre a coletividade judaica e a população geral se manifesta

 

através de mostras de solidariedade e reconhecimento, tanto por parte do povo como das

 

autoridades do país. Convém citar como exemplo os seguintes fatos:

 

No Rio de Janeiro existem escolas públicas com os nomes de Anne Frank, Estado de Israel,

 

David José Perez, este homenageado pelos relevantes serviços prestados como educador, e

 

Wolff K. Klabin, como reconhecimento pelo muito que realizou como homem de empresa, no campo

 

da beneficência e filantropia; ruas com nome de Theodor Herzl e Stefan Zweig, praças com

 

nome de David Ben Gurion e Haím Weizmann, e um busto em jardim público, na Glória, em

 

homenagem a Lasar Segall.

 

Em São Paulo existe a Avenida Albert Einstein, ruas com nome do Estado de Israel,

 

Alexandre Levy , Embaixador Horácio Lefer, Heróis de Varsóvia, Theodor Herzl e

 

Combatentes do Gueto. Em Santos há uma rua com o nome de Estado de Israel.

 

Em Porto Alegre, encontram-se a Praça Theodor Herzl, a Rua Estado de Israel e o Colégio

 

Anne Frank, e o Monumento aos Farrapos que foi doado à cidade pela coletividade judaica.

 

Em várias outras cidades do país, logradouros públicos levam o nome do Estado de

 

Israel e de figuras judaicas eminentes.

 

7. QUESTOES PRÁTICAS

 

A. Catequese

 

A catequese foi sempre considerada pela Igreja como uma de suas tarefas prioritárias.

 

Através da catequese, a Igreja transmite de modo orgânico os princípios da fé, sua

 

tradição e a prática que deve acompanhar esta fé. Por isso, a catequese é também o

 

meio privilegiado de preservar idéias e práticas tornando-as cada vez mais conformes com o

 

evangelho.

 

A catequese é fonte de vida, partilha e comunicação das experiências de Deus, feita

 

pelos homens e pelo povo de Deus através dos tempos que encontramos na Escritura e na

 

Tradição. Não é um simples saber ou conhecimento do Novo Testamento. Trata-se da

 

experiência, visão e espírito bíblico do Deus que se revela na história e que se dá a

 

conhecer.

 

A transmissão desta experiência de Deus na história coloca-nos diante do povo de

 

Israel. Ela se faz através das Escrituras e do próprio povo judeu que nos deu Jesus

 

Cristo.

 

Raízes e herança judaica

 

As primeiras comunidades judeu-cristãs se formaram através de Jesus e de seu povo.

 

Delas recebemos um patrimônio pelo qual nos tornamos responsáveis.

 

● O Novo Testamento está profundamente marcado por suas relações com o Antigo

 

Testamento. Um dos princípios orientadores da catequese é lembrar que o Antigo Testamento

 

é primeiramente Escritura judaica, comum a judeus e cristãos.

 

● Jesus, Maria e os primeiros discípulos eram judeus. Foram os primeiros a aceitar

 

Jesus como Messias. Jesus nasceu, viveu e morreu como judeu.

 

● O judaísmo no tempo de Jesus não era uma unidade homogênea, mas bastante

 

complexa. O conhecimento dessa complexidade evitará a perpetuação de diversos

 

preconceitos, estereótipos de espírito antijudaico. Perceber as divergências religiosas

 

entre saduceus, zelotas, essênios, fariseus. Aprofundar sobretudo o conhecimento do fariseu

 

a partir da tradição judaica, e não somente da apresentação que se faz no Novo

 

Testamento surgido num contexto polêmico. Descobrir a importância dos mestres judeus no

 

tempo de Jesus, o seu respeito pela Escritura. A busca e a interpretação das mesmas

 

Escrituras. O midrash e sua utilização pelos mestres, a tradição oral e o método

 

pedagógico próprio do ensino nas sinagogas. Situar Jesus Mestre no contexto dos mestres de

 

seu tempo, para melhor descobrir sua pedagogia e assim melhor transmitir sua mensagem.

 

● Ressaltam-se a importância da sinagoga e seu 1ugar na vida judaica desde o tempo

 

de Jesus, a liturgia sinagogal e as festas judaicas vividas por Jesus e pelo povo judeu

 

hoje, o sábado e a santificação do tempo, as raízes da liturgia cristã radicadas na

 

liturgia judaica.

 

● O judaísmo não terminou em 70 com a destruição do Templo. Foi o que pensaram

 

os cristãos durante séculos. Os cristãos do século XX convivem com o povo judeu e com o

 

Estado de Israel.

 

O respeito pelas Escrituras

 

Para o judeu, a Bíblia é o livro por excelência, sempre atual e presente pela mensagem

 

que traz para a vida religiosa, ritual e social, em sua concepção de Deus, do homem e do

 

mundo.

 

Até o exílio de Babilônia, a vida e a prática religiosa do povo judeu estavam

 

centralizadas no Templo de Jerusalém. No exílio, toda a vida judaica organizou-se em torno

 

da Palavra e, posteriormente, fez-se a sistematização das Escrituras. No tempo de Jesus,

 

já era conhecida na ordem que encontramos hoje: Toráh – Pentateuco, os 5 livros

 

de Moisés; Nebiím – Profetas e Ketubím – Escritos.

 

As iniciais de Toráh, Nebiím e Ketubim formam o TaNaK.

 

De todos os livros bíblicos, a Toráh ocupa o lugar mais eminente na tradição e na

 

liturgia judaica.

 

A Toráh é a parte mais antiga da Bíblia e teria sido escrita por Moisés.

 

Contém as verdades fundamentais sobre Deus e sobre o homem. Constitui um caminho para a

 

vida religiosa e moral do indivíduo , é a garantia de unidade e perenidade do povo judeu.

 

Durante todos os séculos, a Torá foi lida, estudada e comentada. Além de ser um

 

código legal, é para os judeus uma fonte de vida onde jorra o modelo de sua história e

 

suas leis, que alimentam sua fidelidade ao Deus Único.

 

Nebiím (profetas) é formado por duas partes: os primeiros profetas,

 

que compreendem os livros de Josué, Juizes, I e II de Samuel, I e II Reis, constituindo as

 

narrativas que seguem a Torá e a conquista da Terra até a destruição do Templo de

 

Jerusalém (586 a.C.), e os posteriores Profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os 12

 

ou menores profetas. Os profetas menores são formados pelos 12 livros

 

colocados na Bíblia hebraica depois do livro de Ezequiel.

 

Ketubím, terceira parte da Bíblia, em termo grego Hagiógrafos. Abrange

 

os Salmos, Provérbios. Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Coélet, Ester,

 

Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.

 

Quando Jesus fala aos discípulos sobre os acontecimentos, ele diz: "Isto é o que

 

vos dizia quando ainda estava convosco. Era necessário que se cumprisse tudo o que de mim

 

está escrito na Lei de Moisés (Toráh), nos Profetas (Nebiím) e nos

 

Salmos (Escritos)".

 

Tradição oral – Toráh oral

 

A Toráh é o centro de onde tudo se irradia e para o qual toda a vida judaica

 

converge. Consciente de tudo o que ela significa, o povo judeu desenvolveu uma verdadeira

 

veneração pela Toráh.

 

A Toráh é doutrina, ensinamento, instrução, direção e também lei. É

 

doutrina essencialmente voltada para a prática, é Revelação enquanto expressão da

 

vontade divina a ser realizada e obedecida, caminho de justiça, de santidade, de verdade

 

que leva à vida. Ao lado da Escritura, Toráh escrita, temos a Toráh oral

 

que tem a mesma autoridade. Foi codificada aos poucos pela literatura rabínica.

 

De acordo com a posição tradicional judaica, se a Toráh escrita data

 

diretamente de Moisés e contém uma revelação recebida no Sinai, a mesma coisa se afirma

 

da Toráh oral. Sua função é dupla: de um lado ela completa, de outro ela

 

interpreta e aplica a Toráh escrita. O problema da aplicação da Torá

 

escrita não cessa de se colocar em todas as épocas.

 

A tradição oral – tradição interpretativa – foi transmitida pelos mestres

 

oralmente desde o exílio. Essas interpretações foram recolhidas por escrito, durante os

 

séculos II a VIII d.C., dando nascimento às obras que conhecemos como Talmud e Midrash.

 

O Talmud inclui dois diferentes elementos: a Halakáh (lei) e a Hagadáh

 

(narração). A Halakáh reúne os estatutos da oração oral, enriquecidos

 

pelas discussões das escolas da Palestina e da Babilônia, para alcançar as fórmulas

 

definitivas da Lei. A Hagadáh, partindo também do texto bíblico, ensina por meio

 

de lendas, alegorias, reflexões de moral e reminiscências históricas. A palavra Talmud

 

referia-se, no princípio, somente à Guemará; posteriormente o nome veio a ser

 

aplicado a ambos: Mishnáh e Guemará e têm a seguinte relação entre si: a

 

primeira é o texto e a segunda o comentário. O Talmud consiste de sessenta e três

 

livros legais, éticos e históricos escritos pelos antigos rabis.

 

A palavra Midrash significa "interpretação" e designa a exegese

 

bíblica baseada no método de "drash", que é uma análise minuciosa e

 

microscópica do texto bíblico, verso por verso, e às vezes, letra por letra. Esta

 

análise se aplicava tanto a textos jurídico-religiosos como folclóricos ou históricos.

 

No primeiro caso se trata de Midrash Halakáh e no segundo, de Midrash

 

Hagadáh. Essas foram as duas formas mais antigas da exposição midráshica, que deram

 

origem às duas grandes categorias em que se divide o Talmud, Halakáh

 

e Hagadáh. O modo de interpretar e fazer "midrash" era comum aos

 

tempos de Jesus. Através de parábolas, pequenas histórias, fatos, citação da Escritura,

 

explicava-se o que Deus e a vontade divina esperavam e convocavam o povo a realizar. Nos

 

Evangelhos, vamos encontrar inúmeras parábolas de midrash hagádico e também

 

comentários haláhicos.

 

Judaísmo no tempo de Jesus

 

O judaísmo no tempo de Jesus não era uma realidade homogênea. Os estudos históricos e

 

interpretativos do Novo Testamento descobrem, cada vez mais, que os evangelhos são

 

testemunhos de diversas comunidades que floresceram em realidades diferentes. Para

 

compreender o nascimento das Escrituras nas comunidades cristãs, é preciso hoje recorrer

 

à história e tradição judaicas. Não podemos mais falar dos judeus sem perguntar como os

 

judeus se compreendiam e como viviam nos primeiros séculos de nossa era.

 

A complexidade da vida judaica no tempo de Jesus é atestada pelos próprios evangelhos.

 

Neles encontramos diversas categorias ou grupos de judeus: escribas, doutores da lei,

 

saduceus, zelotas, fariseus e, implicitamente, o modo de vida dos essênios. O que une estes

 

diferentes judeus é a Toráh, e o que os torna distintos é o modo de expressá-la e

 

portanto de vivê-la.

 

Saduceus – Em sua maioria, pertenciam à aristocracia sacerdotal,

 

famílias ricas da aristocracia, dirigentes do povo. Sua autoridade se relacionava sobretudo

 

com o que dizia respeito ao culto do Templo em Jerusalém. Colaboravam com os romanos, pois

 

gozavam de muitos privilégios e, por isso, mantinham e lutavam pelo "status quo".

 

Temiam todo movimento ou manifestação de transformação social, econômica, política ou

 

religiosa. Desde o tempo dos Macabeus, eram inimigos dos fariseus. Este grupo desapareceu no

 

ano 70 com a destruição do Templo. No plano religioso, só aceitavam a Toráh

 

escrita. Não acreditavam na ressurreição e nem nutriam o ideal messiânico.

 

Herodianos – O nome vem de Herodes, o Grande. Eram membros da casa de

 

Herodes e de sua corte. Faziam parte da administração estatal. Apoiavam a dinastia de

 

Herodes e, por isso, eram mais numerosos na Galiléia. Eram próximos dos saduceus pelos

 

interesses e privilégios. No entanto, no que se refere ao imposto sonegado a Roma, estavam

 

próximos dos zelotas, pois alimentavam o ideal de libertação da Galiléia do jugo romano.

 

Faziam alianças de diversos tipos. Procuravam aproximar-se dos fariseus, pois tinham

 

consciência da influência popular de que estes gozavam.

 

Essênios – De um modo geral, contrastavam com todo o conjunto da vida

 

de Israel. Viviam separados, em oposição aos outros grupos. Possuíam uma organização

 

comunitária muito rígida, de espiritualidade apocalíptica, com a idéia de representar o

 

verdadeiro Israel. Não tinham propriedade privada. Tudo era comum: casas, terras, rebanhos,

 

roupas. Um membro eleito era responsável pelo recebimento de todo o lucro e pela compra do

 

que era necessário à comunidade. O comércio era proibido entre eles. Recusavam-se a

 

fabricar armas, e sua lei fundamental era viver em paz e do produto do próprio trabalho,

 

evitando tudo o que pudesse fazer mal a outrem.

 

Muitas comunidades de essênios viveram próximo de aldeias ou nos desertos. O sinal

 

exterior característico era uma túnica branca dada a todo neófito que se interessava pela

 

comunidade.

 

Até bem pouco tempo, os essênios eram conhecidos somente pelos historiadores antigos. A

 

partir de 1947, com as descobertas de Qumrã, grutas que ficam às margens do mar Morto,

 

eles se tornaram mais conhecidos. Nestas grutas, foram encontrados muitos documentos da

 

comunidade, manuscritos que revelam o modo de vida dos essênios.

 

Fariseus – A origem dos fariseus parece datar da época dos Macabeus

 

(1Mc 2,42; 7,13). No entanto, o movimento tem suas raízes no exílio e na volta do exílio,

 

com Esdras e Neemias (Ne 8,7-8). Foi a partir desta época que a profissão do escriba

 

passou a ser exercida, não somente pelos sacerdotes, mas também por leigos. Ligados,

 

portanto, aos leigos, estudando e ensinando a Toráh, estes escribas aos poucos

 

começaram a exercer a mesma função de liderança espiritual até então reservada aos

 

sacerdotes. No início, eram pouco numerosos. Os fariseus são homens do povo: trabalhadores

 

rurais, artesãos e comerciantes etc...

 

Convencidos de que Deus deu a Toráh a todo o povo e não somente aos descendentes

 

de Levi (Ex 19,6), deduziram que não era necessário ser sacerdote para conhecer, ensinar e

 

praticar toda a Toráh. Um doutor da lei leigo ou um filho de prosélito (convertido)

 

vale mais do que um sumo sacerdote que ignora e não cumpre a Toráh.

 

No tempo de Jesus, os fariseus representavam as crenças, práticas religiosas e atitudes

 

sociais da maioria dos judeus. Eram recrutados em todos os meios sociais, mas

 

particularmente nos meios modestos das aldeias, onde a presença de uma sinagoga e, mais

 

tarde, de uma escola permitiam estudar a Toráh aos pés de um mestre.

 

Havia um período de formação. Primeiro estudar a Toráh com o mestre, aprender

 

a praticar a Toráh de modo a estar sempre em estado de pureza ritual: observar o

 

sábado, as festas, orar, pagar o dízimo, comer somente o permitido e se portar em tudo

 

como judeu-modelo. Após esta iniciação, a pessoa era admitida nas "haburot

 

" (amigos, companheiros), confraria farisaica. As "haburot"

 

eram abertas a todos, mas só se recebiam como membros os que levavam vida digna de membro

 

do "povo de sacerdotes, nação santa", que deveria ser todo Israel.

 

Mas não podemos considerar os fariseus um grupo homogêneo. Há mesmo duas tendências

 

opostas que dividem os fariseus. Duas grandes escolas: Shamai e Hillel. A escola de Shamai

 

representa uma tendência rígida, menos humana e mais aristocrática. Até o ano de 41

 

d.C., antes do rei Agripa, os shamaítas vindos de famílias ricas foram mais fortes e

 

tiveram influência junto aos saduceus. Os sacerdotes que pertenciam ao farisaísmo vinham,

 

em sua maioria, da escola de Shamai. Após 70, eles sobreviveram por algum tempo em Lod, mas

 

foi a tendência de Hillel que se impôs no final do século I d.C.

 

A escola de Hillel é mais humana e próxima do ensinamento de Jesus. A "regra de

 

ouro" que encontramos em Lc 6,31: "Não faças ao outro o que não queres que

 

façam a ti", aparece também na tradição judaica como sendo de Hillel. Paulo foi

 

discípulo de Gamaliel I que, por sua vez, era discípulo de Hillel.

 

Geralmente, os fariseus admitiam o princípio de evolução em suas decisões legais, ao

 

passo que os saduceus eram incapazes de adaptação a um ambiente em fase de evolução. Os

 

fariseus eram assim, em geral, brandos em suas interpretações, enquanto os saduceus se

 

apegavam à letra do texto escrito. Os fariseus colocavam a vida da nação dentro de uma

 

estrutura haláhica expressa na Lei oral que consideravam não menos vital que a Lei escrita

 

(a Bíblia). Sua doutrina aspirava a cobrir a vida inteira da comunidade, tocando portanto

 

nos fundamentos teológicos da vida, nas questões de destino, de bem e de mal, de

 

imortalidade da alma e de escatologia.

 

Os próprios evangelhos são testemunho da importância dos fariseus. E a idéia que

 

temos do fariseu se tornou o modo mais comum de transmitirmos nossas idéias sobre os judeus

 

e o judaísmo.

 

Nos evangelhos, os fariseus vêm assimilados aos saduceus, sumo sacerdotes e escribas,

 

dando do fariseu uma idéia homogênea que se transformou em sinônimo de hipócrita,

 

legalista, rigorista. Este modo de considerar o fariseu como maior adversário de Jesus,

 

talvez não venha do contexto histórico vivido por Jesus, e sim das comunidades cristãs e

 

judeu-cristãs, após a destruição do Templo e da Revolta Judaica de 135. A partir desta

 

época os fariseus assumiram a organização e a direção espiritual do judaísmo.

 

Zelotas – Procuravam implantar o Reino de Deus através de ações

 

concretas. Representavam o nacionalismo judeu mais rigoroso. O nome zelota vem de "zelo

 

pela lei", apoiados no ideal que remonta ao profeta Elias. Na grande maioria,

 

pertenciam às camadas rurais mais pobres. Combatiam a dominação romana que criava uma

 

realidade injusta. Vários autores indicam o início do movimento zelota com Judas, galileu,

 

logo após a morte de Herodes, quando a Judéia foi transformada em província romana.

 

Consideravam o político e religioso intrinsecamente ligados; por isso, através da luta

 

armada, cooperavam com a "vinda do Reino de Deus". Estavam dispostos a atacar e

 

matar não só os romanos e estrangeiros, mas também os judeus colaboracionistas.

 

A conversão consistia na solidariedade, disponibilidade total e, se preciso fosse, até

 

o martírio.

 

Sinagoga – A origem da sinagoga permanece ainda obscura. A opinião mais

 

provável é que ela começou a existir em Babilônia, durante o exílio, como substitutivo

 

do serviço do Templo, ou talvez como imediata necessidade para os exilados se

 

reencontrarem. Introduzida por Esdras na Palestina, logo se difundiu por toda a Erets

 

Yisraêl. Alguns eruditos já defenderam a tese de que ela foi criação palestinense,

 

inclusive anterior ao Templo, no tempo da reforma de Josias. A existência de sinagogas no

 

século III a.C., no Egito, é documentada por inscrições e papiros. As descobertas de

 

Delos são os testemunhos mais remotos. De qualquer sorte, a instituição sinagogal cresceu

 

com o tempo e conheceu várias formas de existência. É o centro religioso, cultural e

 

social da coletividade judaica. A palavra, que é de origem grega, significa reunião e é

 

sinônima da palavra `ibrit: Kneçet.

 

Contudo, no tempo de Jesus, vemos que elas estão em pleno florescimento também em

 

Israel, desempenhando um papel importante mesmo na liturgia do Templo.

 

Após a destruição do Templo em 70 e o fim do culto dos sacrifícios, a sinagoga

 

tornou-se o "lugar" da vida religiosa, social e intelectual dos judeus até nossos

 

dias.

 

● O sábado – Shabat – O Shabat começa na sexta-feira à tarde e

 

termina no sábado à tarde. A partir do Decálogo e do conjunto da Lei judaica, este dia é

 

um dia que não se trabalha. É um dia de repouso, de louvor ao Deus Único, Criador.

 

Antes que chegue a tarde de sexta-feira, tudo deve estar preparado. Em casa a mesa é

 

posta, a mãe de família acende as velas do sábado com a "bênção da luz", e o

 

pai pronunciará a bênção do vinho. Na sinagoga o ofício é celebrado com salmos e hinos

 

próprios para acolher o sábado, e a bênção do vinho "Qidush" também

 

é cantada. De volta a casa, as famílias se reúnem para a refeição preparada com carinho

 

especial e onde se encontram entre amigos. O dia de sábado é reservado para a oração,

 

estudo, visita aos doentes e aos amigos.

 

No ofício matutino da sinagoga, é lida a Toráh que é retirada solenemente do

 

seu lugar especial – Arca Santa. Juntamente com a Toráh é lido um trecho dos

 

profetas, às vezes seguido de homilia.

 

Na tradição judaica, o Shabat é sinal da Aliança entre Deus e a Criação.

 

Sendo Israel o povo da Aliança, o sábado é o sinal por excelência desta Aliança entre

 

Deus e Israel (Ex 31,13).

 

Para o judeu, guardar o sábado é testemunhar no meio dos homens o elo que os une a Deus

 

que é proclamado como:

 

– Fonte de vida e de liberdade para o homem (Dt 5,15).

 

– Criador do Universo (Ex 31,17).

 

– Igualdade de todos os homens. Todos são filhos de Deus e portanto devem neste dia

 

formar uma unidade diante do Criador (Dt 5,14).

 

O cristão conhece o Shabat pelos evangelhos. Jesus freqüentava a sinagoga aos

 

sábados (cf. Lc 4,16-20; 6,6, e outros).

 

● Calendário judaico – O primeiro traço com que deparamos, analisando o

 

calendário judaico, é a sua origem, ao mesmo tempo solar e lunar. De fato, o ano é solar

 

e os meses são lunares. A duração do ano está determinada pelo tempo de evolução da

 

terra ao redor do sol, ou seja, 365 dias e um quarto. Compreende também doze meses; visto

 

porém serem lunares, e somarem portanto, ao todo 354 dias e meio, aparece uma diferença de

 

11 dias entre a extensão do ano solar e a do lunar. Para acertar o equilíbrio entre ambos,

 

recorre-se ao ano de 13 meses, entremeado dos anos comuns. A proporção é de 7 anos de `ibur

 

para um ciclo de 19 anos comuns, ao cabo dos quais a diferença é sanada. A duração do

 

mês judaico é determinada pelo tempo que leva a lua em fazer a evolução ao redor da

 

terra, isto é, 29 dias e meio. Como era preciso dar ao mês uma duração mais definida,

 

por motivos práticos, facilmente explicáveis, atribuíram-se 29 dias a alguns e 30 a

 

outros. Deste modo há no ano judaico cinco meses de 29 dias, cinco de 30, e dois cuja

 

duração varia de ano para ano. O mês começa com a lua nova, e o primeiro dia chama-se Rôsh

 

Hôdesh. Para os atos religiosos, os hebreus adotaram uma contagem, criando o

 

calendário conforme cálculos baseados na Bíblia, que situariam a criação do mundo,

 

3.760 anos a.C.

 

B. Convivência

 

O encontro do judeu com o cristão não se efetua a partir do zero. Os séculos colocaram

 

no caminho do diálogo muitos ressentimentos, suspeitas e mitos que precisam ser superados.

 

I. O primeiro obstáculo a ser removido são os mitos, pois o próprio judeu para muitos

 

continua sendo um mito. Há mitos que tratam o judeu como sendo um ser irreal,

 

atribuindo-lhe qualidades acima dos outros povos, e há os mitos negativos que fazem do

 

judeu um aliado do diabo. No folclore medieval, o judeu era visto como tendo um pacto com o

 

diabo, levando o crédulo à inferência de que batendo no judeu estava praticando um ato

 

meritório de fustigar o diabo.

 

Para que haja diálogo precisamos, revendo os mitos, encontrar O OUTRO antes de tudo COMO

 

SER HUMANO. Como em qualquer agrupamento humano, podem ser encontrados entre os judeus os

 

praticantes e os apáticos, os inteligentes e os retardados, os honestos e os desonestos, os

 

politicamente ativos e os alienados etc.

 

Assim sendo, na primeira fase da convivência deixemos que a realidade confronte o mito.

 

Vide sugestões concretas para o debate no Item A – A luta contra o preconceito.

 

II. Se quisermos abordar a convivência de judeus e cristãos, teremos que enfrentar

 

também uma suspeita: os judeus desconfiam que o diálogo religioso é travado pelos

 

cristãos com a meta de convertê-los. Esta suspeita não é infundada, pois no passado o

 

diálogo era em geral mantido com esta intenção. Não há verdadeiro diálogo, se o outro

 

é visto como um candidato à conversão. Como a meta é a convivência, cabe evitar a

 

doutrinação e o monólogo e substituí-los por um interesse genuíno nas diferenças e

 

semelhanças das duas tradições. Uma lista de perguntas no Item B – Conhecendo o

 

judaísmo – serve para provocar indagações que de fato reflitam a curiosidade dos

 

interlocutores.

 

III. O reconhecimento mútuo, em nível de religiões, requer entre outros quesitos as

 

seguintes posturas: para a convivência, é necessário compreender que os judeus consideram

 

o Antigo Testamento não como um prefácio do Novo. Seria de grande proveito para o

 

diálogo, se os interlocutores abordassem o texto "deixando o texto falar".

 

Obviamente cada um dos leitores da Bíblia vem ao texto com uma série de associações de

 

sua doutrina; trata-se de sua tradição da leitura do texto. Esta tradição interessante,

 

e valiosa em si, muitas vezes abafa uma leitura renovada do texto. Propõe-se uma atitude

 

sem idéias predeterminadas ao ler o texto do Antigo Testamento; sugere-se que o façamos

 

com os olhos de quem o encontra pela primeira vez. Isto possibilitará o diálogo.

 

Em uma segunda fase nada impede de comparar como cada grupo compreendeu e interpretou um

 

determinado texto à luz de sua tradição de ler as Escrituras.

 

Ao abordar textos, deve-se levar em conta um perigo que decorre da utilização cristã

 

do Antigo Testamento, na sua polêmica do passado contra o judaísmo. Ao apresentar o

 

"Velho" Testamento como uma preparação para o Novo, foi freqüente o hábito de

 

contrastar os dois testamentos sempre com o intuito de mostrar a altura espiritual

 

alcançada pelo Novo. Um ataque freqüente foi, por exemplo, que o Deus do "Velho"

 

Testamento é o Deus da Justiça, enquanto o do Novo Testamento é o Deus do Amor. Justiça

 

sem amor certamente se transformaria em tirania, como amor sem justiça não seria mais do

 

que sentimentalismo. A verdade é que os que escreveram o Novo Testamento também souberam

 

invocar a ira divina sobre os pecadores, enquanto os que escreveram a Bíblia hebraica

 

também souberam falar com ternura do Amor divino. Há alguma exposição mais nobre do Amor

 

de Deus do que o livro de Jonas, o Cântico dos Cânticos, o livro de Oséias e muitos dos

 

Salmos?

 

Para compreender o judaísmo, uma outra necessidade seria o estudo da criatividade

 

literária dos judeus nos primeiros cinco séculos da era cristã, literatura esta quase

 

completamente ignorada pelos cristãos. Seria de grande vantagem corrigir a visão errônea

 

de que o judaísmo na época de Jesus era "legalismo sem alma". O judaísmo

 

conservou toda a sua vitalidade na época da Mishnáh (séc. I e II), do Talmud

 

(séc. III a V) e dos Midrashim. Existem criações espirituais de valor,

 

interpretações e correntes das mais variadas. O item C sugere o estudo de algumas fontes.

 

IV. Por esta razão, ao contrastar as duas religiões, deve-se tentar reconhecer o

 

judaísmo como sendo uma religião completa, com sua própria criatividade, com seus

 

aspectos espirituais originais, e isto requer uma nova postura para a convivência.

 

Um destes quesitos se refere à culpa dos judeus. Tendo os judeus de hoje sido absolvidos

 

pelo Concílio Vaticano II da culpa de "deicídio", não mais se pode considerar

 

os judeus como amaldiçoados. Contudo o sofrimento judaico neste século requer uma nova

 

explicação. O Item D ousa sugerir uma fonte bíblica que merece ser estudada.

 

V. Um último requisito para uma convivência necessita ser abordado: o Antigo Testamento

 

foi usado indevidamente contra os judeus. Dentro da polêmica do passado, as denúncias das

 

transgressões do povo foram mantidas como referentes aos judeus, enquanto as mensagens

 

positivas do futuro de Israel foram tomadas como referentes à Igreja. Com isto ficaram para

 

os judeus as acusações, mas não as promessas.

 

Item A – A luta contra o preconceito

 

Alguém do grupo conhece um judeu? Em que medida os presentes que não conhecem judeus

 

têm idéias preconcebidas? Há preconceitos na nossa sociedade? Estereótipos quanto a

 

japoneses, negros etc. poderiam ser analisados.

 

 

Debate: Em que medida a malhação de Judas, tradição folclórica (conscientemente

 

ou inconscientemente) ajuda a fortalecer preconceitos, violência, contra os judeus?

 

Sensibilizar o grupo para o uso de palavras que levam uma carga preconceituosa em nossa

 

língua.

 

Exemplos: O verbo judiar, trabalho de negro, negro com alma de branco, judeu

 

errante etc.

 

Item B – Conhecendo o judaísmo

 

Sugestões – Visitar uma sinagoga. Planejar um Sêder. Explicar o que é

 

a Toráh (rolo ainda hoje escrito a mão, lido na sinagoga). Analisar uma reza

 

judaica.

 

Dar exemplos de organizações de judeus que ajudam judeus. Exemplos de contribuições

 

de judeus para a cidade, o estado e o país. Contribuições de judeus à humanidade.

 

Por que os judeus que chegaram ao Brasil começaram como comerciantes?

 

Por que os judeus não acreditam em Jesus?

 

O Estado de Israel é como o Vaticano?

 

Por que há necessidade de um Estado de Israel?

 

Qual a diferença entre israelita e israelense?

 

Qual a diferença entre israelita e judeu?

 

O judaísmo crê em outro mundo?

 

Quais são os ideais proféticos de Justiça Social?

 

O Universal e o Nacional no judaísmo?

 

Estas perguntas não formam uma seqüência, ou um curso, elas são aqui enumeradas

 

unicamente para sugerir outras indagações.

 

Item C – Fontes de estudos sobre a Mishnáh e o Talmud

 

Existe uma obra chamada Ética dos pais, que inclui dezenas de frases dos mais

 

variados mestres da Mishnáh. Foi traduzida ao português e oferece amplo panorama do

 

pensamento da época. Também as biografias de cada sábio mencionado oferecem inspiração.

 

Há várias obras com frases do Talmud, mas deve-se levar em conta que na imensa

 

literatura talmúdica, que é muito democrática, há opiniões das mais variadas e nem

 

todos os pronunciamentos são normativos do judaísmo.

 

Item DSofrimento

 

Propomos o estudo do livro de Jó, onde o sofrimento é abordado sem que haja culpa.

 

Propomos que em algum momento se aborde o Holocausto com seus 6 milhões de vítimas. Há

 

muitos livros que contam a coragem e os sofrimentos tanto de judeus, como de não-judeus,

 

que se arriscaram para salvar vidas.

 

Projetos futuros:

 

Há no campo pedagógico um vasto trabalho a ser realizado.

 

Há necessidade de criar bibliografias de material existente.

 

Existe material audiovisual sobre a vida dos judeus de hoje, costumes, objetos rituais etc.,

 

mas este material precisa ser coletado e distribuído.

 

Deve-se criar cursos para preparar o diálogo nos seminários.

 

Impõe-se uma exegese que ajude a colocar os textos de épocas anteriores sob a perspectiva

 

histórica, mostrando o contexto de afirmações polêmicas, e que se façam correções de

 

textos usados para ensino.

 

Muitos projetos estão começando a se delinear.

 

C. Casamentos mistos

 

Em primeiro lugar, é importante definir "casamento misto". O termo se refere

 

ao matrimônio entre duas pessoas de credos diferentes, cada uma das quais decidiu manter

 

sua própria religião. Se um dos noivos se converteu anteriormente ao credo do outro, o

 

casamento não é considerado "misto".

 

Por que o judaísmo é oficialmente e quase universalmente contrário a casamentos

 

mistos?

 

É ponto pacífico que todos os rabinos ortodoxos ou de orientação tradicional são

 

unanimemente contra os casamentos mistos. É oportuno mencionar que também a maioria dos

 

rabinos reformistas tem a maior relutância em celebrar tais cerimônias.

 

Por quê? Qual o motivo dessa oposição?

 

Existem duas razões. A primeira é mais importante: a probabilidade de insucesso de tais

 

casamentos. Psicólogos, sociólogos e orientadores de casais concordam que quanto mais duas

 

pessoas têm em comum, tanto maior é sua chance de felicidade conjugal; e quanto mais

 

diferem em aspectos socioculturais, tanto menor é a probabilidade de serem felizes como

 

marido e mulher.

 

Clarence Louba, um conhecido professor de psicologia no Antioch College, disse certa vez:

 

"Em todo casamento, existirão algumas diferenças consideráveis de interesses,

 

atitudes e convicções. Mas um casamento não suporta um número elevado demais dessas

 

diferenças. Diferenças ideológicas, religiosas e raciais estão entre as que mais atingem

 

o relacionamento conjugal. Quando os cônjuges provêm de diferentes ambientes

 

socioeconômicos, políticos ou religiosos, surge uma infinidade de possíveis fontes de

 

atrito".

 

Isto é mais do que mera teoria. Roland Gittelsohn, em seu texto Fire in my Bones,

 

cita estatísticas da Hungria que mostram uma taxa de divórcio três a quatro vezes maior,

 

em casos de casamentos mistos, do que quando marido e mulher pertencem à mesma fé. Existem

 

inúmeros outros estudos a respeito do assunto, os quais não discutiremos aqui. Mas a

 

conclusão é clara: o convívio conjugal já é suficientemente difícil e complexo;

 

acrescentar divergências religiosas aos problemas cotidianos só pode gerar maiores

 

tensões e conflitos.

 

A segunda razão relaciona-se à sobrevivência judaica. Esta é uma questão na qual

 

não podemos ser transigentes, pois sabemos que os casamentos mistos levarão, em última

 

análise, ao completo desaparecimento do judaísmo e do povo judeu do palco da história.

 

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos revela que, entre a geração de imigrantes, a

 

porcentagem de casamentos mistos é da ordem insignificante de l%. Na segunda geração, a

 

dos filhos destes imigrantes, a porcentagem eleva-se a 18%. E na terceira geração,

 

alcança 40%. Ou seja, houve um aumento de 39% na taxa de casamentos mistos em apenas três

 

gerações. No Brasil, embora não haja estatísticas oficiais, a proporção é a mesma. A

 

tendência é inequívoca. Duas em cada cinco famílias da terceira geração são resultado

 

de um casamento misto.

 

E os filhos desses casamentos? Se pudéssemos supor que a maioria destas crianças seria

 

criada dentro do judaísmo, não estaríamos preocupados. Mas, infelizmente, não é o caso.

 

Através de outras pesquisas, verifica-se que em 73% das famílias resultantes de casamentos

 

mistos, os filhos não são judeus. Em outros 10% dos casos, apenas um filho é judeu, os

 

restantes não. Somente em 17% das famílias mistas, todos os filhos são judeus. E é

 

preciso acrescentar que, mesmo neste último caso, não se averiguou o grau ou a

 

profundidade da identificação religiosa dessas crianças; foi simplesmente registrada a

 

afirmação dos pais de que seus filhos são judeus. O mesmo fenômeno se verifica também

 

do lado cristão.

 

O que se deduz de tudo isto? Primeiro, a taxa de casamentos mistos, que já é alarmante

 

entre os judeus, tende a aumentar ainda mais. E segundo, na melhor das hipóteses, somente

 

umas duzentas crianças, entre cada mil nascidas de tais casamentos, têm um mínimo de

 

identidade judaica.

 

Isto não é mais tema para discussões teóricas. É uma ameaça real que não pode ser

 

ignorada e que justifica plenamente nossa firme oposição aos casamentos mistos.

 

A família é o melhor meio para perpetuar os valores universais e as tradições

 

religiosas. Acreditamos que todas as religiões são igualmente válidas. Porque Deus é um

 

só. Mas existem caminhos diversos para se chegar a ele. E é preciso manter-se num deles,

 

seja lá qual for, a fim de não se perder. Nunca atingiremos o universal obliterando nossas

 

diferenças. Cabe à família judaica preservar o judaísmo, e à família cristã preservar

 

o cristianismo.

 

Este dever é igualmente reconhecido pela Igreja Católica, a qual define como

 

"misto" o matrimônio "entre duas pessoas batizadas, das quais uma tenha sido

 

batizada na Igreja Católica ou nela recebida depois do batismo, e que não tenha dela

 

saído por um ato formal, e a outra pertencente a uma igreja ou comunidade eclesial que não

 

esteja em plena comunhão com a Igreja Católica" (cânon 1124).

 

O Código de Direito Canônico de 1917 adotava uma atitude de desconfiança total perante

 

os matrimônios mistos: "...severissimamente a Igreja proíbe, em toda a parte..."

 

(cânon 1060). O motivo fundamental dessa proibição era o perigo que tais casamentos

 

poderiam representar para a fé da parte católica.

 

A maior compreensão dos princípios do ecumenismo cristão – sobretudo a partir do

 

Concílio Vaticano II – modificou, em grande parte, esta atitude. É importante observar,

 

entretanto, que esse abrandamento de atitude não se estende ao caso de "disparidade de

 

culto", quando um dos cônjuges é batizado e o outro não. "No caso do casamento

 

entre batizados, o qual é um verdadeiro sacramento, se estabelece uma certa comunhão de

 

bens espirituais que, pelo contrário, falta no matrimônio contraído por cônjuges, dos

 

quais um é batizado e o outro não recebeu o batismo. Não obstante tudo isto, não se deve

 

minorar as dificuldades que subsistem mesmo nos matrimônios mistos entre batizados"

 

(Motu Proprio "Matrimonia Mixta", Proêmio).

 

A razão básica da objeção da Igreja Católica aos casamentos mistos é idêntica à

 

objeção por parte da Sinagoga: o matrimônio misto constitui, objetivamente, um obstáculo

 

à completa fusão espiritual entre os cônjuges, pois entre eles existirá sempre algo bem

 

importante que não é comum a ambos: a religião.

 

De acordo com as normas em vigor, a Igreja Católica só permite o casamento misto

 

("misto" no sentido restrito, isto é, entre dois batizados) se for concedida uma

 

licença do bispo local. Para obter tal licença, é necessário que "a parte católica

 

declare estar preparada a afastar os perigos de defecção da fé e prometa sinceramente

 

fazer todo o possível a fim de que toda a prole seja batizada e educada na Igreja

 

Católica" (cânon 1125,1°). Esta exigência é reiterada nas Normas Complementares da

 

CNBB (1978).

 

O Motu Proprio "Matrimonia Mixta" aboliu as penas estabelecidas no Código de

 

1917 contra os católicos que tentassem casar num outro rito religioso ou com o pacto de

 

educarem os filhos fora do catolicismo. Isto não significa, porém, que tais atos sejam

 

agora considerados lícitos pela Igreja Católica. Muito pelo contrário, o Código de 1983

 

manda que "os pais (...) que confiam seus filhos para serem batizados ou educados numa

 

religião acatólica sejam punidos com censura ou outra justa pena" (cânon 1366).

 

Em suma, tanto os judeus como os católicos afirmam a importância da unidade e unicidade

 

religiosa da família, seja qual for a religião. Assumindo uma posição contra os

 

casamentos mistos, estamos não só fortalecendo nossos respectivos credos, como também

 

revigorando a instituição da família em nossos dias.

 

8. OBJETIVOS E MEIOS PARA PROMOVER O DIÁLOGO

 

O diálogo religioso ou inter-religioso deve ser vivido e alimentado pela vida, para que

 

a palavra não se desgaste. Através da palavra passa a vida, e com esta a comunhão.

 

Atingindo-se a comunhão chega-se a Deus.

 

Diálogo religioso é a procura de Deus por meio do irmão, em quem Deus se revela, a

 

partir de sua própria experiência de Deus.

 

O objetivo mais imediato do diálogo é conhecer o outro, para ver o que Deus nos diz por

 

meio dele. E não em primeiro lugar dizer ao outro o que queremos.

 

O conhecimento do outro, o modo como ele se vê, como ele reza, como conhece a Deus, é o

 

primeiro passo do diálogo religioso.

 

Um segundo passo será a humildade de aprender. No diálogo com o judaísmo, os cristãos

 

têm muito a aprender. Os judeus receberam, conservaram e aprofundaram uma rica tradição

 

religiosa, teológica, bíblica e espiritual, fundamento das Igrejas cristãs.

 

Este diálogo acontece primeiramente no dia-a-dia, nos trabalhos, nos contatos, na

 

política, nas lutas pela justiça etc. Muitas vezes, quando os homens lutam e vivem unido,

 

caem os preconceitos oriundos de formação humana e religiosa. Realmente nada como a vida

 

para formar.

 

Há também ocasiões mais específicas para tais contatos, que poderão requerer uma

 

preparação mais adequada: cerimônias, formaturas e outras solenidades. Estas ocasiões

 

poderão ser formais ou informais, como festas religiosas e civis, nascimentos, casamentos

 

etc. O ser humano vive estas situações de acordo com sua fé, sua visão de Deus e do

 

sentido que dá à vida. Os cristãos, sobretudo os agentes de pastoral, poderão procurar

 

nestes momentos conhecer e entender como os judeus vivem, o sentido que dão a estes

 

momentos, e a ligação que podem ter com a experiência da Aliança. Inspirando-se no

 

exemplo de transformar em bênção (brakáh), tirando grande proveito, vendo

 

e aprendendo como os judeus compreendem e acatam a Palavra de Deus nestas situações e como

 

a aplicam.

 

Instituições

 

Há um nível especializado de diálogo com Organizações e Instituições com

 

representantes das respectivas comunidades. Estes grupos promovem o conhecimento mútuo por

 

meio de atividades: publicações, sessões de estudos, celebrações, dirigidas a públicos

 

interessados e visando a conscientizar as comunidades. São também responsáveis por

 

contatos oficiais entre os grupos religiosos em nível internacional, nacional e local.

 

Internacionais:

 

1. Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo (Commissione per i rapporti

 

religiosi con l’Ebraismo).

 

Foi criada em 22 de outubro de 1974, pelo papa Paulo VI, por sugestão da Comissão

 

Internacional de Ligação entre a Igreja Católica e o Judaísmo. É um organismo

 

exclusivamente católico, ligado ao Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos,

 

e visa promover e estimular as relações religiosas entre judeus e católicos a partir das

 

orientações dadas pelo Concílio Vaticano II, em particular pela seção IV da

 

Declaração conciliar "Nostra Aetate". Sua sede é no Vaticano.

 

2. International Council of Christians and Jews.

 

Trata-se de um organismo misto judeu-cristão, sem estatuto oficial de Igrejas. Agrupa as

 

diferentes organizações nacionais de amizade, diálogo ou cooperação judeu-cristãos.

 

Sendo uma "associação voluntária de organizações nacionais de cristãos e judeus

 

com o fito de promover a cooperação cristão-judaica" (art. l de sua Constituição),

 

visa "à articulação de esforços e à promoção de atividades comuns" (art. 2)

 

e respeita a autonomia de cada organização representada. Sua Secretaria está em

 

Heppenheim (Alemanha Ocidental).

 

3. Comissão Judaica Internacional para as Consultas inter-religiosas (International

 

Jewish Committee on interreligious Consultations).

 

Organismo exclusivamente judaico, com cinco organizações representativas do judaísmo

 

mundial. Uma delas a "Israel Interfaith Committee", com sede em Israel, delega

 

seus representantes junto à Comissão de Ligação entre a Igreja Católica e o Judaísmo.

 

4. CENTRO SIDIC – Serviço Internacional de Documentação Judeu-cristã.

 

Associação e centro de estudos e de documentos fundado em Roma em 1965, atendendo ao

 

pedido dos padres conciliares e peritos para concretizar as orientações da Declaração

 

conciliar "Nostra Aetate". Propõe-se:

 

● promover o conhecimento, a compreensão e a estima entre judeus e cristãos;

 

● contribuir na divulgação do patrimônio que o cristianismo e a cultura ocidental

 

receberam do judaísmo;

 

● divulgar o estudo da tradição judaica e mostrar o elo existente com a fé cristã

 

e sua importância para a humanidade.

 

Este objetivo procura ser atingido por meio de cursos, conferências, sessões nacionais

 

e internacionais, uma biblioteca especializada e grande documentação; publicação de uma

 

revista "SIDIC", com edições em inglês e francês. Sua sede encontra-se em

 

Roma, via del Plebiscito, 112.

 

Em nível continental, há no CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano) um departamento

 

de Ecumenismo e Diálogo Religioso, com um setor de diálogo judeu-cristão.

 

No Brasil foi criada pela CNBB uma Comissão de Diálogo entre Judeus e Católicos,

 

ligada ao setor de Ecumenismo e Diálogo Religioso, órgão da Comissão Episcopal de

 

Pastoral (CEP).

 

Também em nível nacional, mas sobretudo locais, podem-se relacionar os Conselhos de

 

Fraternidade Cristão-judaica existentes no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.

 

Ocasiões de contatos para conhecimento

 

1. Já fizemos referência às formaturas que, freqüentemente, procuram organizar um

 

Culto Ecumênico com a participação de ministros religiosos representativos das crenças

 

dos formandos.

 

2. Há momentos especiais de encontros formais ou informais entre representantes de

 

comunidades religiosas, como, por exemplo:

 

● o cardeal Arns em visita à Congregação Israelita Paulista, CIP, e dirigindo

 

sua palavra à comunidade;

 

● visitas de delegações judaicas ao cardeal Primaz, em Salvador;

 

● Rabino Roberto Graetz, do Rio de Janeiro, dirigindo-se à reunião dos bispos e

 

assessores da CEP (26/10/83).

 

3. Aumenta o número de comunidades cristãs que, por ocasião da Páscoa, celebram a

 

Ceia Pascal ou Sêder com um objetivo bíblico e pastoral: conhecer as tradições

 

dos irmãos judeus e sua vivência litúrgica no Sêder Pascal.

 

4. Grupos de estudos organizados por congregações e centros de estudos judaicos abertos

 

para cristãos.

 

5. Grupos de estudantes e paroquianos que procuram, no contexto de Cursos Bíblicos ou

 

Sessões de estudos, exposições e debates feitos por Rabinos ou membros da comunidade

 

judaica, sobre sua liturgia, exegese, espiritualidade etc. São momentos privilegiados de

 

troca, de esclarecimentos e de melhor conhecimento da origem e da experiência cristã, da

 

Eucaristia, celebração da libertação e da formação da Igreja primitiva.

 

Para tanto são privilegiados os momentos das celebrações das festas, sobretudo da

 

Páscoa, como já foi dito, mas também de Pentecostes com uma descoberta do sentida

 

original tal como eram celebradas por Jesus Cristo, onde se encontra: vitalidade da Lei e da

 

Aliança, fidelidade ao Deus Salvador e libertador, e onde se proclama sua bondade no dom da

 

vida.

 

Objetivos para a sociedade

 

A procura de meios para a superação de crises que assolam a sociedade, ou de meios para

 

contribuir na reconstrução da nação, como em nossos dias, deve envolver e comprometer

 

todas as camadas da população e todas as comunidades religiosas. A preocupação na

 

procura dos valores correspondentes à construção do Reino de Deus é comum a cristãos e

 

judeus; fraternidade, justiça, amor, liberdade, são fundamentais na Revelação bíblica e

 

comuns aos crentes no Deus de Abraão e da Aliança:

 

O compromisso social e político das comunidades pode e deve se inspirar na Palavra de

 

Deus.

 

A luta pela justiça, pela defesa dos direitos humanos, é um terreno comum a quem tem a

 

mesma visão bíblica do homem.

 

A título de ilustração lembremos:

 

● Por ocasião da XII Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, quando um dos temas

 

centrais era: Direitos do homem, num período conturbado da sociedade brasileira, em 1973,

 

realizou-se um colóquio cristão-judaico sobre direitos humanos, promovido pelo Conselho de

 

Fraternidade Cristã-judaica de São Paulo; os membros do Conselho foram recebidos pela

 

Presidência da CNBB e levaram aos bispos uma posição de apoio em sua missão de defesa

 

dos direitos humanos então menosprezados.

 

● Também por ocasião da morte, sob torturas, do jornalista judeu Vladimir Herzog,

 

assim como do massacre dos desportistas israelenses nas Olimpíadas de Munique, foram

 

realizadas celebrações religiosas em igrejas católicas, com participação de rabinos.

 

Estas atitudes não fazem parte de uma tática imediatista de conquista, mas estão

 

ligadas a objetivos permanentes da sociedade: a construção, a partir da fraternidade, e a

 

manutenção de uma sociedade assim construída, vigilante na prática da justiça, na

 

defesa dos "órfãos e das viúvas", como o faziam os profetas.

 

Estas atitudes ocasionais, em situações que sempre podem voltar a ocorrer, visando à

 

comunhão intensa entre as diversas comunidades não podem ser negligenciadas, e evitarão

 

que se repitam holocaustos monstruosos e desumanos.

 

Formação nos cursos de Teologia e Catequese

 

O Concílio Vaticano II demonstrou a importância dos estudos, sobretudo nos níveis da

 

Teologia e da Catequese. O texto assinado pelo cardeal Willebrands, então presidente da

 

Comissão, relembra que o judaísmo não terminou com a destruição do Templo, mas

 

continuou como realidade viva, com grande produção que se encontra no Talmud e

 

outros livros clássicos, onde exegese, espiritualidade e liturgia se encontram.

 

Para que diversas idéias simplistas, e às vezes inexatas, criadoras de preconceitos,

 

sejam abolidas, é importante que estes estudos sejam estimulados. Uma introdução ao

 

judaísmo, como fonte e origem do cristianismo, é indispensável em qualquer escola de

 

Teologia. Se a exegese cristã encontrou sua linha com grandes nomes como S. Jerônimo e os

 

Padres da Igreja, a própria literatura de s. Justino nos mostra como eram freqüentes os

 

contatos entre sábios cristãos e judeus (Diálogo com o judeu Trifão). E a exegese

 

judia foi fazendo seu caminho, freqüentemente desconhecido pelos cristãos.

 

A Liturgia tem sua especial importância pois o quadro litúrgico cristão é

 

essencialmente judaico, baseado nas festas como Páscoa e Pentecostes, e com suas

 

celebrações com a Eucaristia e as bênçãos.

 

Aos poucos, formar-se-ão os especialistas também em nossa Igreja no Brasil. Mas é

 

importante que estes estudos sejam fomentados nos Institutos de Estudos Religiosos, pois é

 

a partir da pregação e das celebrações que podem ser evitados preconceitos, cujas

 

conseqüências escapam às boas intenções.

 

Se o ideal é o estabelecimento de cursos sistemáticos, cadeiras de Teologia, de Bíblia

 

etc., dada a carência de professores, podem-se organizar cursos intensivos, seminários,

 

mesas redondas, contando-se com a colaboração de professores judeus e cristãos mais

 

especializados; existem mesmo congregações religiosas que se propõem como objetivo o

 

estudo e o diálogo com o judaísmo.

 

Para subsidiar estes cursos existe, em língua portuguesa, publicada por Editoras

 

católicas, uma literatura especializada sobre judaísmo e o relacionamento da Igreja com o

 

judaísmo.

 

Recomenda-se tanto aos estudiosos como aos professores, catequistas e agentes de

 

pastoral, a busca destas publicações (ver Bibliografia básica anexa) bem como a

 

sua divulgação entre os alunos, paroquianos e membros das comunidades.

 

Este material genuinamente brasileiro, preparado para incentivar o diálogo fraterno é,

 

sem dúvida, mais um meio disponível e de fácil acesso destinado a favorecer a obtenção

 

desses objetivos.

 

9. DOCUMENTOS OFICIAIS

 

Vaticano

 

l. Declaração "Nostra Aetate" do Concílio Vaticano II sobre as relações

 

da Igreja com as Religiões não-cristãs

 

A Religião Judaica, n. 4

 

Perscrutando o Mistério da Igreja, este Sacrossanto Concílio recorda o vínculo pelo

 

qual o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à estirpe de Abraão.

 

Pois a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da fé e de sua eleição já se

 

encontram nos Patriarcas, em Moisés e nos Profetas, segundo o mistério salvífico de Deus.

 

Confessa como todos os fiéis cristãos, filhos de Abraão, segundo a fé, estavam

 

incluídos no chamamento do mesmo Patriarca e que a salvação da Igreja estava

 

misteriosamente prefigurada no êxodo do povo eleito da terra da escravidão. Por isso não

 

pode a Igreja esquecer que por meio daquele povo, com o qual em sua indizível misericórdia

 

Deus se dignou estabelecer a Antiga Aliança, ela recebeu a Revelação do Antigo Testamento

 

e se alimenta pela raiz de boa oliveira na qual, como ramos de zambujeiro, foram enxertados

 

os povos. Pois crê a Igreja que Cristo, nossa Paz mediante a cruz, reconciliou os judeus e

 

os povos e a ambos unificou em si mesmo.

 

Tem a Igreja sempre ante os olhos as palavras do Apóstolo Paulo a respeito de seus

 

consangüíneos ‘de quem é a adoção dos filhos, a glória, a aliança, a legislação,

 

o culto de Deus e as promessas, de quem são os Patriarcas e de quem descende segundo a

 

carne o Cristo’ (Rm 9,4-5), filho da Virgem Maria.

 

Lembremos também que do povo judeu nasceram os Apóstolos, fundamentos e colunas da

 

Igreja, como igualmente muitos daqueles primeiros discípulos que anunciaram ao mundo o

 

Evangelho de Cristo.

 

Testemunho é a Sagrada Escritura de que Jerusalém não conheceu o tempo de sua

 

visitação e que os judeus em grande número não aceitaram o Evangelho, sendo que não

 

poucos opuseram obstáculos à sua difusão. Segundo o Apóstolo, no entanto, os judeus

 

ainda são amados por causa de seus pais, porque dos dons e da sua vocação Deus não se

 

arrepende. Juntamente com os Profetas e o mesmo Apóstolo, a Igreja espera por aquele dia,

 

só de Deus conhecido, em que todos os povos em uma só voz aclamarão o Senhor e ‘se

 

submeterão num mesmo espírito’ (Sf 3,9).

 

Sendo pois tão grande o patrimônio espiritual comum aos cristãos e judeus, este

 

Sacrossanto Concílio quer fomentar e recomendar, a ambas as partes, mútuo conhecimento e

 

apreço. Poderá ele ser obtido principalmente pelos estudos bíblicos e diálogos

 

fraternos.

 

Se bem que os principais dos judeus, com seus seguidores, insistiram na morte de Cristo,

 

aquilo contudo que se perpetrou em sua Paixão não pode ser indistintamente imputado a

 

todos os judeus que então viviam, nem aos de hoje. Embora a Igreja seja o novo povo de

 

Deus, os judeus, no entanto, não devem ser apresentados nem como condenados por Deus, nem

 

como amaldiçoados, como se isso decorresse das Sagradas Escrituras. Haja por isso cuidado,

 

da parte de todos, para que, tanto na catequese como na pregação da Palavra de Deus, não

 

se ensine algo que não se coadune com a verdade evangélica e com o espírito de Cristo.

 

Alem disso, a Igreja que reprova toda perseguição contra qualquer homem, lembrada do

 

comum patrimônio com os judeus, não por motivos políticos, mas impelida pelo santo amor

 

evangélico, lamenta os ódios, as perseguições, as manifestações anti-semíticas, em

 

qualquer tempo e por qualquer pessoa, dirigidos contra os judeus.

 

Do resto, a Igreja sempre teve e tem por bem ensinar que Cristo, por causa dos pecados de

 

todos os homens, sofreu voluntariamente e por imenso amor se sujeitou à morte, para que

 

todos conseguissem a salvação. Cabe pois à Igreja pregadora anunciar a cruz de Cristo

 

como sinal do amor universal de Deus e fonte de toda a graça.

 

A Cruz de Cristo. – Por causa das perseguições bimilenares em países chamados

 

cristãos a Cruz de Cristo se tornou para os judeus um sinal que provoca reação de temor e

 

de amargura.

 

2. Orientações e sugestões para a aplicação da Declaração conciliar sobre as

 

relações da Igreja com as Religiões não-cristãs ("Nostra Aetate" n. 4)

 

Datada de 28 de outubro de 1965, a Declaração "Nostra Aetate" sobre as

 

relações da Igreja com as religiões não-cristãs, do Concílio do Vaticano II – n. 4

 

–, representa uma virada importante na história das relações entre judeus e católicos.

 

A iniciativa conciliar inscreveu-se, aliás, numa conjuntura profundamente modificada

 

pela recordação das perseguições e das chacinas de judeus, que se verificaram na Europa

 

imediatamente antes e durante a Segunda Guerra Mundial.

 

Embora o cristianismo tenha nascido no judaísmo e dele tenha recebido alguns elementos

 

essenciais da sua fé e do seu culto, entre ambos cavou-se cada vez mais o abismo, de sorte

 

que se chegou quase a uma incompreensão de parte a parte.

 

Após dois milênios, marcados muito freqüentemente por um ignorar-se e, não poucas

 

vezes, por hostilidades, a Declaração "Nostra Aetate" proporcionava a ocasião

 

para empreender ou para prosseguir um diálogo em vista a um melhor conhecimento recíproco.

 

Durante os nove anos já transcorridos desde então, foram tomadas numerosas iniciativas em

 

diversos países, as quais permitiram aquilatar melhor os condicionamentos em que podem ser

 

entabuladas e desenvolver-se novas relações entre judeus e cristãos. Parece ter chegado o

 

momento de apresentar, segundo as orientações do mesmo Concílio, algumas sugestões

 

concretas, fruto da experiência, com a esperança de que elas possam servir para ajudar a

 

tornarem-se realidade, na vida da Igreja, as intenções expostas pelo documento conciliar.

 

Sempre sobre a base deste mesmo documento, lembraremos aqui simplesmente os laços

 

espirituais e as relações históricas que ligam a Igreja ao judaísmo, condenando como

 

oposto ao próprio espírito do cristianismo todas as formas de anti-semitismo e de

 

discriminação que a dignidade da pessoa humana, só por si, já seria bastante para

 

condenar. E mais ainda; esses laços e relações impõem a obrigação de uma melhor

 

compreensão recíproca e de uma estima mútua renovada. De maneira positiva, pois isso

 

importa, em particular, que os cristãos procurem conhecer melhor as componentes

 

fundamentais da tradição religiosa do judaísmo e alcançar o conhecimento daqueles

 

traços essenciais pelos quais os mesmos judeus se definem a si mesmos na realidade vivida.

 

Na linha de tais considerações de princípio, nós proporemos apenas algumas primeiras

 

aplicações práticas em diversos domínios essenciais da vida da Igreja, com o intuito de

 

se instaurarem ou de se desenvolverem, de um modo são, as relações entre os católicos e

 

os seus irmãos judeus.

 

a) O Diálogo

 

As relações entre judeus, e cristãos, na verdade, quando porventura as houve, quase

 

não passaram, em geral, de um monólogo; importante, doravante, é que se chegue a

 

estabelecer um verdadeiro diálogo.

 

O diálogo pressupõe sempre o desejo de se conhecer reciprocamente e de aprofundar tal

 

conhecimento. Ele constitui, de fato, um meio privilegiado para favorecer um melhor

 

conhecimento mútuo e, particularmente no caso do diálogo entre judeus e cristãos, para

 

aprofundar mais as riquezas da própria tradição. É condição do diálogo, porém, o

 

respeito da sua fé e das suas convicções religiosas.

 

Em virtude da sua missão divina, a Igreja, por sua natureza, deve anunciar Jesus Cristo

 

ao mundo (Dec. "Ad Gentes", n. 2). A fim de evitar que o dar testemunho de Jesus

 

Cristo se apresente aos judeus como uma agressão, os católicos hão de ter o cuidado de

 

viver e anunciar a própria fé com o mais rigoroso respeito pela liberdade religiosa de

 

outrem, conforme ela foi ensinada pelo mesmo Concílio Vaticano II (Declaração

 

"Dignitatis Humanae"). Hão de eles esforçar-se igualmente por compreender as

 

dificuldades que experimenta a alma judia, precisamente porque impregnada de uma noção

 

muito elevada e muito pura de transcendência divina, perante o mistério do Verbo

 

Encarnado.

 

Se é verdade que nesse domínio reina ainda um clima de suspeição muito difundido,

 

causado por um passado deplorável, os cristãos, por seu turno, hão de saber reconhecer a

 

sua parte de responsabilidade nisso e daí tirar as conseqüências práticas para o futuro.

 

Para além de colóquios fraternais, há de ser encorajado também o encontro entre

 

pessoas competentes, com o fim de estudarem os múltiplos problemas ligados às convicções

 

fundamentais do judaísmo e do cristianismo. Uma grande abertura de espírito, um saber

 

desconfiar dos próprios preconceitos e tato, são qualidades indispensáveis para não

 

ferir, mesmo involuntariamente, os seus interlocutores.

 

Naquelas circunstâncias em que isso seja possível e desejável, de parte a parte, pode

 

favorecer-se um encontro comum diante de Deus, na oração e na meditação silenciosa, tão

 

eficaz para fazer brotar aquela humildade e aquela abertura de espírito e do coração

 

necessária para o conhecimento profundo de si próprio e dos outros. Poder-se-á fazer isso

 

em referência a grandes causas como as da justiça e da paz.

 

b) A Liturgia

 

Ter-se-ão presentes os laços que existem entre a liturgia cristã e a liturgia judaica.

 

A comunidade de vida no serviço de Deus e da humanidade, por amor do mesmo Deus, tal como

 

este serviço se realiza na liturgia, caracteriza tanto a liturgia judaica como a cristã.

 

Assim, para as relações judaico-cristãs, importa tomar conhecimento dos elementos comuns

 

da vida litúrgica (fórmulas, ritos etc.) onde a Bíblia tem um lugar essencial.

 

Hão de ser envidados esforços para compreender melhor aquilo que, no Antigo Testamento,

 

mantém um valor próprio e perpétuo (cf. Const. "Dei Verbum", nn. 14-15), não

 

estando tal valor obliterado pela ulterior interpretação do Novo Testamento que lhe

 

confere o seu significado pleno, ao mesmo tempo que, reciprocamente, aí encontra luz e

 

explicação (cf. ibid., n. 16). Isto é tanto mais importante, quanto é certo que a

 

reforma litúrgica põe os cristãos cada vez mais assiduamente em contato com os textos do

 

Antigo Testamento.

 

Nos comentários dos textos bíblicos, sem minimizar nunca os elementos originais do

 

cristianismo, procurar-se-á pôr em relevo a continuidade da nossa fé com a Antiga

 

Aliança, na linha das promessas. Nós acreditamos que estas se cumpriram já, quando da

 

primeira vinda de Cristo; no entanto, não é menos verdade que nós estamos ainda na

 

expectativa do seu perfeito cumprimento quando se der o retorno glorioso do mesmo Cristo no

 

fim dos tempos.

 

Pelo que diz respeito às leituras litúrgicas há de ter-se o cuidado de dar na homilia

 

uma interpretação exata às mesmas, sobretudo quando se tratar de passagens que pareçam

 

colocar o povo judeu, como tal, sob uma luz desfavorável. E far-se-á diligência por

 

instruir o povo cristão de tal maneira, que ele possa chegar a compreender todos os textos

 

no seu verdadeiro sentido e no seu significado para o crente dos nossos dias.

 

As comissões encarregadas das traduções litúrgicas hão de atender especialmente à

 

maneira de verter para o vernáculo aquelas expressões e passagens que possam vir a ser

 

entendidas de modo tendencioso por cristãos insuficientemente informados. É por demais

 

evidente que nunca se pode mudar o texto bíblico; pode, contudo, ter-se o cuidado, numa

 

tradução destinada ao uso litúrgico, de tornar-se explícita a significação de um

 

texto, tendo para isso em consideração os estudos dos exegetas.

 

As observações que precedem aplicam-se igualmente às introduções às leituras

 

bíblicas, bem como à ‘Oração Universal’ (‘Oração dos Fiéis’) e aos

 

comentários inseridos nos missais destinados aos fiéis.

 

c) Ensino e educação

 

Se bem que reste ainda um vasto trabalho a realizar, já se conseguiu nos últimos anos

 

decorridos chegar a uma melhor compreensão do judaísmo em si mesmo e na sua relação com

 

o cristianismo, graças aos ensinamentos da Igreja e aos estudos e investigações de

 

pessoas versadas na matéria, bem como ao diálogo que já foi possível estabelecer. Aqui,

 

neste ponto, merecem ser recordados os dados seguintes:

 

– É o mesmo Deus, "inspirador e autor dos livros dos dois Testamentos"

 

(Const. "Dei Verbum", n. 16), que fala na Antiga e na Nova Aliança.

 

– O judaísmo do tempo de Cristo e dos Apóstolos era uma realidade complexa, que

 

englobava um mundo de tendências e de valores espirituais, religiosos, sociais e culturais.

 

– O Antigo Testamento e a tradição judaica baseada sobre este não devem ser opostos

 

ao Novo Testamento, de tal maneira que pareçam apresentar apenas uma religião só da

 

justiça, do temor e do legalismo, sem incluir o apelo ao amor de Deus e do próximo (cf. Dt

 

6,5; Lv 19,18; Mt 22,34-40).

 

– Jesus, assim como os seus Apóstolos e um grande número dos primeiros discípulos,

 

nasceu do povo judeu. Ele próprio, ao revelar-se como Messias e Filho de Deus (cf. Mt

 

16,16) e como o portador de uma nova mensagem, a do Evangelho, apresentou-se como vindo para

 

realizar e para completar a Revelação anterior. E muito embora o ensinamento de Cristo

 

tenha um caráter de profunda novidade, ele apóia-se muitas vezes na doutrina do Antigo

 

Testamento. O Novo Testamento é profundamente marcado pela sua relação com o Antigo. Como

 

declarou o Concílio Vaticano II: "Deus, inspirador e autor dos livros dos dois

 

Testamentos, dispôs tão sabiamente as coisas, que o Novo Testamento está latente no

 

Antigo, e o Antigo está patente no Novo" (Const. "Dei Verbum", n. 16). Além

 

disto, o mesmo Jesus adotou métodos de ensinar análogos aos dos rabis do seu tempo.

 

– Pelo que diz respeito ao processo e à morte de Jesus, o Concílio recordou que

 

"aquilo que na sua paixão se perpetrou não pode ser imputado indistintamente a todos

 

os judeus que então viviam, nem aos judeus do nosso tempo" (Decl. "Nostra

 

Aetate", n. 4).

 

– A história do judaísmo não terminou com a destruição de Jerusalém, mas

 

prosseguiu e foi cultivando uma tradição religiosa, cujo alcance – cremos nós –

 

tendo-se tornado de significado profundamente diferente depois de Cristo, permanece todavia

 

rico de valores religiosos.

 

– Com os profetas e o Apóstolo Paulo, "A Igreja espera por aquele dia só de Deus

 

conhecido, em que todos os povos invocarão o Senhor com uma só voz e o servirão debaixo

 

dum mesmo jugo" (Sf 3,9) (Decl. "Nostra Aetate" n. 4).

 

A informação respeitante a estas questões concerne a todos os níveis de ensino e de

 

educação do cristão. Entre os meios de informação revestem-se de particular

 

importância os que seguem: manuais de catequese compêndios de história, meios

 

de comunicação social (imprensa, rádio, cinema e televisão).

 

O uso eficaz destes meios pressupõe uma formação aprofundada dos professores e

 

educadores, nas escolas normais, seminários e universidades.

 

Procurar-se-á estimular a investigação dos especialistas sobre estes problemas que

 

dizem respeito ao judaísmo e às relações judaico-cristãs, em particular nos campos da

 

exegese, da teologia, da história e da sociologia. Os institutos superiores católicos de

 

investigação, se possível em ligação com outros institutos cristãos análogos, assim

 

como os especialistas, são convidados a dar a sua contribuição para a solução de tais

 

problemas. Onde isso for possível, criar-se-ão cadeiras de estudos judaicos e

 

estimular-se-á a colaboração com os mestres judeus.

 

d) Ação social em comum

 

A tradição judaica e cristã, fundada na Palavra de Deus, reflete a noção consciente

 

do valor da pessoa humana, imagem de Deus. O amor de um mesmo Deus deve traduzir-se numa

 

ação efetiva em favor dos homens. No espírito dos profetas, judeus e cristãos, hão de

 

colaborar de bom grado nas diligências em prol da justiça social e da paz, em nível

 

local, nacional e internacional.

 

Uma tal ação em comum pode favorecer também, em grande escala, um conhecimento e uma

 

estima recíprocos.

 

Conclusão

 

O Concílio Vaticano II indicou o caminho a seguir na promoção de uma fraternidade

 

profunda entre judeus e cristãos. No entanto, resta ainda uma longa estrada a percorrer.

 

O problema das relações entre judeus e cristãos diz respeito à Igreja como tal, por

 

isso mesmo que "ao perscrutar o seu próprio mistério", ela se encontra frente a

 

frente com o mistério de Israel. Este tem, pois, toda a sua importância, mesmo naquelas

 

regiões onde não existem comunidades judaicas. Este problema tem igualmente um aspecto

 

ecumênico: o retorno dos cristãos às fontes e às origens da sua fé, enxertada na Antiga

 

Aliança, contribui para a busca da unidade em Cristo, pedra angular.

 

Neste campo, poderão os bispos, dentro do enquadramento da disciplina geral da Igreja e

 

da doutrina comumente professada pelo seu magistério, tomar as oportunas iniciativas

 

pastorais. Assim, poderão, por exemplo, em nível nacional ou regional, criar comissões ou

 

secretariados apropriados, ou nomear uma pessoa competente como encarregada de promover a

 

atuação das diretrizes conciliares e das sugestões que ali são apresentadas.

 

No plano da Igreja Universal, o Santo Padre instituiu, por deliberação emanada a 22 de

 

outubro de 1974, anexa ao Secretariado para a Unidade dos Cristãos esta Comissão para as

 

relações religiosas com o judaísmo. Criada precisamente com o fim de promover e estimular

 

as relações entre os judeus e católicos, em colaboração eventual com outros cristãos,

 

esta Comissão Especial, dentro dos limites da sua competência, está à disposição de

 

todos os organismos interessados, para lhes fornecer informações e para os ajudar a

 

desempenharem-se da própria tarefa em conformidade com as diretrizes da Santa Sé. A

 

Comissão deseja desenvolver tal colaboração, a fim de serem efetivamente postas em

 

prática e com acerto as orientações do Concílio.

 

Dado em Roma, no dia 1° de dezembro de 1974.

 

João, Cardeal Willebrands

 

Presidente da Comissão

 

P. Pedro-Maria de Contenson, O.P.

 

Secretário

 

3. Notas para uma correta apresentação dos judeus e do judaísmo na pregação e na

 

catequese da Igreja Católica

 

Considerações preliminares

 

O papa João Paulo II dizia, a 6 de março de 1982, aos delegados das conferências

 

episcopais e a outros peritos, reunidos em Roma, para estudar as relações entre a Igreja e

 

o Judaísmo:

 

"...estais preocupados, durante vossa sessão, com o ensino católico e a catequese

 

em relação aos judeus e ao judaísmo (...) Seria necessário conseguir que este ensino nos

 

diferentes níveis de formação religiosa, na catequese dada às crianças e aos

 

adolescentes, apresentasse os judeus e o judaísmo, não somente de maneira honesta e

 

objetiva, sem nenhum preconceito e sem ofender a ninguém, mas também, e mais ainda, com

 

uma viva consciência da herança comum a judeus e cristãos".

 

Neste texto de tão denso conteúdo, o Santo Padre inspirou-se visivelmente na

 

Declaração Conciliar Nostra Aetate, n. 4, onde está escrito:

 

"Tenham todo cuidado na catequese e na pregação da Palavra de Deus de nada ensinar

 

que não seja conforme à verdade do Evangelho e ao espírito de Cristo", bem como nas

 

palavras : – "Por causa de um tão grande patrimônio espiritual, comum aos cristãos

 

e judeus, o Concílio quer estimular e recomendar entre eles, o conhecimento e a estima

 

mútua...".

 

Do mesmo modo, as orientações e sugestões para a aplicação da Declaração conciliar

 

"Nostra Aetate", n. 4 terminam seu capítulo III, intitulado "Ensino e

 

Educação", onde se enumera uma série de dados concretos a serem postos em prática

 

– por esta recomendação:

 

"A informação a respeito destas questões refere-se a todos os níveis do ensino e

 

da educação cristã.

 

Entre os meios de informação têm particular importância os que seguem:

 

● Manuais de Catequese;

 

● Livros de história;

 

● Meios de comunicação social (imprensa, rádio, cinema, televisão).

 

O uso eficaz destes meios pressupõe uma formação profunda dos professores e

 

educadores, nas escolas normais, nos seminários e nas universidades", (AAS 77, 1975,

 

p. 73)".

 

Os parágrafos que seguem se propõem responder a este fim.

 

I. Ensino religioso e judaísmo

 

1. Na Declaração "Nostra Aetate" n. 4, o Concílio fala do laço que une

 

espiritualmente cristãos e judeus e do grande patrimônio espiritual, comum a

 

uns e outros, e afirma ainda:

 

"a Igreja reconhece que a origem de sua fé e de sua eleição se encontra, segundo

 

o desígnio de Deus, nos Patriarcas, em Moisés e nos Profetas".

 

2. Em razão destas relações únicas que existem entre o cristianismo e o judaísmo,

 

"unidos ao nível de sua própria identidade" (João Paulo II, 6 de março de

 

1982), relações fundadas no desígnio do Deus da Aliança (ibid.), os judeus e o judaísmo

 

não deveriam mais ocupar um lugar ocasional e marginal na catequese e na pregação, mas

 

sua presença indispensável deve aí ser integrada, de modo orgânico.

 

3. Este interesse pelo judaísmo no ensino católico não tem apenas um fundamento

 

histórico ou arqueológico. Como dizia o Santo Padre, no seu discurso já citado, e depois

 

de ter novamente mencionado o patrimônio comum entre a Igreja e o Judaísmo, que é considerável:

 

– Fazer o inventário deste patrimônio em si mesmo, tendo, também, em conta a fé e a

 

vida religiosa do povo judeu, tais quais são professadas e vividas, ainda hoje (o

 

grifo é nosso), pode ajudar a melhor compreender certos aspectos da vida da Igreja.

 

Trata-se, portanto, de uma preocupação pastoral para a realidade viva, em estreitas

 

relações com a Igreja. O Santo Padre apresentou esta realidade permanente do povo judeu

 

com uma notável fórmula teológica, na sua alocução aos representantes da Comunidade

 

Judaica da Alemanha Federal, em Mogúncia, no dia 17 de novembro de 1980: "...o Povo de

 

Deus da Antiga Aliança que jamais foi revogada...".

 

4. É preciso lembrar já aqui, o texto no qual as "Orientações e sugestões"

 

procuraram definir a condição fundamental do diálogo: "o respeito ao outro

 

tal e qual ele é, e o conhecimento (dos componentes fundamentais) da tradição

 

religiosa do judaísmo..." e ainda a aprendizagem dos "traços essenciais

 

(pelos quais) os judeus se definem, eles mesmos na sua realidade religiosa vivida"

 

(Intr.).

 

5. A singularidade e a dificuldade do ensino cristão referente aos judeus e ao judaísmo

 

consistem sobretudo no fato de exigirem, ao mesmo tempo, os termos de vários pares, nos

 

quais se exprime o relacionamento entre as duas economias do Antigo e do Novo Testamento:

 

● Promessa e realização,

 

● Singularidade e universalidade,

 

● Unidade e exemplaridade.

 

Importa que o teólogo ou o catequista que trata destes assuntos tenha o cuidado de

 

mostrar na prática do seu ensinamento, o que segue:

 

● A promessa e sua realização se esclarecem mutuamente;

 

● A novidade está na transformação do que era antes;

 

● A singularidade do Povo do Antigo Testamento não é exclusiva e está aberta, na

 

visão de Deus, a uma extensão universal;

 

● A unicidade deste mesmo povo judeu é em vista de uma exemplaridade.

 

6. Finalmente, "neste campo, a imprecisão e a mediocridade prejudicariam

 

grandemente o diálogo judeu-cristão" (João Paulo II, discurso de 6 de março de

 

1982). Mas, elas prejudicariam sobretudo, em se tratando de ensino e educação, à

 

"própria identidade" cristã (ibid.).

 

7. "Em virtude de sua missão divina, a Igreja" que é "auxílio geral de

 

salvação" e na qual somente se encontra "toda a plenitude dos meios de

 

salvação" (Unitatis Redintegratio 3) "por natureza deve anunciar Jesus Cristo ao

 

mundo" (Orientações e sugestões I). Com efeito, nós cremos que por ele vamos ao Pai

 

(cf. Jo 14,6) e "a vida eterna consiste em que conheçam a ti, o Único Deus

 

verdadeiro, e Jesus Cristo, teu Enviado" (Jo 17,3).

 

Jesus afirma (Jo 10,16) que "haverá um só rebanho e um só pastor". Igreja e

 

Judaísmo não podem pois ser apresentados como dois caminhos paralelos de salvação. E a

 

Igreja deve testemunhar o Cristo Redentor a todos, no mais rigoroso respeito à liberdade

 

religiosa, tal como esta foi ensinada pelo Concílio Vaticano II (Declaração

 

"Dignitatis Humanae") – (Orientações e sugestões I).

 

8. A urgência e a importância de um ensino preciso, objetivo e rigorosamente exato

 

sobre o judaísmo, para nossos fiéis, se deduz também, do perigo de um anti-semitismo

 

sempre em vias de reaparecer sob diferentes aspectos.

 

Não se trata apenas de desenraizar em nossos fiéis os restos de um anti-semitismo que

 

se encontram ainda aqui e acolá, porém bem mais, suscitar neles, através deste esforço

 

educativo, um conhecimento exato do "laço" (cf. "Nostra Aetate", n. 4)

 

absolutamente único que, como Igreja nos religa aos judeus e ao judaísmo. Aprende-se assim

 

a apreciá-los e a amá-los, eles que foram escolhidos por Deus, para preparar a vinda do

 

Cristo e que conservaram tudo aquilo que lhes foi progressivamente revelado e dado, no

 

decorrer desta preparação, apesar de sua dificuldade de nele reconhecer seu Messias.

 

II. Relações entre Antigo e Novo Testamento

 

Continua-se a usar no texto a expressão Antigo Testamento porque ela é tradicional (cf.

 

já 2Cor 3,14), também porque "Antigo" não significa "abolido" nem

 

"ultrapassado". Em todo caso é o valor permanente do AT como fonte da Revelação

 

cristã que se quer sublinhar aqui (cf. "Dei Verbum" 3).

 

1. Trata-se de apresentar a unidade da Revelação bíblica (AT e NT) e do plano divino,

 

antes de falar de cada um dos acontecimentos da história, para sublinhar que, cada

 

acontecimento não tem sentido senão quando considerado dentro da totalidade desta

 

história, da criação à plenitude. Esta história abrange todo o gênero humano e

 

particularmente os homens de fé. É assim que o sentido definitivo da eleição de Israel

 

não aparece senão à luz de sua realização total (Rm 9,11) e que a eleição em Jesus

 

Cristo é ainda melhor compreendida em referência ao anúncio e à promessa (cf. Hb

 

4,1-1l).

 

2. Trata-se de acontecimentos singulares concernentes a uma nação singular, mas que na

 

visão de Deus que revela seu propósito, são destinados a receber um significado universal

 

e exemplar.

 

Trata-se, além disto, de apresentar os acontecimentos do AT não como acontecimentos que

 

dizem respeito apenas aos judeus, mas que se relacionam também a nós pessoalmente. Abraão

 

é verdadeiramente o pai de nossa fé (cf. Rm 4,11-12; Cânon Rom.: patriarchae nostri

 

Abrahae). E foi dito (em 1Cor 10,1): "Nossos pais estiveram todos sob a nuvem, todos

 

passaram através do mar". Os patriarcas e os profetas e outras personalidades do AT

 

foram e serão sempre venerados como santos na tradição litúrgica da Igreja oriental,

 

assim como na Igreja latina.

 

3. Da unidade do plano divino decorre o problema da ligação entre o AT e o NT. A

 

Igreja, já nos tempos apostólicos (cf. lCor 10,11; Hb 10,1), e depois constantemente na

 

sua tradição, resolveu este problema, sobretudo, por meio da tipologia, o que sublinha o

 

valor primordial que o AT deve ter na visão cristã. Entretanto, a tipologia suscita entre

 

muita gente mal-estar. E aí está, talvez, o indício de um problema não resolvido.

 

4. No uso, pois, da tipologia, da qual recebemos o ensinamento e a prática da Liturgia e

 

dos Padres da Igreja, se terá cuidado em evitar toda transição do AT ao NT que seria

 

considerada unicamente como uma ruptura. A Igreja, na espontaneidade do Espírito que a

 

anima, condenou rigorosamente a atitude de Marcião

 

- personagem de tendência gnóstica do séc. II que rejeitava o AT, e uma parte do Novo,

 

como obra de um deus mau, um demiurgo. A Igreja reagiu vigorosamente contra esta heresia

 

(cf. Irineu) - e sempre se opôs a seu dualismo.

 

5. É importante também sublinhar que a interpretação tipológica consiste em ler o AT

 

como preparação e, sob certos aspectos, esboço e anúncio do NT (cf., por exemplo, Hb

 

5,5-10 etc.). O Cristo é, desde então, a referência-chave das Escrituras: "O rochedo

 

era o Cristo" (lCor 10,4).

 

6. É verdade, portanto, e é preciso também sublinhá-lo, que a Igreja e os cristãos,

 

lêem o AT à luz do acontecimento do Cristo, morto e ressuscitado. Sob esse título há uma

 

leitura cristã do AT que não coincide, necessariamente, com a leitura judaica. Identidade

 

cristã e identidade judaica devem assim ser cuidadosamente distintas na sua leitura

 

respectiva da Bíblia. Mas isto nada tira do valor do AT na Igreja. Não impede, tampouco,

 

que os cristãos possam, por sua vez, aproveitar com discernimento as tradições da leitura

 

judaica.

 

7. A leitura tipológica não faz senão manifestar as insondáveis riquezas do AT, seu

 

conteúdo inesgotável e o mistério do qual ele é pleno, e não deve fazer esquecer que

 

ele guarda seu valor próprio de Revelação que o NT freqüentemente retomará (cf. Mc

 

12,29-3l). Por outro lado o NT pode ser lido à luz do AT. A catequese cristã primitiva

 

recorre a este processo constantemente (cf., por exemplo, lCor 5,6-8; 10,1-11).

 

8. A tipologia significa ainda caminhada para o cumprimento do plano divino quando

 

"Deus será tudo em todos" (lCor 15,28). Isto vale também para a Igreja que, já

 

realizada no Cristo, nem por isso deixa de esperar sua perfeição definitiva como Corpo de

 

Cristo. O fato de que o Corpo de Cristo tende ainda para sua estrutura perfeita (cf. Ef

 

4,12-13) nada tira do valor do ser cristão. Também a vocação dos patriarcas e o êxodo

 

do Egito não perdem sua importância e valor próprios no plano de Deus, pelo fato de serem

 

ao mesmo tempo etapas intermediárias (cf., por exemplo, "Nostra Aetate" n. 4).

 

9. O êxodo, por exemplo, representa uma experiência de salvação e de libertação que

 

não termina nela mesma, mas que traz em si, além de seu sentido próprio, a capacidade de

 

se desenvolver ulteriormente. A salvação e a libertação estão já cumpridas em Cristo e

 

se realizam gradualmente pelos sacramentos da Igreja. É assim que se prepara o cumprimento

 

do plano de Deus que espera sua consumação definitiva com a volta de Jesus como Messias,

 

pela qual rezamos cada dia. O Reino, por cujo advento também rezamos diariamente, será por

 

fim instalado. Então a salvação e a libertação terão transformado no Cristo os eleitos

 

e a totalidade da criação (cf. Rm 8,19-23).

 

10. Além disso, sublinhando a dimensão escatológica do cristianismo, se chega a maior

 

conscientização de que, quando o povo de Deus da Antiga e da Nova Aliança considera o

 

futuro, está tendendo para fins análogos: a vinda ou a volta do Messias – embora a

 

partir de dois pontos de vista diferentes. E, se perceberá mais claramente que a pessoa do

 

Messias, a respeito da qual o povo de Deus está dividido, é também um ponto de

 

convergência para ele (cf. Subsídios para o Ecumenismo da Diocese de Roma n. 140). Pode-se

 

dizer, assim, que judeus e cristãos se encontram numa esperança comparável, firmada na

 

mesma promessa feita a Abraão (cf. Gn 12,1-3; Hb 6,13-18).

 

11. Atentos ao mesmo Deus que falou, presos à mesma palavra, temos a testemunhar uma

 

mesma memória e uma esperança comum naquele que é o Mestre da história. Incumbe-nos

 

assim tomar nossa responsabilidade de preparar o mundo para a verdade do Messias trabalhando

 

juntos pela justiça social, o respeito pelos direitos da pessoa humana e das nações, para

 

a reconciliação social e internacional. A isto somos impelidos, judeus e cristãos, pelo

 

preceito do amor ao próximo e por uma esperança comum do Reino de Deus e pela grande

 

herança dos Profetas. Transmitida bem cedo pela catequese, uma tal concepção educaria de

 

maneira concreta, os jovens cristãos para encontros de cooperação com os judeus,

 

ultrapassando o simples diálogo (cf. Orientações, IV).

 

III. Raízes judaicas do cristianismo

 

12. Jesus era judeu e judeu permaneceu. Seu ministério foi voluntariamente restrito às

 

"ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 15,24). Jesus era inteiramente um homem

 

do seu tempo e do seu meio judeu palestinense do século I, de que partilhou as angústias e

 

esperanças. Isto sublinha a realidade da Encarnação e o sentido profundo da História da

 

Salvação, como nos foi revelado na Bíblia (cf. Rm 1,3-4; Gl 4,4-5).

 

13. As ligações de Jesus com a lei bíblica e suas interpretações mais ou menos

 

tradicionais são, sem dúvida, complexas e ele deu provas de uma grande liberdade a

 

respeito delas (cf. as antíteses do Sermão da Montanha: Mt 5,21-48, levando-se em conta as

 

dificuldades exegéticas; atitude de Jesus em face da observância rigorosa do Shabbat:

 

Mc 3,1-6 etc.).

 

Mas, não há dúvida de que ele quer se submeter à Lei (cf. Gl 4,4), que ele foi

 

circuncidado e apresentado ao Templo como qualquer outro judeu de sua época (cf. Lc

 

2,21.22-24) e que ele foi formado para observá-la. Jesus respeitava a Lei (cf. Mt 5,17-20)

 

e convidava a obedecer-lhe (cf. Mt 8,4). O ritmo de sua vida era marcado pela observância

 

das peregrinações por ocasião das grandes festas, desde a infância (cf. Lc 2,41-50; Jo

 

2,13-17, etc.). Já se observou, muitas vezes, a importância do ciclo das festas judaicas

 

no Evangelho de João (cf. 2,13; 5,1; 7,2.10.37; 10,22; 11,55; l2,1; 13,1; 18,28; 19,31;

 

etc.).

 

14. Importa notar também que Jesus ensina freqüentemente nas sinagogas (cf. Mt 4,23;

 

9,35; Lc 4,15-18; Jo 18,20 etc.) e no Templo (cf. Jo 18,20 etc.) que ele freqüentava como

 

também seus discípulos mesmo depois da Ressurreição (cf., por exemplo, At 2,46; 3,1;

 

21,26; etc.). Jesus quis inserir no contexto do culto na sinagoga o anúncio de sua

 

messianidade (cf. Lc 4,16-21). Jesus quis sobretudo realizar o ato supremo do dom de si no

 

quadro da liturgia doméstica da Páscoa, ou pelo menos, no quadro da festividade pascal

 

(cf. Mc 14,1.12 e passim; Jo 18,28). Estes dados permitem-nos compreender melhor o caráter

 

de "memorial" da Eucaristia.

 

15. Assim, o Filho de Deus se encarnou num povo e numa família humana (cf. Gl 4,4; Rm

 

9,5). Isto não diminui em nada, pelo contrário, o fato de ter ele nascido por todos os

 

homens (ao redor de seu berço, vemos pastores judeus e magos pagãos - cf. Lc 2,8-20; Mt

 

2,1-12), e ter morrido por todos (ao pé da cruz encontramos ainda judeus, Maria e João –

 

Jo 19,25-27, e pagãos como o centurião - Mc 15,39 e passim). E assim ele fez de dois povos

 

um na sua carne (cf. Ef 2,14-17). Por aí se explica como com a Ecclesia ex gentibus

 

houve, na Palestina e fora, uma Ecclesia ex circumcisione de que fala, por exemplo,

 

Eusébio (H. E. IV, 5).

 

16. Seus contatos com os fariseu não foram nem sempre nem totalmente polêmicos. São

 

numerosos os exemplos:

 

● São fariseus que previnem Jesus contra o perigo que ele corre (Lc 13,3l);

 

● Fariseus são elogiados por Jesus como o "escriba" de Mc 12,34;

 

● Jesus come com fariseus (Lc 7,36; 14,1).

 

17. Jesus partilha doutrinas farisaicas com a maioria dos judeus palestinos de então,

 

por exemplo: a ressurreição dos corpos; as formas de piedade: esmola, oração, jejum (cf.

 

Mt 6,1-18) e o hábito litúrgico de se dirigir a Deus como Pai; a prioridade do mandamento

 

do amor de Deus e do próximo (cf. Mc 12,28-34). O mesmo se dá com Paulo (cf., por exemplo,

 

At 23,8) que sempre teve como título de glória sua pertença ao grupo dos fariseus (cf. At

 

23,6; 26,5; Fl 3,5).

 

18. Paulo, também, como aliás o próprio Jesus, utilizou métodos de leitura e de

 

interpretação da Escritura e de ensino aos discípulos, comuns aos fariseus de seu tempo.

 

É o caso do uso das parábolas no ministério de Jesus, como também do método de Jesus e

 

Paulo apoiando uma conclusão numa citação da Escritura.

 

19. É preciso ainda notar que os fariseus não são mencionados nos relatos da Paixão.

 

Gamaliel I (cf. At 5,34-39) toma a defesa dos Apóstolos em uma reunião do Sinédrio. Uma

 

apresentação exclusivamente negativa dos fariseus corre o risco de ser inexata e injusta

 

(cf. Orientações, nota l; cf. AAS, loc. cit. p. 76). E se há nos evangelhos e em

 

outros livros do NT toda espécie de referências desfavoráveis aos fariseus, é preciso

 

vê-las contra o pano de fundo de um movimento complexo e diversificado. As críticas contra

 

diferentes tipos de fariseus não faltam aliás nas fontes rabínicas (cf. Talmud de

 

Babilônia, Tratado Sotah, 22b etc.). O "farisaísmo", no sentido

 

pejorativo, pode ser encontrado em qualquer religião. Pode-se também sublinhar que, se

 

Jesus se mostrou severo com os fariseus é porque ele sentiu maior proximidade com eles, do

 

que com outros grupos judeus contemporâneos (cf. supra n. 17).

 

20. Tudo isto deveria ajudar a melhor compreender a afirmação de são Paulo (Rm

 

11,16ss.) sobre a "raiz" e os "ramos". A Igreja e o cristianismo, em

 

toda a sua novidade, encontram sua origem no meio judaico do século I de nossa era, e mais

 

profundamente ainda no "desígnio de Deus" ("Nostra Aetate", n. 4),

 

realizado nos Patriarcas, Moisés e os Profetas (ibid.) até sua consumação em Jesus

 

Cristo.

 

IV. Os judeus no Novo Testamento

 

21. As "Orientações..." já diziam (nota l) que "a fórmula os judeus

 

em são João designa, às vezes, segundo os contextos, os chefes dos judeus ou os

 

adversários de Jesus, expressões que traduzem o pensamento do evangelista e evitam parecer

 

pôr em causa o povo judeu como tal". Uma apresentação objetiva do papel do povo

 

judeu no NT deve levar em consideração os seguintes dados:

 

A. Os evangelhos são o fruto de um trabalho redacional longo e complicado. A

 

Constituição dogmática "Dei Verbum", seguindo a Instrução "Sancta Mater

 

Ecclesia" da Pontifícia Comissão Bíblica, distingue três etapas: "Os autores

 

sagrados compuseram os quatro Evangelhos escolhendo certas coisas das muitas, transmitidas

 

ou oralmente ou já por escrito, fazendo síntese de outras, ou expondo-as de acordo com a

 

situação das Igrejas, guardando, enfim, a forma de proclamação, com o intuito de assim

 

nos comunicar sempre coisas verdadeiras e autênticas relativas a Jesus" (n. 19).

 

Não se pode excluir que certas referências hostis ou pouco favoráveis aos judeus

 

tenham como contexto histórico os conflitos entre a Igreja nascente e a comunidade judaica.

 

Certas polêmicas refletem condições de relacionamento entre judeus e cristãos, bastante

 

posteriores a Jesus.

 

Esta constatação é capital quando se deseja explicitar melhor o sentido de certas

 

passagens do Evangelho para os cristãos de hoje.

 

É preciso levar em consideração tudo isto quando se prepara o catecismo e as homilias

 

para as últimas semanas da Quaresma e da Semana Santa (cf. já ‘Orientações’ II, e

 

agora ‘Subsídios para o ecumenismo da Diocese de Roma’, 1982, 144b).

 

B. É claro, por outra parte, que houve conflito entre Jesus e certas categorias de

 

judeus de seu tempo, entre estes certamente os fariseus, e isto desde o começo de seu

 

ministério (cf. Mc 2,1-11.15-24; 3,6; etc.).

 

C. Além disso, há o fato doloroso que a maioria do povo judeu e suas autoridades não

 

acreditaram em Jesus, fato que não é apenas histórico, mas que tem um alcance teológico,

 

do qual são Paulo se esforça por desvendar o sentido (Rm cap. 9-11).

 

D. Este fato, acentuado na medida e na proporção em que a missão cristã se

 

desenvolvia, sobretudo entre os pagãos, levou a uma ruptura inevitável entre o Judaísmo e

 

a jovem Igreja, então irredutivelmente separados e divergentes no plano mesmo da fé. Esta

 

situação se reflete na redação dos textos do NT e em particular dos evangelhos. Não é

 

questão de diminuir ou dissimular esta ruptura, o que apenas prejudicaria a identidade de

 

uns e outros. Contudo: ela não suprime o "laço" espiritual de que fala o

 

Concílio ("Nostra Aetate", n. 4). Propõe-se aqui elaborar algumas dimensões

 

deste "laço".

 

E. Refletindo sobre este fato, à luz da Escritura, especialmente dos capítulos citados

 

da Carta aos Romanos, os cristãos não devem jamais esquecer que a fé é dom de Deus (cf.

 

Rm 9,12) e que não se julga a consciência de outrem. A exortação de são Paulo para

 

ninguém se "orgulhar" (Rm 11,18) com relação à "raiz" (ibidem) toma

 

aqui todo o seu relevo.

 

F. Não se pode colocar no mesmo plano os judeus que conheceram a Jesus e não creram

 

nele, ou que se opuseram à pregação dos Apóstolos, e os judeus que vieram depois e os de

 

hoje. Se a responsabilidade daqueles na sua atitude para com Jesus permanece um mistério de

 

Deus (cf. Rm 11,25), estes estão em situação inteiramente diferente.

 

O Concílio Vaticano II (Declaração "Dignitatis Humanae" sobre a liberdade

 

religiosa) ensina que "todos os homens devem ser imunes de qualquer coação (...) de

 

tal sorte que em assuntos religiosos a ninguém se obrigue a agir contra a própria

 

consciência, nem se impeça de agir (...) de acordo com ela..." (n. 2). Esta é uma

 

das bases sobre as quais se apóia o diálogo judeu-cristão, preconizado pelo Concílio.

 

22. A questão delicada da responsabilidade da morte de Cristo deve ser vista dentro da

 

ótica da Declaração conciliar "Nostra Aetate" n. 4 e das "Orientações e

 

sugestões" (§ III).

 

"O que foi cometido durante a Paixão não pode ser imputado nem indistintamente a

 

todos os judeus daquela época, nem aos de hoje" ainda que "autoridades judaicas

 

com seus adeptos tenham forçado a morte de Cristo". E ainda: "O Cristo, em

 

virtude de seu imenso amor, submeteu-se voluntariamente à paixão e morte, por causa dos

 

pecados de todos os homens e para que todos os homens alcancem a salvação",

 

("Nostra Aetate", n. 4). O Catecismo do Concílio de Trento ensina, além disso,

 

que os cristãos pecadores são mais culpados da morte do Cristo do que os poucos judeus que

 

nela tomaram parte. Estes, na verdade "não sabiam o que estavam fazendo" (Lc

 

23,34), enquanto nós o sabemos e muito bem (Pars I, caput V, Quaest. XI).

 

Na mesma linha e pela mesma razão, "os judeus não podem ser apresentados como

 

condenados por Deus nem como amaldiçoados, como se isto decorresse da Sagrada

 

Escritura" ("Nostra Aetate", n. 4), muito embora seja exato que "a

 

Igreja é o novo Povo de Deus" (ibid.).

 

V. A liturgia

 

23. Judeus e cristãos fazem da Bíblia a substância de sua liturgia: para a

 

proclamação da Palavra de Deus, a resposta a esta Palavra, a oração de louvor e de

 

intercessão pelos vivos e mortos e o apelo à misericórdia divina. A liturgia da Palavra,

 

na sua estrutura própria, tem origem no judaísmo. A Liturgia das Horas e outros textos e

 

formulários litúrgicos têm seus paralelos no judaísmo, inclusive as fórmulas de nossas

 

orações mais veneráveis, como o Pai-nosso. As orações eucarísticas igualmente se

 

inspiram em modelos de tradição judaica. Como o diz João Paulo II (alocução de 6 de

 

maio de 1982): "A fé e a vida religiosa do povo judeu, tais como são professadas e

 

vividas ainda hoje, (podem) ajudar a compreender melhor certos aspectos da vida da Igreja.

 

É o caso da liturgia...".

 

24. Isto é particularmente visível nas grandes festas do ano litúrgico, como a

 

Páscoa. Cristãos e judeus celebram a Páscoa: Páscoa da história voltada para o futuro

 

entre os judeus; Páscoa já realizada na morte e na ressurreição do Cristo, para os

 

cristãos, embora sempre à espera da consumação definitiva (cf. supra 9). É ainda o

 

"memorial" que nos vem da tradição judaica, com um conteúdo específico,

 

diferente em cada caso. Há, por conseguinte, de parte a parte, dinamismo semelhante; para

 

os cristãos ele dá sentido à celebração eucarística (cf. antífona "O Sacrum

 

Convivium"), celebração pascal e, como tal, atualização do passado, vivida, porém,

 

na espera "até que ele venha" (1Cor 11,26).

 

VI. Judaísmo e cristianismo na história

 

25. A história de Israel não acaba no ano 70 (cf. Orientações II). Ela continuou em

 

particular em uma numerosa Diáspora que permitiu Israel levar ao mundo inteiro o testemunho

 

– muitas vezes heróico – de sua fidelidade ao Deus único, e de "exaltá-lo diante

 

de todos os viventes" (Tb 13,4) conservando a lembrança da terra de seus antepassados

 

no mais profundo de suas esperanças (Seder pascal).

 

Os cristãos são convidados a compreender este laço religioso que mergulha suas raízes

 

na tradição bíblica, sem por isso fazer sua uma interpretação religiosa particular

 

desta relação (cf. Declaração da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos,

 

20 de novembro de 1975). No que se refere à existência do Estado de Israel e suas opções

 

políticas, estas devem ser consideradas sob uma ótica que em si não é religiosa, mas se

 

referem aos princípios comuns do direito internacional.

 

A permanência de Israel (quando tantos povos antigos desapareceram sem deixar traços)

 

é um fato histórico e um sinal a ser interpretado no plano de Deus. É preciso no entanto

 

se desvencilhar da concepção tradicional de povo punido conservado como argumento

 

vivo para a apologética cristã. Ele permanece o povo escolhido, a "boa oliveira,

 

na qual foram enxertados os ramos da oliveira selvagem que são os gentios" (João

 

Paulo II, 6 de março de 1982, com alusão a Rm 11,17-24). É bom lembrar o quanto foi

 

negativo o balanço das relações entre judeus e cristãos durante dois milênios. E

 

sublinhar o quanto esta permanência de Israel se acompanha de uma criatividade espiritual

 

contínua no período rabínico, na Idade Média, e no período moderno, a partir de um

 

patrimônio que nos foi comum por muito tempo, de modo que, "a fé e a vida religiosa

 

do povo judeu como são vividas ainda hoje (podem) ajudar a melhor compreender certos

 

aspectos da vida da Igreja" (João Paulo II, 6 de março de 1982). A catequese deveria,

 

por outra parte, ajudar a compreender o significado que tem, para os judeus, sua

 

exterminação durante os anos 1939-1945 e suas conseqüências.

 

26. A educação e a catequese devem se ocupar do problema do racismo, sempre ativo em

 

suas diferentes formas de anti-semitismo. O Concílio o apresentou assim: "Além disso,

 

a Igreja não pode esquecer o patrimônio que ela tem em comum com os judeus, e, impelida,

 

não por motivos políticos, mas pela caridade religiosa do Evangelho, deplora os ódios, as

 

perseguições e todas as manifestações de anti-semitismo, quaisquer que sejam a época e

 

os seus autores, dirigidas contra os judeus" ("Nostra Aetate", n. 4). E as

 

"Orientações" comentam: "Os elos espirituais e as relações históricas

 

que prendem a Igreja ao Judaísmo, condenam como oposto ao próprio espírito do

 

cristianismo toda forma de anti-semitismo e de discriminação que, aliás, a dignidade da

 

pessoa humana, por si só, basta para condenar" (Orientações, preâmbulo).

 

VII. Conclusão

 

27. O ensino religioso, a catequese, a pregação devem preparar não somente para a

 

objetividade, a justiça e a tolerância, mas também para a compreensão e o diálogo.

 

Nossas duas tradições são tão próximas que não se podem ignorar. É preciso estimular

 

um conhecimento mútuo em todos os níveis. Constata-se, em particular uma dolorosa

 

ignorância da história e das tradições do judaísmo, do qual apenas os aspectos

 

negativos e, muitas vezes, caricaturais parecem fazer parte da bagagem comum de muitos

 

cristãos. É isto que estas notas gostariam de remediar. Assim, o texto do Concílio e as

 

"Orientações" serão mais fácil e fielmente postos em prática.

 

(Maio de 1985)

 

 

Johannes Card. Willebrands – Presidente

 

Pierre Duprey – Vice-Presidente

 

Jorge Mejia – Secretário

 

CELAM

 

Encontro Católico-judeu emBogotá, 19 a 21 de agosto de 1985

 

Conclusões

 

Refletindo sobre diversos aspectos do Diálogo e sobre os progressos realizados após 20

 

anos da "Nostra Aetate", e depois de nos termos redescoberto como irmãos, com

 

nossas diferenças e nossos elementos comuns, refletimos também sobre o trabalho a

 

prosseguir.

 

Eis os pontos que mais nos interessaram e que devem marcar as prioridades de trabalho, em

 

nossos futuros diálogos.

 

1. Princípios básicos

 

Neste encontro foram reafirmados os princípios básicos de nossas relações:

 

● Caminhamos na busca do sentido atual de nossa fé.

 

● As duas comunidades, cristã e judaica, têm uma missão divina, tanto na ordem

 

religiosa como na social.

 

● A Revelação que nos é comum tem um conteúdo moral e exige de nós uma resposta

 

atual a partir da própria vida de crentes.

 

● Queremos tomar mais evidente e palpável nossa visão comum bíblica do homem em sua

 

relação com Deus e com os irmãos, ultrapassando os aspectos secularizados do ambiente em

 

que se encontram católicos e judeus. Por isso, reafirmamos a dignidade de qualquer pessoa

 

ou grupo, considerando essa dignidade o fundamento indispensável para a defesa dos direitos

 

humanos.

 

● É de capital importância o reconhecimento do outro em sua alteridade, no respeito

 

mútuo de nossas diferenças e na preservação de nossas respectivas identidades. Para

 

tanto, exige-se verdade e sinceridade no diálogo.

 

● Reconhecemos a necessidade de um mútuo apoio entre judeus e católicos, sobretudo

 

nos momentos difíceis.

 

2. Urgências

 

Precisamos refletir juntos de modo profundo sobre estes assuntos que nos parecem

 

fundamentais para nossas duas comunidades em diálogo:

 

● Primeiramente, nossa fé comum no Deus Onipotente.

 

O mundo secular de hoje não pode esquecer sua presença. Ante a crise profunda e geral de

 

nosso continente é necessário voltar nossos esforços para a conversão do coração

 

humano. Que as autoridades religiosas, católicas e judaicas, e cada um de seus membros se

 

proponham resgatar os valores morais e éticos e iniciar uma campanha de moralização da

 

América Latina.

 

● A missão do povo judeu hoje (teologia do povo judeu) independe da vinda de Jesus e

 

do acontecimento Jesus.

 

● Considerar o problema da salvação do ponto de vista dos judeus e dos católicos,

 

para os quais o único salvador é Jesus.

 

3. Realidade de nossas desconfianças

 

a) Da parte cristã

 

● Na prática, em muitos lugares, a pregação e o ensino católico continuam com a

 

mentalidade pré-conciliar, atribuindo o deicídio indiscriminadamente a todos os judeus e

 

considerando a dispersão dos judeus um castigo divino, conceitos estes já superados pelos

 

pronunciamentos de Vaticano II, sobretudo a "Nostra Aetate".

 

● Nesse sentido, vários preconceitos ainda perduram, como o desprezo pela palavra

 

judeu, preferindo usar o termo hebreu. Identifica-se o judeu com o FMI, com as finanças

 

internacionais e com o norte-americano que oprime o latino-americano.

 

● Do mesmo modo se equipara o sionismo ao racismo e se afirma que o povo judeu busca o

 

poder para dominar o mundo. É a chamada conspiração judaica.

 

● Entre os católicos não há uma posição clara e definida sobre o significado da

 

terra e do Estado de Israel para os judeus. Sendo de capital importância, tanto para os

 

judeus que habitam Israel como para os que vivem na Diáspora, é tema básico para o

 

diálogo.

 

● Os judeus são muitas vezes excluídos de certas organizações e atividades

 

não-judaicas.

 

b) Da parte judaica

 

● Ainda existe entre os judeus uma certa reserva com relação ao diálogo que

 

poderia levar à conversão, conseqüência do proselitismo cristão.

 

● A nova atitude da Igreja é vista com desconfiança. Prevalecem temores e

 

lembranças de épocas passadas, o que dificulta a participação da comunidade judaica em

 

atividades de diálogo.

 

● Freqüentemente os judeus se isolam e participam pouco das atividades sociais em

 

seus próprios países.

 

4. O diálogo

 

● É o principal caminho para se vencer os preconceitos, é a melhor maneira de se

 

conhecer, de escutar e de adotar novas atitudes de respeito para com o outro.

 

● As relações humanas e o intercâmbio pessoal são básicos no diálogo,

 

fundamentam a amizade e derrubam barreiras e preconceitos que nos separam.

 

a) Níveis

 

● Em nível nacional, como na reunião anual dos bispos de cada país, através de

 

comissões episcopais ou em reuniões ecumênicas.

 

● Nas reuniões de tipo ecumênico com outros pastores cristãos que podem favorecer a

 

aproximação, é importante a participação de rabinos para partilhar em clima de

 

diálogo, de muitos aspectos comuns: a oração, a vida espiritual, o serviço social.

 

● Para incentivar o conhecimento e a mútua comunicação, seria necessário

 

estabelecer grupos ecumênicos ou nacionais, comissões mistas católico-judaicas que se

 

reuniriam periodicamente a fim de promover e intensificar as comunicações e o diálogo.

 

● As fraternidades cristão-judaicas são o ambiente ideal para refletir sobre

 

assuntos de interesse comum. Convém, portanto, fortalecê-las, apoiá-las, onde já

 

existem, e criá-las onde seja necessário.

 

b) Áreas

 

● Educação

 

• Inserir, nos respectivos currículos educativos, temas sobre religião judaica e

 

religião cristã, tanto para as escolas judaicas como para as católicas. Para isso,

 

elaborar e fornecer material adequado e didático.

 

• Para um mútuo conhecimento é importante a difusão de documentos, de temas e de

 

problemáticas comuns, aproveitando-se os periódicos, revistas e outros. É um meio também

 

de tornar mais conhecidas as atividades importantes que se realizam no interior das

 

comunidades católica e judaica. Para os cristãos é fonte de enriquecimento e reflexão

 

que se vem fazendo a partir das Sagradas Escrituras.

 

• Quanto à linguagem, é necessário suprimir palavras pejorativas no vocabulário

 

católico, nos dicionários, nas publicações em geral e nas notas explicativas da Bíblia.

 

Nesse caso, deve-se estudar uma maneira de narrar os acontecimentos do Novo Testamento,

 

respeitando a verdade.

 

• Os católicos devem conhecer a situação real dos judeus, de seus grupos, de sua

 

maneira de viver, e as obras sociais que eles realizam em diversos campos de nossa realidade

 

cultural latino-americana.

 

• Os judeus, por sua vez, devem conhecer melhor a situação dos cristãos para não

 

confundir o termo católico com outras denominações cristãs, com algumas das quais já

 

tiveram atritos.

 

● Área religiosa

 

• Muito se pode fazer neste campo. Nossas liturgias e celebrações nos oferecem

 

riquezas que podemos aproveitar num intercâmbio de mútuo serviço. As cerimônias, a

 

oração, os encontros de tipo espiritual, as conferências, as reflexões sobre a Bíblia,

 

a doutrina da Toráh. Celebrações conjuntas da Palavra de Deus em sinagogas e

 

igrejas, assim como reflexões sobre o Holocausto, festas e outras atividades.

 

● Área social

 

• Considerando a realidade dos problemas sociais dos países latino-americanos, as

 

comunidades têm excelente via de cooperação. Estabelecer pontes e serviços que ajudem a

 

solução dos problemas. Por exemplo, um comércio mais justo, a promoção de

 

desenvolvimento agrícola e industrial, um serviço prestado por peritos israelitas e

 

norte-americanos, como ajuda aos que solicitarem.

 

• Além deste intercâmbio, há outros tipos como: atividades intercolegiais, esportes,

 

teatro, música, arte etc.

 

● Família

 

• A doutrina teológica e espiritual que nos é comum pode nos servir de base para uma

 

cooperação em vários níveis. No social: encontros amistosos de conhecimento mútuo,

 

ceias, visitas etc...

 

• Temas que merecem ser tratados são igualmente as perspectivas teológicas, a

 

problemática familiar, a grande riqueza espiritual comum e a responsabilidade que ambos

 

têm em relação ao mundo de hoje.

 

5. Atividades

 

● Antes de tudo, trata-se de um aprimoramento espiritual de nossas respectivas

 

comunidades. Que cada um cresça em "Espírito e em Verdade".

 

● Difusão nas comunidades dos diversos documentos que são publicados e pelos meios

 

ao nosso alcance para um intercâmbio de documentos do Vaticano e dos estudos sobre o tema

 

do diálogo.

 

● Publicação de um texto que contenha todos os documentos do Vaticano II e os

 

posteriores, em relação aos judeus, assim como os documentos de algumas conferências

 

episcopais.

 

● Incentivar o conhecimento e o estudo desses documentos, tanto por católicos como

 

por judeus: Sacerdotes, Religiosos, Rabinos e membros das duas comunidades mediante diversos

 

encontros.

 

● O fato de a comunidade judaica não ter documentos oficiais não impede a

 

elaboração de algum material básico que sirva às comunidades locais, como já se vem

 

fazendo nos Estados Unidos. Seria um material para facilitar o encontro, o diálogo e o

 

mútuo conhecimento. Portanto e importante promover:

 

• Jornadas de estudo e oração.

 

• Encontros em diferentes níveis: catequese, teologia, educação etc...

 

• Maior participação comum de pessoas e instituições em tarefas sociais.

 

• Reconhecimento mútuo do conteúdo e dos valores de nossas liturgias.

 

• Trabalho intensivo através dos respectivos currículos para a formação religiosa em

 

todos os níveis: escolas, colégios, seminários, universidades etc...

 

6. Documentos básicos

 

Declaração "Nostra Aetate" n. 4, do Concílio Vaticano II, de

 

1965.

 

Orientações e Sugestões para a aplicação do n. 4 da "Nostra

 

Aetate", 1975.

 

Normas para uma correta apresentação dos judeus no ensino católico, 1985,

 

e o que foi assumido pelo Documento de Puebla, nn. 1103, 1110, 1116, 1123.

 

● Embora os judeus não tenham o mesmo tipo de documentos, nem organismos que os

 

publiquem no estilo católico, que os Institutos e Organizações comunitárias judias que

 

se ocupam das relações cristão-judaicas em vários países e em vários níveis, elaborem

 

um material que sirva como motivação e fundamentem o diálogo entre a comunidade judaica e

 

apresentem seus pontos de vista aos cató1icos. Nestes casos, a Bíblia judaica e algumas

 

reflexões de sábios judeus a respeito, são de grande utilidade.

 

BRASIL

 

l. Orientações para os católicos no relacionamento com os judeus no Brasil

 

Estas Orientações foram elaboradas pela Comissão Nacional de Diálogo Religioso

 

Católico-judaica, a pedido da CNBB. Foram examinadas na CEP de 26 de outubro de 1983. Nesta

 

mesma ocasião a CEP aprovou a sua publicação para o conhecimento e uso das igrejas locais

 

no seu diálogo com a comunidade judaica.

 

1. A tomada de consciência das fontes e da história do judaísmo e do cristianismo,

 

após quase vinte séculos de coexistência, especialmente marcados pelos acontecimentos que

 

na Europa antecederam de perto e acompanharam a Segunda Guerra Mundial, evidencia a

 

necessidade de aproximação entre judeus e cristãos. Esta aproximação há de consistir

 

em diálogo inspirado por sadio desejo de conhecimento recíproco e mútua compreensão.

 

2. Condição indispensável para o diálogo é, da parte dos católicos, o

 

reconhecimento da consciência que os judeus têm de ser um povo inconfundivelmente definido

 

por elementos religiosos e étnicos.

 

3. O primeiro elemento constitutivo do povo judeu é a sua religião, que aos fiéis

 

católicos não é lícito considerar simplesmente como uma das religiões que existem

 

atualmente na terra. Na verdade, foi através do povo judeu que na história da humanidade

 

se implantou a fé no Deus único ou monoteísmo.

 

4. Note-se outrossim que, segundo a Revelação bíblica, foi Deus mesmo quem constituiu

 

o povo hebreu; o Senhor educou-o após ter selado com ele uma aliança (cf. Gn 17,7; Ex

 

24,1-8). Ao povo judeu devem-se os cinco livros da Lei, os Profetas e os demais livros

 

sagrados que completam as Escrituras israelitas e que os cristãos adotam como parte

 

integrante da Bíblia.

 

5. Não se pode considerar o judaísmo como realidade meramente social e histórica ou

 

como relíquia de um passado já concluído, mas faz-se mister levar em conta a vitalidade

 

do povo judeu, persistente através dos séculos, até hoje. São Paulo afirma que Israel

 

tem o zelo de Deus (cf. Rm 10,2); Deus não repudia o seu povo (cf. Rm 11,ls); nem retira a

 

bênção que outorgou ao povo eleito (cf. Rm 11,28s.). Ensina que os gentios, qual oliveira

 

selvagem, foram enxertados na oliveira de escol que é Israel (cf. Rm 11,16-19); Israel

 

continua a desempenhar um papel importante na história da salvação, papel que redundará

 

na consumação do plano de Deus (cf. Rm 11,11-15.23).

 

6. Donde se vê quão condenável é qualquer tipo de anti-semitismo: seja banido da

 

linguagem cristã todo adjetivo ou toda expressão depreciativa referente ao povo de Israel,

 

como também sejam profligadas todas as campanhas de violência física ou moral contra os

 

israelitas. O povo judeu não pode ser tido como deicida; o fato de facções judaicas terem

 

pedido a morte de Jesus diante de Pilatos não implica nódoa para o povo judeu como tal. A

 

causa da morte de Cristo, em última instância, há de ser procurada nos pecados da

 

humanidade em geral. Ademais o amor cristão, que é extensivo a todos os homens sem

 

distinção para poder imitar o amor do Pai celeste (cf. Mt 5,44-48), há de abraçar o povo

 

judeu e procurar compreender sua história e seus anseios.

 

7. De modo especial, a catequese e a Liturgia evitarão juízos desfavoráveis a respeito

 

dos judeus. É para desejar que tanto os cursos de formação doutrinária católica como as

 

celebrações litúrgicas ponham em relevo os elementos comuns a judeus e cristãos. Assim,

 

por exemplo, é preciso lembrar que o Novo Testamento é ininteligível sem o Antigo

 

Testamento; as festas cristãs de Páscoa, Pentecostes e as orações da Liturgia,

 

especialmente os Salmos, têm a sua origem na tradição judaica.

 

8. Não se estabeleça contraste entre judaísmo e cristianismo como se, por exemplo,

 

aquele professasse a Religião do temor , ao passo que este a Religião do amor. Na verdade,

 

encontra-se nos escritos sagrados de Israel a origem das expressões do grande amor entre

 

Deus e os homens, cf. Dt 6,4s; 16-9; Sl 73 e 139; Os 11; Jr 31,2s.19-22; 33,6-9.

 

9. Aliás, convém lembrar que o Senhor Jesus, sua mãe Santíssima, os Apóstolos e as

 

primeiras comunidades cristãs foram da estirpe de Abraão. O cristianismo se radica, pois,

 

na linhagem de Israel.

 

10. Quanto à terra de Israel, faz-se oportuno recordar que o Senhor Deus quis dar a

 

Abraão e à sua descendência, como fruto da promessa, a antiga terra de Canaã, que os

 

judeus habitaram. A ocupação romana e as sucessivas invasões do país de Israel

 

acarretaram duras vicissitudes para o povo disperso entre nações estrangeiras. É de se

 

reconhecer o direito dos judeus a uma existência política tranqüila na sua terra de

 

origem, sem que isto acarrete injustiça ou violência a outros povos. E, para a

 

consciência do povo judeu, este direito se concretiza no Estado de Israel.

 

11. Por último, seja enfatizada a expectativa escatológica que vivifica simultaneamente

 

judeus e cristãos, embora com diferentes características. Uns e outros aguardam a

 

plenitude do Reino de Deus; este, para os cristãos, já começou com a vinda de Jesus

 

Cristo, ao passo que os judeus ainda aguardam o Messias. Como quer que seja, a perspectiva

 

escatológica suscita em judeus e cristãos a consciência de estarem em marcha, à

 

semelhança do povo que saiu do Egito em demanda da terra onde "correriam leite e

 

mel" (Ex 3,8).

 

2. Declaração da I Conferência Pan-americana de Relações Católico-judaicas,

 

(São Paulo, novembro de 1985)

 

I. Histórico

 

1. Realizou-se em São Paulo, de 3 a 5 de novembro de 1985, na sede da Associação

 

Brasileira "Hebraica", a 1ª Conferência Pan-americana de Relações

 

Católico-judaicas, promovida pelo American Jewish Committee (AJC) e pela Conferência

 

Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com 96 participantes convidados, provenientes de

 

diversos países da América do Sul, Central e do Norte, inclusive observadores da Europa.

 

2. A abertura solene da Conferência teve lugar no teatro de "A Hebraica", com

 

o auditório lotado. A solenidade foi coordenada pelo Rabino Henry I. Sobel e Frei Leonardo

 

Martin. Após o Hino Nacional Brasileiro, foram convocadas à mesa diversas autoridades

 

religiosas, políticas e civis, entre as quais

 

Dom Carlo Furno, Núncio Apostólico no Brasil;

 

Mons. Jorge Mejia, do Vaticano, Secretário da Comissão da Santa Sé para as Relações com

 

os Judeus;

 

Mons. Antonio Quarracino, da Argentina, Presidente do Conselho Episcopal Latino-americano

 

(CELAM);

 

Padre Bernard Dupuy, Assessor da Arquidiocese de Paris para as Relações com os Judeus;

 

Dom Eugênio de Araújo Sales, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro;

 

Dom José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília; Dom Cláudio Colling, Arcebispo de Porto

 

Alegre; Dom Benedito de Ulhôa Vieira, Vice-Presidente da CNBB;

 

Dom Aloísio Bohn, da Linha Ecumênica da CNBB;

 

Sr. Rachamim Timor, Embaixador de Israel no Brasil;

 

Sr. Bernard Dorin, Embaixador da França no Brasil; e

 

Sr. Hans Herzberg, Presidente da Congregação Israelita Paulista;

 

além dos oradores abaixo relacionados.

 

Leram-se a seguir os telegramas de Sua Santidade o Papa João Paulo II e do Presidente

 

José Sarney.

 

Tomaram a palavra durante a solenidade:

 

Dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal Arcebispo de São Paulo;

 

o Governador do Estado de São Paulo, André Franco Montoro;

 

Dom José Ivo Lorscheiter, Presidente da CNBB;

 

Rabino Dr. Marc H. Tanenbaum, Diretor de Assuntos Internacionais do AJC; e

 

o Prof. Dr. Fritz Pinkuss, Rabino-Mor Emérito da Congregação Israelita Paulista.

 

O Cardeal Jean-Marie Lustiger, Arcebispo de Paris, proferiu uma palestra sobre o tema

 

"De Auschwitz a Jerusalém: do Desespero à Esperança".

 

O interlúdio musical esteve a cargo do Coral Baccarelli e do Coral da Congregação

 

Israelita Paulista. A solenidade encerrou-se com Hatikvá, o Hino da Esperança do

 

Povo Judeu.

 

3. Na primeira sessão de trabalho, foram apresentadas duas palestras:

 

  1. "Um Observador Judeu no Concílio Vaticano II" (Rabino Dr. Marc H. Tanenbaum, de New York);
  2. "O Impacto de Nostra Aetate na América Latina" (Padre Humberto Porto, da Comissão Nacional de Diálogo Religioso entre Judeus e Católicos e do Conselho de Fraternidade Cristão-judaica de São Paulo).

 

Mons. Antonio Quarracino, Bispo de Avellaneda (Argentina) e Presidente do CELAM, foi o

 

moderador desta sessão, cujo enfoque foi o 20° aniversário da Declaração Nostra

 

Aetate.

 

4. Em seguida, o Embaixador José Oswaldo de Meira Penna falou sobre "A importância

 

da Tradição Judaico-cristã na Formação da Cultura Brasileira".

 

5. Na segunda sessão de trabalho, relataram-se as experiências sobre o relacionamento

 

católico-judaico em diversos países:

 

  1. nos Estados Unidos (Dr. Eugene J. Fisher, de Washington D.C., Secretário Executivo do Departamento de Relações Católico-judaicas da NationaI Conference of Catholic Bishops);
  2. nos meios hispânicos nos Estados Unidos (Padre Carlos Mullins, Diretor de Comunicações do Departamento Pastoral Hispânico da Arquidiocese de New York);
  3. na França (Padre Bernard Dupuy, de Paris);
  4. d) no Brasil (Dr. Hugo Schlesinger, da Comissão Nacional de Diálogo Religioso entre Judeus e Católicos e do Conselho de Fraternidade Cristão-judaica de São Paulo;
  5. no Uruguai (Rabino Daniel Kripper, da Nueva Congregación Israelita e da Confraternidade Judio-Cristiana de Montevidéu);
  6. bem como uma síntese do trabalho católico-judaico na America Latina, apresentada pelo Padre Luis Eduardo Castaño, de Bogotá, Secretário Executivo do CELAM.

 

Os moderadores da sessão foram Dom Aloísio Sinésio Bohn, da CNBB, e Sr. Jacobo

 

Kovadloff de New York, Diretor de Assuntos Sul-americanos do AJC.

 

6. Na terceira e última sessão de trabalho, foram debatidas várias propostas, visando

 

uma Declaração da I Conferência Pan-americana de Relações Católico-judaicas:

 

  1. "Cinco Séculos da Presença Judaica nas Américas" (Dra. Anita Novinsky, Professora de História do Brasil na Universidade de São Paulo);
  2. "Preconceitos" (Frei Félix Neefjes OFM, Assessor de Ecumenismo e Diálogo Religioso da CNBB);
  3. "Direitos Humanos" (Rabino Roberto D. Graetz, da Associação Religiosa Israelita e do Conselho de Fraternidade Cristão-judaica do Rio de Janeiro);
  4. "Liberdade na Bíblia e Libertação" (Padre Wolfgang Grueri SDB, do Conselho de Fraternidade Cristão-judaica de Belo Horizonte);
  5. "Católicos e Judeus: Encarando o Holocausto Juntos" (Sra. Judith Hershcopf Banki, de New York, Diretora-assistente de Assuntos Inter-religiosos do AJC);
  6. "Liberdade Religiosa e Identidade Cultural" (Dom Estêvão Bettencourt OSB, do Conselho de Fraternidade Cristão-judaica do Rio de Janeiro);
  7. "Sionismo não é Racismo" (Dr. Oswaldo Aranha Filho, Brasil).

 

Os moderadores da sessão foram o Prof. Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de

 

Letras, e Dom José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília e Presidente da Seção de

 

Ecumenismo do CELAM.

 

7. As comunicações apresentadas no ato de encerramento foram:

 

  1. "A Patologia do Ódio e a Civilização do Amor" (Dom Avelar Brandão Vilela, Cardeal Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil);
  2. "A CNBB e os Judeus" (Dom Luciano Mendes de Almeida, Secretário Geral da CNBB);
  3. "O Vaticano e os Judeus" (Mons. Jorge Mejia, do Vaticano);
  4. "Os Judeus, a CNBB e o Vaticano" (Rabino Henry I. Sobel, da Congregação Israelita Paulista e Coordenador da I Conferência Pan-americana de Relações Católico-judaicas);
  5. "Católicos e Judeus na Nova República" (Dr. Marco Maciel, Ministro da Educação, Brasil).

 

II. Resoluções

 

Ao final dos trabalhos, a I Conferência Pan-americana de Relações Católico-judaicas

 

adotou as seguintes resoluções:

 

1. Rever e consequentemente divulgar a história da presença, atuação e destino dos

 

judeus na América e no mundo todo, em termos científicos, sem a carga preconceituosa que

 

caracterizou a historiografia até os dias de hoje.

 

2. Opor-se a tudo o que possa dificultar o relacionamento positivo entre judeus e

 

católicos, utilizando todos os meios para um conhecimento mútuo sempre mais profundo e

 

favorecendo experiências participativas na vida de nossas comunidades.

 

3. Continuar colocando a Igreja e a Sinagoga – as comunidades católica e judaica –

 

como centros irradiadores da preservação e consagração definitiva dos Direitos Humanos

 

Universais, louvando sua prática e denunciando a violação dos mesmos.

 

4. Cuidar, na linha da Bíblia, que o nosso diálogo, mais que em meras especulações,

 

se firme na tomada de posição inspirada na fé, junto aos oprimidos, seja qual for sua

 

pertença étnica ou religiosa.

 

5. Estudar juntos, no diálogo de reconciliação, os acontecimentos históricos da Shoá

 

– o Holocausto –, tentativa nazista de destruir o povo judeu na Europa, e suas

 

implicações teológicas. Com este intuito, revisar, desenvolver e implementar currículos

 

educacionais sólidos e equilibrados sobre o Holocausto e suas implicações para os dias de

 

hoje.

 

6. Reafirmar o sagrado princípio da liberdade religiosa, que assegura a todos o direito

 

de fazer , em consciência sincera, sua opção religiosa, princípio de sua identidade

 

cultural, sem coação da parte de qualquer instância, seja estatal, seja particular.

 

7. Reconhecer que o sionismo – como expressão do eterno anseio de libertação do povo

 

judeu e de seu retorno a Sion, terra de suas origens – não está eivado de despotismo ou

 

racismo, mas é sim força motivadora da sobrevivência do povo judeu.

 

10. BIBLIOGRAFIA BÁSICA

 

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11. GLOSSÁRIO

 

ABLUÇÃO – Lavagem ritual. Existem três tipos de lavagem ritual que têm como

 

objetivo a remoção das impurezas, antes das práticas religiosas : a) imersão completa na

 

mikváh; b) lavagem dos pés e das mãos (sacerdotes nos serviços do templo); c)

 

lavagem das mãos, ao levantar-se e antes das orações.

 

ACADEMIAS TALMÚDICAS – Instituições de ensino superior judaico. Podem ser comparadas

 

com as atuais universidades modernas. Além do ensino, eram fontes da legislatura e

 

dogmática.

 

ADIR HU – (Hebr) "O Todo-poderoso": Hino popular cantado durante o Sêder

 

(Ceia de Páscoa) após a leitura da Hagadáh.

 

ADONÁÏ – Um dos nomes de Deus, na Bíblia. Significa "meu Senhor". É

 

plural majestático.

 

ADÔN OLÁM (Hebr) – "Senhor do Universo". Um dos mais conhecidos hinos da

 

liturgia judaica. É cantado em todos os ritos: sefaròdí a ashkenazi.

 

ADOSHÊM – Palavra composta de Adonáï e Ha-shêm, usada na liturgia

 

para evitar a pronúncia do nome divino.

 

AFIQOMAN – Na noite de Pessah ao se dividir a "matsóh"

 

de meio (das três que estão no prato do Sêder) guarda-se o pedaço maior o qual

 

recebe o nome de Afikoman. Este será dividido no fim da refeição como o último

 

pedaço a ser comido na noite.

 

AGADÁH – Hagadáh - Narração. Termo genérico, definindo as partes do Talmud

 

(ciência dos rabinos), que não são do tipo de leis. A Hagadáh consiste em

 

folclore, narrativas, lendas, parábolas, interpretações alegóricas e também abrange

 

todas as ciências, como filosofia, medicina, matemática, astronomia, teologia.

 

ALEINU (Or) – Primeira palavra da oração: "`Aleinu leshabeah"

 

– "Devemos glorificar" ou "Glorificado seja", que encerra o ofício

 

diário, litúrgico. A oração proclama a necessidade de louvar a Deus.

 

ALELUIA (Hebr) – HaLeLUYóH "Glorificai a Deus". Expressão usada no início

 

e no final de certos salmos, na liturgia judaica. A mesma palavra é usada na liturgia

 

cristã.

 

ALFABETO HEBRAICO – O alfabeto hebraico moderno consiste de vinte e duas letras, todas

 

consoantes, tendo algumas também uma função vocálica. Os caracteres são escritos e

 

lidos da direita para esquerda. de modo que as páginas e linhas de livro hebraico começam

 

à direita. Não existe distinção entre as maiúsculas e minúsculas. Todos os caracteres

 

são escritos separadamente.

 

`AL HET (Or) – "sobre pecado". Confissão dos pecados. Reza repetida

 

10 vezes durante o dia de Yôm Kipúr. Ela contém uma lista de erros que se comete

 

na vida diária, seja por orgulho, seja por inveja, por mexericos, por falta de respeito e

 

muitíssimas outras razões.

 

`ALIYÁ H (Hebr) – Subida. Ato de ser chamado à leitura da Torá. Expressão usada nos

 

tempos modernos para a emigração para a Terra Santa.

 

AMÊN – Assim seja. Expressão religiosa usada hoje por quase todas as religiões e por

 

todas as nações. Na Bíblia aparece a palavra 25 vezes. As letras que compõem a palavra

 

Amên em hebraico significam El Mélek Neemán – Deus, Rei Fiel.

 

`AM HA-ÁRETS (Hebr) – "Povo da terra". Expressão bíblica para o povo em

 

geral.

 

`AMIDÁH (Or) – De pé. Principal oração suplicatória da liturgia judaica.

 

Oração composta de 19 bênçãos que se recita em voz baixa e de pé.

 

AMORAÍM – Rabinos que explicaram e comentaram a Mishnáh desde a compilação

 

desta, aproximadamente 200 anos após a Era Comum até a conclusão do Talmud babilônico,

 

no ano 500.

 

`AMUD – Púlpito, onde se reza, durante o ofício religioso. Para os sefaradím,

 

o mesmo que Bimáh.

 

ANJOS – A crença em anjos jamais foi considerada básica ou indispensável ao

 

judaísmo. Hoje, os judeus renunciaram, definitivamente, à crença em anjos, e voltaram ao

 

ponto de vista racionalista de alguns dos filósofos judeus medievais. Os anjos figuram em

 

nossa poesia religiosa e aparecem em algumas das orações, mas eles não constituem assunto

 

de preocupação intelectual ou espiritual.

 

ARAMAICO – Idioma semítico aparentado com o babilônico, assírio e hebraico, usado

 

pelos judeus na Palestina, depois do retorno do exílio da Babilônia (536 a.C.).

 

ARAVÁ (Hebr) – `Aròbóh - Salgueiro. A quarta espécie de vegetação ordenada

 

pela Toráh para ser usada na festa dos Tabernáculos (Lv 23,40). É batida contra o

 

solo como parte do Hoshaná Rabáh.

 

ÁRB`A KANFÔT (Hebr) – Literalmente: Quatro asas. Também chamado Talit

 

Qatan. Veste quadrangular que é usada sob a camisa com franjas (tsitsít)

 

em cada um dos quatro cantos. Deve lembrar ao judeu a obediência aos mandamentos e que Deus

 

está nos quatro cantos do Universo, ou seja, a onipresença divina.

 

AREIVUT (Hebr) – Termo hebraico que determina uma responsabilidade coletiva.

 

ARÔN HAKÔDESH (Bibl) – Tabernáculo em que se guardavam as tábuas da lei mosaica.

 

ASHKENAZÍM – Nome dado aos israelitas procedentes da Alemanha, Norte da França,

 

Europa Central e Oriental.

 

AVEILÍM – Abelím - Enlutados. Consideram-se "enlutados" os membros

 

mais próximos da família da pessoa que acaba de falecer.

 

AVERÁH (Hebr) – `Aberáh - Pecado. Significa desobediência a um mandamento ou

 

violação de uma lei. No Talmud esta palavra é empregada para designar o pecado

 

contra os homens e contra Deus.

 

AVINU MALKEINU (Or) – Abinu Malkênu - "Nosso Pai, Nosso Rei".

 

Oração que começa com estas palavras, proferida em Rôsh Hashanáh, Yôm Kipúr,

 

nos dez dias de penitência e dias de jejum. Invoca a bênção de Deus e pede livrar-nos

 

das guerras, da fome, das doenças, e pede perdão pelos pecados.

 

AVODÁH (Hebr) – `Abodáh - Serviço, oração. Liturgia do "muçaf"

 

de Yôm Kipúr.

 

AZHARÔT – Canções litúrgicas dos 613 mandamentos divinos da Toráh.

 

BA’AL QORÊ – Pessoa encarregada da leitura pública da Toráh, nos ofícios

 

religiosos.

 

BA’AL TESHUBÁH – Termo hebraico que significa "penitente". Segundo

 

o ensino rabínico, o homem que passou pelo ato de sincero e profundo

 

"arrependimento", deve resistir à tentação de voltar ao caminho do mal.

 

BAMIDBAR (Bibl) – O quarto livro da "Lei de Moisés", foi denominado,

 

em hebraico "Bamidbar" (no deserto), pois nele é narrada a

 

história dos israelitas em sua longa permanência no deserto.

 

BAR MITZVÁH – O jovem judeu ao atingir a idade de 13 anos, contados pelo calendário

 

hebraico, converte-se em Bar Mitzváh, ou seja, pela tradução literal,

 

"Sujeito ao Mandamento". Isto significa que a partir desta data está

 

"sujeito", isto é, deve participar e praticar todos os 613 mandamentos divinos,

 

sendo ele mesmo responsável por todos os seus atos.

 

BARUH HA-BA (Hebr) – Textualmente: "Abençoado seja aquele que chega".

 

Saudação de boas vindas. Termo usado para cumprimentar um amigo ou visitante.

 

BEIT DIN – Antigo Tribunal para assuntos religiosos, civis e criminais. Hoje funciona

 

somente como tribunal para decisões rituais e para arbitragem.

 

BEIT HAMIDRASH – Casa de estudo, antigamente anexa às sinagogas, como local de estudos

 

cotidianos dos adultos.

 

BEIT HAMIQDASH – Templo dos israelitas para onde peregrinavam três vezes ao ano, em

 

Jerusalém.

 

BEN (Hebr) – Filho. Figurativamente, pertencente a... Palavra usada em hebraico em

 

combinação com um substantivo para indicar um objetivo, de modo parecido com "ba`al"

 

(senhor) e "ish" (homem).

 

BERAKÁH (Hebr) – pl. "Berakôt" – Bênção de ação

 

de graça. Curta reza, de agradecimento, dirigida a Deus. Todas as "berakot"

 

começam com a frase: "Baruk atá Adonáï..." - "Louvado seja

 

Deus". Estas palavras exprimem a eterna gratidão ao Senhor, e suas infinitas

 

atribuições.

 

BERESHÍT (Bibl) – O primeiro livro do Pentateuco chama-se Gênesis, isto

 

é, "origem" e em hebraico Bereshít, que significa "no

 

princípio". Esses títulos são adequados a um livro que trata da criação do mundo,

 

das origens do gênero humano e da iniciação da história do povo hebreu.

 

BEÇAMIM – Perfume especial (cheiro aromático, em geral de cravos) usado no rito final

 

do sábado (Habdaláh), guardado num estojo (artisticamente feito). Ao sentir

 

o aroma o judeu que se sente triste e abatido ao ver partir o Shabat, deve se sentir

 

revigorado.

 

BIMÁH – Púlpito para a leitura da Toráh, na sinagoga. Os ashkenazím o

 

denominam Amud.

 

BIRKAT HAGOMEL (Or) – "Bênção do benfeitor". Oração que pronuncia a

 

pessoa após a cura de uma enfermidade grave ou após escapar de outro grave perigo. Segundo

 

a tradição rabínica, a pessoa deve expressar o seu agradecimento a Deus, seu benfeitor.

 

BIRKAT HAMAZON (Or) – "Oração que se pronuncia à mesa" depois de cada

 

refeição e principalmente ao fim das Se`udôt, ceias religiosas.

 

BIRKAT KOHANÍM (Or) – "Bênção sacerdotal". Este rito iniciou-se

 

nos serviços de Templo em Jerusalém. Continua nos dias de hoje. A bênção é pronunciada

 

pelos "kohaním" e tornou-se elemento importante na liturgia da sinagoga.

 

B’NAI B’RITH (Hebr) – "Filhos da Aliança". Denominação da

 

instituição de fins fraternais, filantrópicos, éticos e educacionais, fundada em Nova

 

York (1843) e com numerosas "lojas" no mundo inteiro.

 

B"NEI YISRAEL – Denominação do povo hebreu. Tradução literal: "Filhos de

 

Israel". Termo encontrado freqüentemente na Bíblia. Esta denominação é também

 

dada ao grupo de judeus da Índia.

 

B’RIT (Hebr) – Aliança. Entendimento entre Deus e pessoas ou nações. A

 

Bíblia cita diversas alianças.

 

B’RIT MILA (Ri) – Ato de circuncisão onde o menino varão é circuncidado e se

 

incorpora à comunidade. Além de ser uma necessidade higiênica, a prática da circuncisão

 

tem para o israelita sentido religioso muito elevado.

 

CÂNTICO DOS CÂNTICOS – Em hebraico "Shir HaShirím", atribuído ao

 

rei Salomão. Lê-se no Sábado de Pessah.

 

CAVANÁH (Hebr) – Concentração do pensamento durante a reza.

 

CAVOD (Hebr) – Kabôd - Peso. Honra, glória, veneração,

 

consideração.

 

CRIPTO-JUDEUS – Judeus convertidos à força; exercendo ocultamente a sua religião.

 

DARUSH (Hebr) – Prédica, sermão.

 

DAYAN (Hebr) – Juiz. Assessor num tribunal rabínico. Pessoa encarregada de pronunciar

 

a sentença num julgamento.

 

DEUS – É o ente criador, ordenador, mantenedor e Senhor absoluto de todas as coisas.

 

DEVARIM (Bibl) – Debarím - O quinto livro da "Lei de Moisés"

 

denomina-se em hebraico Debarim, o que significa "palavras", pela

 

razão de começar este livro com "Êllèh Hadebarím" (estas são

 

as palavras). Contém a maior parte da religião israelita e sua filosofia.

 

DIÁSPORA (Gr) – A palavra é de origem grega e significa "dispersão".

 

Afirma-se que os judeus do período helenístico empregavam este termo para designar aqueles

 

dos seus correligionários que, tendo se espalhado por nações estrangeiras desde a queda

 

da primeira comunidade, viviam fora do território de Israel. A Setenta traduz expressões

 

que na Bíblia são reportadas comumente com o sentido de terror ou opressão pela palavra

 

"Diáspora" (za`aváh).

 

DIN (Hebr) – Julgamento. Prescrição religiosa. Lei rabínica.

 

DIN TORÁH – Arbitramento, litígio solucionado perante um tribunal rabínico, com

 

arbitragem, de acordo com a legislação judaica.

 

DRUSH (Hebr) – Interpretação dos textos bíblicos e talmúdicos. A palavra Drasháh

 

(sermão) é derivada da mesma raiz.

 

`EDUT (Hebr) – Testemunho; lei; preceito ou ordem.

 

`EITS HAYÍM (Hebr) – Textualmente: árvore de vida; a Toráh é

 

considerada "árvore de vida" para os que nela se asseguram. Especificamente: dois

 

paus de madeira, arredondados nos quais é enrolada a Toráh.

 

ELIYÁHU HANABI (Hebr) – Literalmente: Eliyáhu, o profeta, esperado como o

 

Proclamador da vinda da Era Messiânica. Canção da despedida do Shabat.

 

ELOHIM (Hebr) – Nome genérico de Deus entre os patriarcas. A forma simples é Eloáh.

 

É freqüente na Bíblia o emprego do plural pelo singular.

 

EMET (Hebr) – Verdade

 

EMUNÁH(Hebr) – Fé. No sentido religioso o termo designa a crença na existência de

 

Deus, sem necessidade da sua comprovação científica ou lógica.

 

`EREB (Hebr) – Véspera ou tarde. Período entre o crepúsculo e o aparecimento

 

de três estrelas, no céu, visíveis a olho nu. A palavra é usada em combinação com os

 

nomes dos dias festivos ou do sábado. "`Ereb-Shabbát"– véspera

 

de sábado ou a noite da sexta-feira. "`Ereb-Peçah"–

 

véspera da Páscoa etc.

 

ESCRIBAS – Eram os amanuenses, os notários, os secretários e os intelectuais entre os

 

antigos. Encarregavam-se das edições e das transcrições dos livros, particularmente os

 

sagrados, entre os hebreus.

 

EXILARCA – "Principe do exílio", representante dos judeus que viviam em

 

Babilônia, no século III, reconhecido pelo Estado, com autonomia administrativa e

 

cultural, descendente da casa de Davi.

 

ÊXODO (Bibl) – Segundo livro do Pentateuco.

 

FESTAS DE PEREGRINAÇÃO (Tr) – Peçah, Shabu`ôt e Çukôt

 

chamam-se em hebraico "Shalôsh Regalím" as três dos pés (festas

 

de peregrinação).

 

FILO-SEMITAS – Nome dado aos amigos e defensores do povo judaico. Antônimo do

 

anti-semita.

 

GABAÏ (Hebr) – Funcionário da comunidade (tesoureiro e administrador). Recebia

 

donativos e, durante a Idade Média, os impostos dos membros da comunidade. É uma função

 

de honra desempenhada por membro de destaque da comunidade.

 

GALÚT (Hebr) – Diáspora; dispersão. Nas épocas bíblicas a palavra

 

significava refúgio e ao mesmo tempo proteção dada ao refugiado. Após a destruição do

 

segundo Templo a palavra significa dispersão, ou seja, a situação dos judeus espalhados

 

pelo mundo.

 

GEMATRIA – Procura de explicação na significação do valor numérico das letras do

 

alfabeto hebraico como também a respectiva composição das palavras.

 

GOÊL (Hebr) – Salvador; Redentor, Messias.

 

GUEMARA – Do aramaico "guemar" – aprender, completar. Ampliação

 

talmúdica das Decisões legais da Mishnáh. A Guemara faz parte do Talmud

 

e constitui antiquíssima obra clássica da lei judaica.

 

GUETO – A palavra designa o lugar, rua, bairro, onde os judeus moravam, durante a Idade

 

Média. Durante a ocupação nazista voltou o sistema do "gueto" para os judeus em

 

diversos países europeus.

 

GUIA DOS PERPLEXOS (Fil) – Título da importante obra de Maimônides.

 

HAFTARÁH – Trecho dos Nebiím (Profetas) que se lê em voz alta, na

 

sinagoga, após a leitura da Toráh. O texto da Haftaráh trata geralmente de

 

assunto similar ao texto da Toráh e ao qual corresponde.

 

HAGADÁH (Hebr) – Narração. Livro modesto, mas o mais popular da literatura hebraica,

 

apresenta em forma de antologia um esquema simples e impressionante da origem do judaísmo.

 

Na noite de Seder (véspera de Pessah), cada pai relata a seu filho a

 

história do êxodo.

 

 

HALÁH – pl. halôt – Os dois pães de sábado, em lembrança da

 

porção de maná que os israelitas recolhiam no deserto, na véspera do sábado. Oferenda

 

da massa que o israelita separa para o "Kôhên". Antes de se preparar a hallóh

 

faz-se uma bênção e este mandamento toca principalmente às mulheres.

 

HALAKÁH – pl. halakôt – "Curso". Lei Judaica.

 

Este termo é empregado de duas maneiras, significando ou uma decisão legal específica, ou

 

a totalidade da lei.

 

HALÊL (Or) – "Louvor". Salmos 113-118, incluídos na liturgia judaica, são

 

de louvor.

 

HAMAQÔM (Hebr) – Lugar. Nome de Deus, do Céu e da onipresença divina. Usa-se na

 

liturgia esta expressão para o "lugar sagrado".

 

 

HAMÊTS – Alimentos na base de cereais fermentados que devem ser retirados da casa

 

durante os oito dias da festa do Peçah.

 

HAMMOTSI – Bênção do pão que se faz antes de começar uma refeição.

 

 

HANUKÁH – Festa das Luzes. Significa em hebraico "inauguração".

 

Refere-se neste caso, à inauguração do Templo de Jerusalém, no ano 168 a.C. Durante oito

 

dias acende-se, diariamente uma vela, num candelabro especial (hanukiyáh) e

 

celebra-se alegremente esta festa nos lares.

 

 

HARÔÇET – Um dos símbolos de Peçah. A harôçet é

 

uma mistura de maçãs, nozes, amêndoas, tâmaras ou passas trituradas, cuja cor lembra a

 

do barro que os israelitas eram obrigados a fazer no tempo da escravidão do Egito.

 

HASHÊM (Hebr) – O nome. Designação de Deus, que aparece pela primeira vez na Mishnáh.

 

HASKALÁH – Termo hebraico. Literalmente: inteligência, ilustração, sabedoria.

 

Designa o movimento de renovação do judaísmo iniciado na Alemanha, em meados do século

 

XVIII sob a direção do Mendelson.

 

 

HASSID – Chaçíd - Literalmente "piedoso". Membro ou adepto do movimento

 

"haçídico", de orientação mística, pietista – movimento renovador

 

religioso dos judeus do Leste-Europeu, do século XVIII.

 

HATIQVÁH – Hino nacional do Estado de Israel.

 

HAVDALÁ – Habdaláh – Cerimonia de despedida no dia de Sabbat. A palavra

 

hebraica significa "distinção" entre o sacro e o profano.

 

 

HAZÁN (Ri) – (Hebraico), Cantor. Pessoa que conduz as orações durante o serviço

 

religioso, nas sinagogas.

 

HEBREU – Da raiz da palavra "`ivri" que significa alguém do

 

além-rio (Eufrates). Propriamente a palavra deve ser aplicada somente para os israelitas

 

(judeus) antes do exílio babilônico, no ano 586 a.C. Depois desta data, tornou-se aceito o

 

termo "judeu" (de Judá).

 

 

HÉDÈR (Hebr) – Escola primária. Introdução da criança judia ao estudo do

 

hebraico e da Bíblia.

 

 

HÊRÈM (Hebr) – Excomungar; banir; excluir da congregação judaica.

 

 

HÉSED – Héçèd - Amor. Amor de Deus. Da parte do homem: a

 

obrigação – mitsváh.

 

 

HÔL-HAMMÔÊD (Medianos) – Dias intermediários das festas Péçah e

 

Çukôt, ou seja, semifesta. Nestes dias os trabalhos indispensáveis são

 

permitidos.

 

HOSHA`NÁ (Hebr) – pl. hosha`nôt – Poesia litúrgica que termina com o

 

estribilho: – "hosha`ná" – "Ajuda-nos, ó Deus".

 

"Salva-nos, ó Deus". Reza-se na festa de Sukôt.

 

HOSHA`NA RABÁH (Hebr) – Grande Hoshaná. Sétimo dia do Sukôt.

 

 

HUP`ÁH (Hebr) – Pálio nupcial, sob o qual ficam os noivos durante a cerimônia de

 

casamento.

 

ISRAELI – Yisreêlí - Israelense. Cidadão do Estado de Israel. israelita é uma

 

expressão bíblica; yisreêlí uma expressão cívica.

 

IVRIT – `Ibrít - Língua hebraica.

 

JEJUM – O jejum tem três propósitos distintos, na fé judaica: auto-renúncia, luto e

 

súplica. Além do Yôm Kipúr, diversos jejuns menores são observados pelos

 

ortodoxos, o mais importante dos quais, o Dia das Lamentações, Tish`áh Be‘áb,

 

o nono (dia) no (mês) Ab.

 

KABALÁ – Qabbaláh - Denominação de misticismo judaico. Sistema de magia e

 

pensamento místico, popular entre os judeus, na baixa Idade Média.

 

KADISH (Or) – Qaddísh - Oração na qual são louvadas a santidade de Deus e seu

 

Reino. É rezada em idioma aramaico, exceto o último verso, em diversas partes dos

 

serviços religiosos. Os filhos a rezam por ocasião do enterro, no ano primeiro de luto e

 

nos aniversários do falecimento dos pais. Também parentes próximos rezam-na. Não contém

 

menção da morte.

 

KAFTAN – Qaftán – Capota comprida, preta, usada nos tempos medievais pelos judeus

 

tradicionais, na Europa Oriental. Esta vestimenta conservou-se em certos círculos dos

 

judeus ortodoxos, até os tempos modernos.

 

KALLÁH (Hebr) – Noiva.

 

KASHÊR – Alimentos permitidos pelas leis judaicas, "apropriado para comer,

 

limpo". Excluiu-se da alimentação judaica a carne de determinados animais, cujos

 

parasitas são portadores de enfermidades. Segundo a lei judaica, nenhum animal que haja

 

estado enfermo ou que haja morrido acidentalmente, é "kashêr".

 

KEDUSHÁ – Qedusháh - Consagração. Trecho daquela oração cujo nome deriva

 

da citação do tríplice Qadôsh (Santo), atribuído a Deus.

 

KEHILÁ (Hebr) – Qehilláh – Comunidade coletiva. Congregação.

 

KETUBÁH – Contrato matrimonial judaico, que estabelece as obrigações entre as

 

partes, como também prevê uma penalidade monetária, no caso de divórcio, sendo uma

 

antiga medida para prestigiar os direitos da mulher.

 

KETUBIM (Hebr) – Ketubím - Terceira parte da Bíblia, em

 

termo grego: Hagiógrafos. Abrange os Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos

 

Cânticos, Rute, Livro das Lamentações, Qoélet, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e

 

Crônicas.

 

KIDDÚSH – Cerimônia da benção o vinho, pronunciada na véspera do Shabat

 

(sexta-feira à noite).

 

KINÁ – Qináh - Lamentação. Versos poéticos lidos nos dias de luto. Poesias

 

compostas por diversos poetas sobre o tema da destruição do Templo e outros episódios

 

tristes da história judaica.

 

KIPPÁH (Hebr) – Solidéu. Cobertura da cabeça. Um costume tradicional exige que os

 

judeus cubram a cabeça em todas as ocasiões, especialmente durante a reza, nas reuniões e

 

durante as refeições. Os judeus liberais dispensam esta atitude, conservando somente este

 

costume nas sinagogas e durante as cerimônias religiosas.

 

KOHÊN (Hebr) – pl. Kohaním – Descendentes da família sacerdotal de Aarão.

 

Conforme o espírito da Toráh e do Talmud, os "kohaním"

 

não são seres superiores que dão a sua bênção, porém, o veículo por intermédio do

 

qual, a bênção de Deus desce para o povo.

 

KÓL NIDRÊ (Or) – Todas as promessas. Oração dita na noite de Yôm Kipúr e

 

que dá o nome à véspera deste dia, segundo a qual declara-se que todas as promessas,

 

votos, juramentos etc. que se têm feito forçadamente ou sob coação durante o ano

 

anterior e vindouro em relação a si mesmo, fiquem nulos. Esta oração, teve excepcional

 

importância na época nas perseguições dos marranos do século XV.

 

KOTEL HAMAARAVI – Qôtél Hamma`arabí – O Muro ocidental de Templo de

 

Jerusalém, o único que não foi destruído, e tomou-se o muro das lamentações.

 

LADINO (Ling) – Dialeto-espanhol arcaico falado pelos sefaradim da Grécia, Turquia,

 

Norte da África, Portugal e Espanha, descendentes das comunidades expulsas da Península

 

Ibérica, no século XV.

 

LAG-BA`OMER (Tr) – 33° dia no `Omer. Dia semifestivo que se celebra no

 

trigésimo terceiro dia do mês de `Omer.

 

LAMENTAÇÕES – Parte dos Cinco Rolos (Hamêsh Meguillôt) que fala sobre

 

a queda de Jerusalém e a destruição do Templo (586 a.C.). Esta pequena obra abrange cinco

 

capítulos e a autoria é atribuída a Jeremias.

 

LASHÔN HAR`Á – Falsche Anklage gegen den Ruf, als eine der widerlichsten

 

Sünden angesehen, sowohl in der Bibel als auch in der gesamten rabbinischen Literatur.

 

LEI ORAL (Hebr) – Toráh Shebe`al-pé. Leis não escritas, transmitidas

 

oralmente de geração em geração, que determinam a aplicação das leis bíblicas na vida

 

cotidiana.

 

LEVAYÁH – Ato de acompanhar um morto à sua última morada; ritual para acompanhar a

 

pessoa que vai viajar.

 

LITURGIA – Existem diversos ritos os quais surgiram em diversas épocas e em diversos

 

países. As três principais formas litúrgicas são: Ashkenazí (dos judeus da

 

Europa Central), Çefaradí (dos judeus espanhóis, portugueses, turcos etc.) e Yemenita

 

(parecido com o sefaradí, usado no Oriente). A liturgia básica é dividida em

 

serviços da manhã (Shaharít), da tarde (Minhá) e da

 

noite (Ma`aríb). São usados livros de orações, para dias normais e

 

Sábado: Çidur, e para grandes festas: Mahazôr. As rezas (orações)

 

têm a sua cronologia, mas em diversos ritos têm diferentes e variadas execuções.

 

LUA NOVA – Neumond - O novo mês, do calendário judaico, é determinado pela mudança

 

da lua. O primeiro dia do mês (Rôsh¯hôdesh) é celebrado

 

liturgicamente, e a lua nova anunciada na sinagoga, durante o Shabat que a precede,

 

com uma oração, que contém um pedido de um mês próspero e abençoado.

 

LUAH (Hebr) – Calendário judaico.

 

MA`ARIB (Or) – Prece vespertina. Oração noturna que se reza desde que o céu

 

começa a estrelar-se.

 

MAFTÍR – A última pessoa chamada à Toráh, no Sábado.

 

MAGUÊN DAVÍD (Hebr) – Escudo de Davi. Emblema, distintivo do povo judeu,

 

formado por dois triângulos entrelaçados.

 

MAHAZÔR (Or) – Ciclo ou período. Livro de orações existentes para cada

 

festa, comumente usado para designar o livro de reza de Rosh Hashanáh e Yôm

 

Kipúr.

 

MA`ÔS TSUR (Or) – Hino de Hanukáh.

 

MAROR (Hebr) – Amargo. Nome das ervas amargas, que pertencem à ritual e tradicional

 

mesa do Çêder no primeiro e segundo jantar das festas do Péçah e

 

que lembra a vida amarga dos judeus perseguidos no Egito.

 

MARRANO – Cripto-judeu; aquele que foi forçado, diante da perseguição anti-semita, a

 

encobrir o fato de ser judeu. O termo é etimologicamente difícil de explicar; no

 

português é substituído por "cristão-novo".

 

MA¯TÔBU – Primeiras palavras do versículo de Nm 24,5 que se usam nas

 

primeiras orações de manhã ao entrar na sinagoga.

 

MATSÁH (Tr) – pl. matsôt – Pão ázimo, sem levedura, que se come durante o

 

7 (em Israel) ou os 8 (na Diáspora) dias da Festa de Péçah.

 

MATSÊBÁH (Hebr) – Túmulo. Termo usado em geral; para a cerimônia de

 

inauguração da pedra tumular.

 

MAZZÁL-TÔB (Hebr) – Boa sorte. Forma de felicitação. Expressão com que se

 

felicita alguém por ocasião de algum acontecimento alegre.

 

MEGUILAT ÈSTÊR (Hebr) – Rolo de Èstêr. Relato da Bíblia, que conta a história

 

referente à festa de Purím; com a salvação do povo de Israel por Mòrdòkái

 

e a rainha Èstêr.

 

MÊS – O mês do calendário judaico é composto de 4 semanas. O ano judaico tem 12 e

 

13 meses. O início do mês está ligado à mudança da lua, sendo o calendário judaico

 

baseado no ciclo lunar.

 

MEZUZÁH – Símbolo religioso colocado no lado direito dos umbrais das portas, à

 

entrada. É um pergaminho que contém os dois primeiros parágrafos do Shemá`,

 

enrolado e colocado num estojo, que tem uma abertura ou uma saliência na qual se distingue

 

a palavra "Shadáï", "Todo-poderoso".

 

MIDRÁSH – Interpretação da Bíblia. As compilações midráshicas contêm a

 

literatura rabínica do período talmúdico.

 

MIKVÁ – Miqváh - Banho ritual. A água deve ser de fonte natural ou rio. Há também

 

prescrições referentes à quantidade de água do mikváh. O banho ritual é

 

considerado pelos praticantes como indispensável.

 

MINHÁH(Or) – Prece da tarde, antes do pôr-do-sol.

 

MINHÁG (Hebr) – Costume. O costume ocupa um lugar importante na tradição

 

judaica. Além das leis escritas e orais, certos costumes tornaram-se obrigatórios e fazem

 

parte da vida judaica.

 

MINYÁN – Grupo de 10 homens no mínimo, maiores de 13 anos, que a tradição judaica

 

requer para a realização de qualquer ato religioso de caráter público.

 

MISHLÊI (Hebr) – Livro dos Provérbios.

 

MISHNÁH (Hebr) – Repetição. Código de leis civis e religiosas compiladas mais ou

 

menos em 200 a.C. A Mishnáh constitui a base do Talmud. É um informe das

 

sentenças proferidas por uma linha de analistas e juizes. Abrange um período de quase 400

 

anos. Rabi Judá, o Príncipe, abastado sábio da Palestina, compilou a Mishnáh.

 

MITSVÁH (Hebr) – pl. mitsvôt – Mandamento; preceito religioso.

 

Segundo o Talmud existem 613 preceitos, além dos mandamentos decretados pelos

 

rabinos.

 

MIZRAH (Hebr) – Oriente. Rezando, os judeus se dirigem na direção do oriente,

 

isto é, com rosto e olhos dirigidos para Jerusalém. Também neste sentido estão

 

construídas as sinagogas.

 

MODÊH ANI (Or) – Primeira reza, pronunciada de manhã. "Dou graças perante ti,

 

ó Rei vivo e existente, que devolveste a minha alma com piedade, grande é nossa fé em

 

ti".

 

MOHÊL – Judeu que executa o rito da circuncisão.

 

MUSÁF (Or) – Oração que se acrescenta às preces da manhã dos sábados e festas,

 

correspondente aos sacrifícios suplementares que se faziam nesses dias.

 

NASSI (Hebr) – Príncipe. Título conferido ao presidente do Çanhedrín, que

 

era ao mesmo tempo chefe leigo da comunidade judaica da Palestina.

 

NEDABÁH (Hebr) – Dádiva voluntária.

 

NÊDER (Hebr) – Voto, promessa.

 

NÉFESH (Hebr) – Termo traduzido algumas vezes por vitalidade. Algumas vezes como

 

personalidade. Em Dt 12,23 ela se refere ao sangue que é o que leva a vida através do

 

corpo. Néfesh é uma das cinco palavras que se referem a alma.

 

NE`ILÁH (Hebr) – Fechamento. A última parte do cerimonial de Yôm Kipúr, dia

 

mais importante do ano. Depois de todo um dia de meditação e reza com o entardecer a

 

imagem criada é que as portas dos céus se fecham, daí o nome Ne`ilá, fechamento.

 

NÊR TAMID (Hebr) – Luz eterna. Encontra-se em todas as sinagogas uma luz que é

 

conservada constantemente acesa, simbolizando o fato de que a luz da Toráh brilhará

 

eternamente.

 

NESHAMÁH (Hebr) – Termo traduzido geralmente como respiração ou psique. Esse termo

 

refere-se usualmente à qualidade espiritual do homem, depois que o espirito, a Ru`ah,

 

torna o homem uma Neshamá; um ser psíquico.

 

NESSUÍN (Hebr) – Casamento religioso.

 

NEVIIM – Nebiím - Profetas.

 

PARASHÁ (Hebr) – ou Perashá, pl. parashiyôt – Parágrafo

 

massorético em que se dividem os textos da Toráh; para os sefaradim é a seção

 

semanal que se lê publicamente nas sinagogas nos sábados; o mesmo que "sidráh"

 

para os askenazim.

 

PARÔKET – Cortina que se coloca diante da arca santa, na sinagoga. Véu que

 

separa o lugar da Santidade (Qôdesh) do lugar da Santidade de Santidades (Qôdesh

 

Haqqodashím) no Templo.

 

PASSUL (Hebr) – paçul - Desqualificado, defeituoso. Termo usado para objetos rituais

 

inaceitáveis, por algum motivo.

 

PATRIARCAS – Abraão, Isaac e Jacó – são os três primeiros homens que adoravam a

 

Deus. São os patriarcas do povo judeu.

 

PÉÇAH – Nome hebraico da Páscoa. Celebra-se a lembrança da libertação dos

 

israelitas da escravidão do Egito, que ocorreu no dia 14 do mês hebraico Niçán,

 

aproximadamente 1280 anos a.C.

 

PÉÇEL (Hebr) – Imagem. Não somente a adoração de imagens é proibida pelas leis

 

bíblicas (Ex 20,4; Dt 7,5), mas também a sua confecção.

 

PILPÚL (Hebr) – Debate. Sistema de interpretação. Esclarecimento. Matéria

 

introduzida no séc. XVI nos estudos talmúdicos.

 

PIRQEI ABÔT – "Ética dos pais". Trata-se de pronunciamentos e

 

ditames dos Sábios do Talmud, que nos legaram, sob o nome de "Capítulo dos

 

Pais" um tesouro de valores éticos, do qual o mundo tem-se servido durante dois

 

milênios.

 

PIYUT – Poesia litúrgica, adicionada ao ritual a partir do século VII d.C. Seus

 

compositores são chamados Payyetaním.

 

PURÍM – Festa celebrada no dia 14 de Adar ou Ve-Adar. Comemora um

 

episódio da vida judaica na Pérsia, e sua heroina é Ester, a esposa do rei Ahasvêrus

 

.

 

RABI – Meu mestre. Originariamente o título era aplicado a um doutor da "Mishnáh"

 

ou aos amoraítas da Palestina. Mais tarde passou a significar o chefe espiritual de uma

 

comunidade judaica, ou pessoa erudita nas leis judaicas.

 

RIMONÍM – Jóias de prata que se põem sobre as varas superiores dos rolos da Torá.

 

RÔSH HASHANÁH (Hebr) – Cabeça do ano. Festa do ano judaico, celebrada nos dias l° e

 

2° de Tishri: dias em que segundo a tradição o mundo foi criado. Os outros nomes

 

de Rôsh Hashanáh são: Yôm Hazzikkarôn (dia da lembrança), Yôm

 

Terú`a (dia do toque do shôfár), Yôm Haddín (dia do julgamento).

 

Festa essencialmente religiosa. Celebra-se exclusivamente na sinagoga.

 

RÔSH HÔDESH (Hebr) – Cabeça do mês. Princípio do mês hebraico que se

 

inicia com a lua nova.

 

RÚ`ACH (Hebr) – Termo traduzido geralmente por espirito ou vento. Refere-se ao

 

elemento que possibilita ao homem estar consciente de Deus e comungar com ele.

 

SABRA – Denominação metafórica da nova geração israelense.

 

SACERDOTES – Eram, entre os antigos israelitas, os guardiões do santuário, exercendo

 

aí as funções legais e rituais.

 

SANHEDRÍN – Era o supremo conselho dos judeus. Os judeus da Diáspora diziam Guerusia

 

ou ainda Sinédrio. Eqüivalia ao Senado dos gregos e romanos. Decidia acerca de matéria

 

legal e ritual. Era presidido pelo sumo sacerdote em função.

 

SÊDER (Tr) – Ordem. Programa da cerimônia da Festa de Peçah, no lar,

 

durante as duas primeiras noites.

 

SEFARADÍM – Do hebraico "sefarád" (Espanha). Israelitas procedentes

 

da Espanha, Balcãs, Norte da África etc. e seus descendentes.

 

SÊFER TORÁH – Rolo da Lei; o qual se lê nos sábados, segundas e quintas-feiras e

 

nas festas.

 

SELÁH – "Para sempre". Termo tradicionalmente usado, como bênção e como

 

confirmação do citado.

 

SELIHÔT (Or) – Conjunto de orações de penitência, recitadas em geral

 

de madrugada, na semana anterior ao Ano Novo e aos dias de jejum.

 

SHABBAT (Hebr) – Cessação. Sétimo dia da semana, na cronologia semanal,

 

judaica. Dia santificado. Dia de descanso. Dia dedicado à meditação. O dia da Shabbat

 

é entre as instituições religiosas e sociais a maior conquista do judaísmo. A Shabbat

 

instituiu o princípio segundo o qual o homem tem o direito a seu descanso e à meditação.

 

SHALÔM (Hebr) – Paz. Saudação bíblica empregada entre os israelitas até hoje.

 

SHAMÁSH – Assistente na sinagoga.

 

SHAVUOT – Shabu`ôt - A festa de "Shabu`ôt"

 

é chamada Yôm habbikkurím (dia das primícias) pois neste dia, oferecia-se no

 

Santuário um dos pães feitos do trigo da nova colheita, denominados "shetê

 

haléhem". Os outros nomes desta festa são: Hag haqqatsír (Festa da

 

ceifa), Jôm-matán-Toráh (Dia da entrega da Lei) e Festa das Semanas. Entretanto no

 

Talmud, esta festa é chamada "Atseret" (dia da abstinência de

 

trabalho).

 

SHLOSHÍM – Os primeiros 30 dias de luto que guardam os "abelím"

 

após o falecimento de um parente próximo.

 

SHEM`Á – ou Qeriat-shem`á – Principal oração judaica, considerada

 

como a expressão clássica do monoteísmo e a proclamação de fé dos israelitas.

 

SHEMINI `ATSÉRET (Tr) – Oitavo dia de festa de Çukôt.

 

SHEMITTÁH (Hebr) – Ano sabático. Todo sétimo ano desde o ano da criação do mundo,

 

é um ano sabático, durante o qual a terra devia estar em repouso. Os produtos que cresciam

 

espontaneamente no campo, eram socializados e pertenciam a todos: ao servo, empregado,

 

estrangeiro e mesmo ao gado e aos animais selvagens da terra.

 

SHEMONÉH-`ESRÊ (Or) – Oração das dezoito bênçãos. Chamada também "Grande

 

oração", parte integrante de todos os períodos de oração, com textos iniciais e

 

finais fixos.

 

SHEMÔT (Bibl) – O segundo livro do Pentateuco chama-se em hebraico "Shemôt"

 

(Nomes) e em grego "Êxodo" (Saída), pois um dos principais acontecimentos nele

 

narrado, é a saída do povo de Israel do Egito.

 

SHEVÁ BERAKOT – Sheba` Berakôt - Sete bênçãos

 

que se recitam com o segundo copo, durante a cerimônia nupcial israelita.

 

SHIVÁ (Ri) – Shib`áh - Durante 7 dias os enlutados usam cadeiras baixas para

 

sentar-se, como demonstração do seu pesar. O Sábado e as Festas interrompem o luto.

 

Durante estes sete dias os enlutados s-uspendem suas ocupações habituais e dedicam todos

 

os seus pensamentos ao desaparecido membro da família.

 

SHOHÊT – Pessoa entendida no ritual de matança de animais (shehitáh

 

– abate) conforme a lei judaica.

 

SHOFAR – Trombeta feita com chifre de carneiro que se toca sobretudo no Ano Novo

 

judaico (Rosh Hashanáh) e no Dia da Expiação (Yôm Kipúr).

 

SHULEHÁN `ARUK (Hebr) – "Mesa posta". Título mais popular da

 

compilação das leis rabínicas em forma de código. Foi escrito por Yosef Karo (m. 1575).

 

A primeira edição apareceu em Veneza em 1565.

 

SIDRÁ – Çidráh - Seção semanal na Toráh que se lê publicamente aos

 

sábados, na sinagoga. O mesmo que "parashá" para os sefaradim.

 

SIMHÁH (Hebr) – Alegria. Também considerada "alegria santa". Festa.

 

Satisfação pelo cumprimento de um dever humano ou religioso.

 

SIMHAT-TÔRÁH (Tr) – Último dia da festa de Sukkôt. Significa

 

alegria da Torá, pela solenidade festiva de terminar a leitura da última sidrá

 

da Torá e do começo de um ciclo novo com a leitura de uma parte da sidrá de

 

"Berêshít".

 

SINAGOGA (Gr) – Textualmente: convocação ou assembléia. Palavra de origem grega.

 

Lugar onde se celebra o culto religioso israelita. Templo. Casa de Deus.

 

SIONISMO – Tsiyyônút - Tsiyyôniyút - Aspiração milenar judaica,

 

desde o exílio babi1ônico, de retomar a Éretz Yisraêl. A espera messiânica,

 

traduzida na liturgia e nas prédicas religiosas, transformou-se num movimento prático e

 

espiritual, com a publicação do "Estado Judeu" por Theodor Hertzl (1896),

 

assumindo uma feição política no primeiro congresso sionista mundial, realizado em

 

Basiléia em 1897, que proclamou o direito do povo judeu de reconstruir sua vida nacional na

 

sua própria casa.

 

SÔFRÍM – Escribas. Sábios, tradutores da Lei Escrita, para o aramaico, língua

 

popular internacional do Oriente. Este tipo de tradução, feito na época do helenismo, é

 

conhecido como "targum" (versão).

 

SUKÔT – Festa das cabanas. Celebra-se, habitando durante 8 dias em cabanas em

 

que os israelitas viveram desde a saída do Egito até a conquista da Palestina. Chamou-se

 

também de Hag-Haasíf (Festa da colheita) ou simplesmente Hag.

 

Principalmente Sukkôt era uma festa agrícola, rural. Sukkôt marcava o final

 

da colheita da fruta. Era também a festa de peregrinação.

 

TA`ANYÔT (Hebr) – Dias de Jejum.

 

TAHANÚN (Or) – Súplica. Após a grande oração de Shaharít

 

e de Minháh rezam geralmente o Tahanún (súplicas pelo perdão

 

divino). Esta prece geralmente fica omitida nos dias da Shabbát, Festas e

 

dias Semi-festivos.

 

TAHARÁH – Ação de lavar o corpo do defunto antes de ser envolvido na mortalha.

 

TALLÍT – Manto ritual. Geralmente o judeu se cobre com este manto especial,

 

durante as orações matinais. A tallít é um pano retangular de lã ou seda,

 

com listas negras ou azuis perto das suas bordas menores. Das quatro pontas pendem franjas

 

de lã ou de seda, "tzitzít". A tallít expressa a

 

idéia de nos revestirmos de espírito de santidade para executar os preceitos divinos e

 

recordar que não devemos andar atrás dos impulsos maus do nosso coração nem de tudo o

 

que os nossos olhos vêem.

 

TALMUD – Significa literalmente: Estudo. Contém os trabalhos mentais, opiniões e

 

ensinamentos dos antigos sábios judeus, expondo e desenvolvendo as leis religiosas e civis

 

da Bíblia, durante um período de cerca de 8 séculos (desde o ano 300 a.C. até o ano 500

 

d.C.). O Talmud inclui dois diferentes elementos: a Halakáh (lei) e a Haggadáh

 

(narração).

 

TALMUD TORÁH – Textualmente : "Estudo da Toráh". Escolas primárias,

 

nos centros judaicos, que ensinavam aos jovens desde o alfabeto hebraico até os valores

 

filosóficos da religião e cultura judaica.

 

TANAK (Hebr) – Bíblia. Segundo a tradição judaica, a Bíblia se compõe da: Toráh

 

(cinco livros sagrados), Nebiím (Profetas) e Ketubím

 

(Hagiógrafos). Dai surge o nome Tanak, formado pelas letras iniciais das

 

três partes de que se compõe a Bíblia.

 

TEAMÍM – Sinais tradicionais que se encontram nas letras hebraicas da Bíblia e que

 

servem de acentos, pontuação e notas musicais.

 

TEFILÁH – As principais orações diárias dos israelitas são Tefillat-shaharít

 

(oração da manhã); Tefilat-minháh (oração da tarde); Tefillat-arbít

 

(oração da noite). Podemos também classificar as orações, do ponto de vista do seu

 

conteúdo. Tornou-se hábito no judaísmo ao rezar, de nos aproximarmos de Deus,

 

principalmente com palavras de louvor e de adoração.

 

TEFILÍM – Filactérios. Duas caixinhas de couro que contém quatro trechos do

 

Pentateuco, que durante as orações matinais, exceto aos sábados e dias festivos, os

 

judeus usam geralmente a partir dos 13 anos. Os dois tefilím simbolizam também os

 

dois princípios da vida humana, teórica e prática, isto é: pensamento e ação. O da

 

mão acrescenta também o sentimento.

 

TEHIAT HAMETIM – Tehiyyát Hammetím - Ressurreição dos mortos.

 

TEHILLÍM (Hebr) – Salmos. Existem 150 salmos, subdivididos em cinco livros, que

 

começam respectivamente pelos salmos 1, 42, 78, 90 e 107.

 

TEIVÁ – Têbáh - Púlpito para a leitura da Toráh na sinagoga. Para os

 

sefaradím o mesmo que Bimáh e `Ammúd dos ashkenazím.

 

TESHUBÁH (Hebr) – Arrependimento. Na terminologia judaica, significa a não

 

repetição do mal, e a vontade de expiar o pecado. O que é ordenado aos judeus fazer

 

sempre, e especialmente desde Rôsh Hashanáh até Yôm Kipúr.

 

TISH`ÁH BE AB – Dia 9 o mês de Ab. Dia da destruição do

 

primeiro e segundo Templo em épocas diferentes. Dia de jejum.

 

TORÁH (Hebr) – Ensinamento da Lei. Especialmente os "Cinco Livros de

 

Moisés". O termo serve freqüentemente para toda a lei judaica. Chama-se também em

 

hebraico: Humásh, Hamishá e Humashé Torá.

 

TSADÍQ (Hebr) – pl. tsadiqím – Justo, piedoso, virtuoso. Termo usado para o

 

rabino hassídico ao qual se atribui o poder de fazer milagres, conforme a crença de

 

um grupo de judeus, chamados haçidím.

 

TSEDAQÁH (Hebr) – Caridade. Na concepção filosófica de Maimônides, a

 

caridade judaica consiste em antecipar o auxilio ao seu semelhante, evitando que o mesmo

 

necessite estender a mão em busca do arrimo.

 

TSITSÍT – Franjas da tallít, que são fixadas em obediência às

 

prescrições bíblicas.

 

VAYYIQRÁ (Bibl) – O terceiro livro do Pentateuco chama-se "Vayyiqrá"

 

(e chamou), palavra com a qual começa este livro. Entretanto na linguagem talmúdica,

 

denomina-se "Sêfer Torat Kohaním" (livro da lei dos sacerdotes). A

 

"Versão dos Setenta" deu-lhe o título de Levítico.

 

VIDDÚY (Or) – Confissão dirigida diretamente a Deus. Reza do agonizante que termina

 

com o Shem`á.

 

YAD (Hebr) – Literalmente: Mão. Indicador, feito de metal, em forma de mão com

 

dedo indicador, que serve para guiar e apontar as palavras, durante a leitura da Toráh.

 

YAMIM NORAÍM (Hebr) – Dias Terríveis. Rôsh Hashanáh, dia do Ano Novo, e Yôm

 

Kipúr, dia do Perdão, são as duas festas austeras, do ano judaico.

 

YAMIM TOBÍM (Hebr) – Dias Bons. Festas. Datas nacionais de Israel, que exprimem

 

a sua união com Deus e sua obrigação de servi-lo. Estas comemorações são de duas

 

espécies: alegres e austeras. Nestes dias não é permitido fazer nenhum trabalho.

 

YESHIBÁH (Hebr) – Escola tradicional judaica, dedicada ao estudo da literatura

 

rabínica e talmúdica.

 

YIDISH – Do alemão "jüdisch", significando judaico. O idioma dos judeus do

 

este da Europa; é alemão com a mistura do eslavo e hebraico.

 

YISHÚB (Hebr) – Coletividade.

 

YIZKÔR (Or) – Oração em memória dos mortos, rezada pelos askhenazím em quatro

 

ocasiões: no Yôm Kipúr, em Shemini Atzeret, no último dia de Peçah

 

e no segundo dia de Shabt.

 

YÔM HA`ATZMAÚT (Hebr) – Dia da Independência. Dia 5 do Iyyar de 5708

 

(14 de maio de 1948) foi proclamado o novo Estado de Israel.

 

YÔM HAZIKKARÔN – Dia da Lembrança.

 

YÔM KIPÚR – Dia do Perdão. Festa máxima dos judeus. Vinte e quatro horas de jejum

 

completo, onde o judeu faz penitência, se purifica de seus pecados e reza a Deus.

 

YÔM TÔB (Hebr) – Bom dia. Termo hebraico para festa (religiosa).

 

YOBÊL (Hebr) – Ano de jubileu.

 

ZEMIRÔT (Tr) – Cânticos; para os sefaradím significam os primeiros salmos da

 

liturgia matutina. Para os ashkenazím são os cânticos de sábado.

 

ZOHÁR (Hebr) – Fulgor. Titulo do trabalho cabalístico atribuído a Rabi Shimon Ben

 

Yoray e introduzido na Espanha por Moisés de Leon, no décimo terceiro século.